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Problemas reais dos brasileiros são novamente jogados de escanteio por pauta de costumes

As eleições de 2022 vão ser mais propositivas e menos agressivas.


Com dois candidatos já testados como presidente, a disputa será pautada sobre aspectos da economia: o que deu certo e o que não deu, o que era o país entre 2003 e 2016 e o que foi entre 2019 e agora.


O eleitor, afinal, não quer saber de guerra cultural ou pauta de costumes. Quer discutir como vai almoçar e jantar no ano que vem.


Isso era o que muitos diziam em meados de 2021, mas não foi bem isso o que aconteceu. A previsão, inclusive deste colunista, era só um pensamento desejoso.


Esse pensamento via na eleição de 2018 um acidente histórico, um momento único em que todos os partidos tradicionais estavam em crise e em xeque pela Lava Jato e o único candidato que se mostrou apto a conquistar o voto do eleitor assustado e, com razão, indignado era um farsante que vestiu o figurino da antipolítica e se adiantou, melhor que os rivais, a uma guerra que seria travada nas trincheiras digitais.


A aposta era a seguinte: em quatro anos, a ficha desse eleitor sobre os perigos de escolher um incendiário cairiam, os partidos tradicionais se reestruturariam e se preparariam melhor para a comunicação em tempos digitais. A consciência viria praticamente por lei da gravidade: bastava ver o que o tal outsider despreparado era capaz de fazer em momentos graves, como a pandemia.


De novo era um pensamento desejoso.


Quatro anos se passaram desde que Jair Bolsonaro foi eleito com ajuda de falsos kit gay e mamadeiras fálicas. O Tribunal Superior Eleitoral entendeu o que aconteceu ali e se vacinou para as novas versões das correntes espanta-eleitor. Certo?


Mais ou menos.


Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, afirmou (na verdade, COMEMOROU) que o debate central da campanha, a economia, foi escanteada pela velha e péssima guerra cultural.


“O tema dessa campanha não é economia, são os temas propostos por Bolsonaro, defendidos por ele, o que significa uma evidência a mais que o presidente venceu o debate desta eleição”, disse o ministro.


Ele tem razão em parte. A economia ficou à margem não porque ela vai bem, obrigado. Ela segue um arremedo e a conta da gastança para eleger o presidente virá mais dia, menos dia.


Se pouca gente está discutindo isso é porque as medidas econômicas com viés eleitoreiro funcionaram como sonífero enquanto a máquina extraoficial está em campo para trabalhar os medos mais primitivos do eleitor: os riscos a um modo de vida representado por um candidato que não consegue sair das cordas de acusações infundadas sobre perseguição a cristãos e os valores da família surrupiados, também para fins eleitorais, pelo campo bolsonarista.


Lula (PT), então, se vê obrigado a desistir de forçar uma comparação sobre os dois governos, baseados em índices econômicos favoráveis a ele, para pedir clemência a religiosos e eleitores assustados em disputa. Foi o que ele fez em sua carta tardia aos evangélicos nesta semana.


Bolsonaro é mestre em conduzir a conversa para esse lado pedregoso do terreno onde já tem calo nos pés e nas mãos.


A eleição se torna assim uma eleição sobre fantasmas e hologramas apresentados na campanha. Perdemos todos.


Fonte/ Portal Yahoo.com


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