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Evangélicos que votam em Lula relatam forte pressão “Só volto para igreja depois do segundo turno”

Foto: AFP - ANDRE BORGES

Não é novidade que líderes evangélicos atuem em campanhas para tentar orientar o voto de seus seguidores. Mas este ano a pressão em prol de Jair Bolsonaro tem sido tamanha que surpreendeu até integrantes fiéis de algumas igrejas


Raquel Miura, correspondente de RFI em Brasília


“Só volto para igreja depois do segundo turno”. Numa mistura de revolta e satisfação, a servidora Ana Santos disse à RFI que decidiu dar um tempo dos cultos e demais atividades da igreja que frequenta em Brasília durante a campanha. Evangélica e lulista, ela disse que já não eram apenas discussões, mas uma pressão muito grande de cima para baixo e também dos colegas de igreja que poderia ter “consequências físicas indesejáveis” se ela continuasse por lá no período eleitoral.


“É dolorido e de certa forma revoltante ter de abrir mão, ainda que temporariamente, de algo que é muito importante para mim, como estar presente nas celebrações. A fé não muda, isso continua comigo, sempre. Mas digo também que é muito bom saber que penso por mim mesma, que meu voto construí com meus parâmetros”, falou Santos sobre os sentimentos dúbios que a acompanham nesses dias.


O trabalho de bispos e pastores para que seus fiéis votem em Jair Bolsonaro (PL) tem surtido efeito, segundo as pesquisas. Ele lidera nesse segmento, com 66% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha. Na outra ponta, para quem é evangélico e se decidiu por Lula, o resultado dessa junção – política e religião – não tem sido fácil.


Ao contrário de Ana Santos, que encontra respaldo dentro de casa porque a família toda vota em Lula, Hadassa Karini, de Curitiba, tem sofrido pressão nos cultos e também dentro de casa.


“Está sendo muito difícil, difícil mesmo. Todo mundo na minha família é evangélica e todos seguem o que o pastor orienta. Só eu decidi não votar em Bolsonaro. Então as conversas em casa são complicadíssimas. Meu irmão veio me questionar esses dias, como já tinha feito o pastor, que, se praticamente todos os líderes cristãos evangélicos estão com Bolsonaro, quem sou eu para discordar?”.


“Não sei se me sinto mais à vontade em frequentar”


Karini está pensando se continuará frequentando a igreja, qualquer que seja o presidente eleito no próximo dia 30, pois teme que o clima continue pesado. Além disso, ela diz que hoje já lhe é negada uma participação mais ativa nas tarefas religiosas. “A igreja está completamente voltada para o discurso bolsonarista conservador. Eu não fui impedida de entrar, mas não tenho voz ali dentro, não ocupo qualquer função mais ativa nas células da igreja nem nos cultos. Sou uma mera observadora, sem participação, sem liderança. Uma ovelha desgarrada e sem utilidade”.


Outro evangélico que conversou com a RFI, João de Souza, do Maranhão, deixou a igreja e está num momento de reflexão. “A gente tem uma fé baseada nos princípios de Jesus, do que ele pregava, no amor que ele espalhava. Continuo firme nisso. Mas aí quem está à frente da igreja querer influenciar como a gente deve votar? E não é só uma orientação e pronto, para cada um pensar em casa. Muitos fiéis ficam fazendo pressão. Não sei se me sinto mais à vontade em frequentar”.


Souza disse que os grupos de WhatsApp são bombardeados de informações repassadas por pessoas da igreja que acabam convencendo os fiéis. “Falam de tudo, até que vão fechar as igrejas se determinado candidato vencer. Há grupos em que os líderes que http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistram impedem que os participantes deem opinião. Só eles que podem encaminhar mensagens”.


Entre os católicos a tensão também subiu, com eleitores interrompendo missas e até acusando de comunistas sacerdotes que usam a tradicional vestimenta vermelha.


Fonte: RFI


 


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