Passados três meses da trágica morte da enfermeira Yasmili Araújo, de 23 anos, que caiu de uma altura de 15 a 20 metros no dia 2 de julho deste ano, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte e responsabilizou criminalmente o responsável pela montagem da tirolesa, de onde a jovem caiu.
A tirolesa foi montada no parque aquático Piracema Park Club, em Rio Branco, para um evento naquele fim de semana, que incluía Cavalgada e atrações musicais. Os bombeiros, na época, confirmaram que o espaço não tinha autorização para ter a estrutura, que foi montada em 24 horas.
O inquérito para apurar o caso foi aberto dia após a morte da jovem e agora concluído. O delegado Alex Danny Tavares, responsável pelas investigações, disse que o responsável por montar a tirolesa foi indiciado por homicídio doloso.
“Estamos enviando hoje [segunda,10] o inquérito ao Judiciário já com o relatório e indiciamento de uma pessoa sendo responsabilizada pela morte direta da vítima. Com relação ao nome do autor, a gente preserva, porque é um direito dele. Ele foi indiciado como autor direto de um homicídio doloso, com dolo eventual, pela grande quantidade de detalhes no sentido da ausência do cuidado com aquele equipamento que estava completamente irregular, fora das normas, dos padrões exigidos para seu funcionamento”, disse.
Já com relação aos donos do parque aquático, o delegado informou que não foi confirmada no inquérito nenhuma participação com relação à morte dela. Porém, destacou que na área Cível, eles podem ser responsabilizados, de acordo com o entendimento do Ministério Público do Estadual (MP-AC).
A defesa do estabelecimento, feita pelo advogado Alessandro Callil, informou que ainda vai se informar do inquérito e deve se posicionar em seguida.
“Identificamos que eles não teriam responsabilidade objetiva criminal direta sobre o evento morte, contudo sobre a parte Cível, com relação a eventuais danos morais, materiais, pela perda da vítima, porque foi uma vida que foi embora, aí é uma situação que tem que ser discutida na área Cível”, ´pontua.
Laudo falso em 2019
O delegado destacou ainda que foi comprovado que a montagem da tirolesa não atendia aos requisitos mínimos para funcionamento. “Completamente irregular, não atendia os mínimos requisitos para estar funcionando.”
Ele destacou ainda que os responsáveis pelo evento solicitaram a fiscalização dentro do prazo estabelecido. O dono do equipamento, inclusive, disse à polícia que a mesma estrutura havia sido usada na Expoacre de 2019 e que na época foi apresentado um laudo atestando a autorização para a montagem, porém, o documento era falso, segundo o delegado.
“Acrescento ainda com relação à responsabilidade desse autor que, quando nos informaram que esse aparelho foi usado em 2019 e ele nos apresentou esse documento técnico para 2019, descobrimos que é um documento falso. Foi instaurado um outro inquérito à parte para a gente investigar o uso do documento falso, para saber de onde partiu esse documento que dava suposto embasamento para o funcionamento da tirolesa naquele ano”, disse.
O delegado ressaltou que os bombeiros fizeram a fiscalização, mas que a tirolesa não estava montada completamente e que, por isso, não houve vistoria.
“Os andaimes, aquela parte metálica que forma a base da tirolesa, já estava montada ao tempo da fiscalização que o bombeiro foi ao local, isso é o que mostra as câmeras de segurança do local. Contudo, a gente entende a estrutura completa, como a parte do andaime, a parte de sustentação do equipamento, o cabo de aço, e na fiscalização aquele equipamento não estava montado por completo.”
Família
Ao g1, o tio da vítima, Sandro Araújo, disse, em julho deste ano, que houve negligência por parte do parque ao montar um estrutura sem autorização do Corpo de Bombeiros.
Para Sandro, não há dúvida de que houve negligência por parte do estabelecimento, uma vez que não tinha autorização para a atração. “Tinha um buraco bem no meio da plataforma. Eles montaram após os bombeiros fazerem a vistoria. Ela não caiu da escada, porque a escada tem um alçapão e um vídeo antes do acidente dá pra ver que ela já estava na base”, contou.
Já nesta segunda-feira (10), após saber da conclusão do inquérito, Araújo reforçou que o estabelecimento tem sua parcela de culpa.
“Nós queríamos saber quem realmente foi o culpado, porém eu creio que não foi só o dono da tirolesa, o contratante ele tem sua parcela de culpa por ter aceitado a estrutura irregular, porque não tinha documento de nada, e, mesmo assim, ele autorizou o funcionamento. O contratante também porque ele foi conivente para que a tirolesa funcionasse sem autorização do Corpo de Bombeiros. Mas, vamos esperar mais para frente, o que vai acontecer”, disse.
A jovem, recém formada em enfermagem, tinha ido ao evento com o namorado. Na versão da família, Yasmili subiu na estrutura sem proteção, pisou em um buraco que havia no topo da tirolesa e caiu. Ela sofreu diversas fraturas pelo corpo e recebeu atendimento de uma equipe do Corpo de Bombeiros que estava no local.
Local não tinha autorização para tirolesa
O diretor de atividades técnicas do Corpo de Bombeiros, tenente Eurico Fernando, contou ao g1 na semana do acidente que o parque não tinha autorização para tirolesa. Segundo ele, a http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração do espaço estava com certificado válido para a Cavalgada e show.
Inclusive, ele conta que uma equipe dos bombeiros esteve no local fazendo uma inspeção ainda na manhã de sexta-feira, dia 1º de julho, e não tinha qualquer indício de uma estrutura de tirolesa.
“O local tinha certificado de aprovação válido, no entanto, a montagem da tirolesa foi de última hora. Tínhamos uma guarnição específica que estava trabalhando na guarnição do evento , estavam trabalhando com atendimento pré-hospitalar, eles que fizeram os primeiros atendimentos. O local é certificado, mas no projeto aprovado pela gente no setor técnico, não existe qualquer previsão de uma estrutura pré-montada como a tirolesa, estrutura de esportes precisam ter um documento assinado por um engenheiro, o que o local não possui”, disse na época.
Os funcionários alegaram ainda que a tirolesa foi finalizada ainda na manhã de sábado sem conhecimento dos bombeiros.
“Foi montada de última hora, ficou pronta na manhã do dia 2. Eles fizeram muito rápido, possivelmente essa pressa na montagem dessa estrutura é fator preponderante para tentar explicar o que aconteceu”, destaca.
Fonte: G1AC