Estudo diz, mulheres fingem orgasmo por insegurança e preocupação com parceiro

Foto: Pixabay

Mulheres que têm dificuldade para chegar ao clímax no sexo fingem orgasmo com mais frequência. A conclusão, confirmada por um estudo, pode parecer óbvia, mas os pesquisadores foram além e tentaram entender quais são os motivos por trás disso.


Segundo o trabalho científico, publicado no periódico Sexual Medicine, da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, são dois motivos principais que levam mulheres a fingirem terem tido um orgasmo mesmo quando não chegaram lá: o medo de abalarem a autoestima do parceiro e a insegurança de passarem a impressão de que há algo errado com elas.


Os autores do artigo são cientistas do Instituto de Psicologia da universidade Eötvös Lorand, em Budapeste, e da universidade de Valparaíso, no estado de Indiana, nos EUA. Eles aplicaram com 2.200 mulheres um questionário online com perguntas sobre dados demográficos e médicos e histórico sexual, sobretudo com relação ao orgasmo.


Foram selecionadas 360 mulheres heterossexuais e cisgênero, que já haviam se masturbado alguma vez, estavam em um relacionamento com sexo e admitiram já ter fingido ter orgasmo em algum momento da vida. Elas tinham uma média de 32 anos de idade e de sete anos de duração do relacionamento.


Segundo estimativas, de 30% a 75% das mulheres já fingiram orgasmo ao longo da vida, e esse índice aumenta no caso daquelas mais jovens. Os pesquisadores se surpreenderam, porém, com o fato de isso acontecer mesmo em relações longas. “Esse padrão de fingir orgasmo pode ser esperado em relacionamentos de curto prazo ou em estágio inicial, mas ficamos bastante surpresos ao encontrar esse padrão em mulheres em relacionamentos contínuos”, dizem os autores do artigo.


A análise das respostas mostrou que quanto mais dificuldade as mulheres tinham em sentir orgasmo, mais elas fingiam, e também que as duas maiores motivações para esse comportamento eram o medo de ferir a autoestima do parceiro e a insegurança de serem consideradas anormais ou disfuncionais – especialmente esta última.


As conclusões não surpreendem a ginecologista Carolina Ambrogini, especialista em sexualidade feminina e coordenadora do Centro de Sexualidade Feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A médica explica que fatores como ansiedade, o julgamento do outro e a expectativa de uma grande performance atrapalham a relação íntima. Corroborando isto, o estudo destacou que um dos motivos para uma pessoa fingir orgasmo é a insegurança com relação ao corpo e à performance.


“As pessoas acham que sexo é uma coisa natural e tem que ser performática. Mas ninguém nasce sabendo. Na nossa sociedade, o orgasmo é a prova concreta de que o sexo foi bom, mas a principal razão pelo qual as pessoas transam deveria ser a conexão uma com a outra.” Observa a ginecologista Carolina Ambrogini.


A ginecologista Teresa Embiruçu, especialista em sexualidade humana e membro do Coletivo Ser – Sexualidade e Saúde, conta que, em seu consultório, ainda vê mulheres que nunca pegaram um espelho para observar a própria vulva. “A região íntima ainda hoje é mais conhecida pela depiladora, pela parceria sexual e pelo ginecologista“, brinca Teresa.


Outro fator que leva a fingir o orgasmo, de acordo com o estudo, é a insatisfação com o relacionamento. “É muito comum a gente ver a dinâmica do relacionamento impactar a satisfação sexual“, aponta Embiruçu. A saída escolhida por muitas mulheres é fingir que está tudo bem no sexo e na relação, para evitar conversas indesejadas e a exposição de falhas.


Papel do machismo


De acordo com as especialistas ouvidas pela reportagem, o machismo e o conservadorismo têm um papel significativo nesse resultado, não apenas por julgar de forma negativa as mulheres que buscam conhecer seus corpos e ter uma vida sexual ativa, mas também por legar aos homens a responsabilidade pelo orgasmo da parceira.


A crítica à performance de um parceiro fere o ego masculino. “Como é que você vai dizer que não está gostando?“, questiona Embiruçu. “A pessoa cresce achando que sabe, que domina e que a mulher tem que gozar apenas com o pênis. Se isso não acontecer ainda tem que ouvir que é diferente das outras e que tem um problema.“


“O machismo não gosta que a mulher saiba mais sobre o corpo e defende que este não deve ser um comportamento de mulher direita. Entretanto, com o feminismo e uma maior conscientização, esta realidade está mudando. Temos falado mais sobre isso” afirma Carolina Ambrogini.


O caminho do orgasmo


Para quem gostaria de deixar de fingir orgasmo, a indicação é autoconhecimento e, dependendo do caso, terapia sexual. Além disso, a comunicação tem um papel importante nesta mudança.


“Para conseguir um orgasmo é preciso que a mulher seja livre para seguir seu desejo e seu tesão. Quanto mais presas e tolhidas somos pela reação do outro, mais dificuldade teremos de que o orgasmo se manifeste livremente”. Orienta Ambrogini, da Unifesp.


Deixar de lado a performance e focar nas sensações é a recomendação de Teresa Embiruçu. “A corrida pela performance sexual atrapalha e tira o foco do cheiro da pele, do toque e de tudo o que está acontecendo ali“, finalizou.


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