Um filme com temática infantil, com brincadeiras tradicionais muito comuns nas periferias das cidades amazônicas, e tendo como pano de fundo a capital Rio Branco.
Este é o curta-metragem acreano “Cabeça de vento”, com duração de 11 minutos, que foi lançado no último dia 9 de outubro, um pouco antes do Dia das Crianças, comemorado nesta quarta-feira, 12.
Com elenco todo infantil, com meninos e meninas com idades entre 8 a 12 anos e apenas um adolescente de 16, sendo a maioria da Baixada da Sobral, a participação no curta-metragem acabou se tornando um grande incentivo para eles, que vivem uma realidade difícil.
O filme se passa na década de 80, com ambientação, principalmente, no Bairro Taquari e APA do Amapá, e mostra estas brincadeiras que são comuns daquele período: papagaio/pepeta, peteca, brincadeira da manja, peão.
“A gente fez uma pesquisa de locação, e conseguimos achar, aqui em Rio Branco, muitos locais parecidos com os da década de 80, época em que passou por uma ocupação por seringueiros, que ocupou grande área na região da Baixada, e também no Bairro Quinze e Taquari”, conta o realizador do filme, cineasta Ney Ricardo.
O filme
O filme conta a história de um garoto, o Chico, que perde a bicicleta do pai, que é o único meio de transporte da família. A mãe de Chico é lavadeira e arruma as roupas para entregar na casa de uma professora, só que, a caminho para deixar a trouxa, Chico vê uma pepeta caindo, esquece a responsabilidade, e vai atrás da pepeta.
Quando ele volta, a bicicleta não está mais lá e começa uma aventura em busca dessa bicicleta, uma vez que ele não tem como voltar para casa. E a partir disso, ele vive muitas experiências, deparando-se com essas brincadeiras antigas, o que acaba gerando uma memória afetiva.
O curta-metragem também traz uma reflexão sobre a perda da interação que estas brincadeiras traziam.
“A gente vive um momento em que as crianças, principalmente, por conta da violência, não têm mais aquela liberdade que as da década de 80 e 90 tiveram, de ir ao campinho, à pracinha, à praia à margem do rio. Agora, elas estão muito restritas a esse ambiente de casa, e não tem mais estas brincadeiras. Tudo está muito voltado para os jogos eletrônicos, a internet, e essa socialização entre as crianças está cada vez menor. Porque, nestas brincadeiras do passado, havia uma socialização muito grande”, pontuou.
O projeto foi financiado pela Lei Audir Blanc, do governo federal, com edital publicado pelo governo do estado, por meio da Fundação Elias Mansour (FEM). Após o lançamento, o filme, agora, deve seguir para exibição em festivais que ocorrem nos estados, para circular pelo Brasil, mostrando a cultura do Acre.
‘Experiência enriquecedora’
Ricardo diz que a experiência com o curta foi enriquecedora, e ao mesmo tempo, teve momentos difíceis por lidar com uma realidade dura e difícil das crianças que fizeram parte do elenco.
“Grande parte tem dificuldades na sala; alguns, os pais estão no presídio, então é uma realidade muito excludente. Mas, também foi enriquecedora porque, no processo, elas se desenvolveram muito bem e uma coisa ficou evidenciada: que a única diferença delas para outras crianças é a oportunidade”, contou.
Sobre o cineasta
Ney Ricardo é historiador e cineasta acreano, premiado V Festival de Cinema e Vídeo Acreano e tem em seu currículo algumas produções como Mundo Entre as Pontes, de 2003; A outra Margem do Rio, de 2004, entre outros.
Além do prêmio no Festival Acreano, ele também foi destaque com melhor produção Amazônica, no I Festival Curtamazônia, em Porto Velho (RO), com o documentário Aos Trancos e Barrancos, de 2010.
Fonyte/ A Gazeta do Acre