A poliomielite é uma doença altamente contagiosa causada pelo poliovírus selvagem, que destrói partes do sistema nervoso, causando paralisia permanente. A doença também ataca as partes do cérebro que ajudam a respirar e podendo levar até à morte.
Por causa da doença, a vida da servidora pública Ana Cunha, uma das vítimas da paralisia infantil, foi marcada por uma série de limitações. Por não ter sido vacinada, ela recebeu o diagnóstico com aproximadamente 3 anos de idade.
“Eu já andava, já corria, já brincava, só que meus pais eram seringueiros. Nós morávamos distante de Xapuri quase um dia e meio de barco e não fui vacinada, então quando o vírus chegou, eu estava totalmente indefesa e um dia de febre me fez perder totalmente as forças. No primeiro momento, fiquei com o lado direito inteiro sem mobilidade. Com o tempo, comecei a parar de sentir as dores, mas eu nunca mais andei. Até quase 10 anos de idade eu me arrastava”, relembra.
As limitações, que antes eram uma dificuldade, foram superadas e hoje a Ana está se especializando para ajudar outras pessoas.
“Estou concluindo minha carreira profissional na atividade, mas, a partir dos 50, porque meu diagnóstico era se eu não morresse com a pólio ativa na época, a minha expectativa de vida, e de todos os sequelados da pólio, é de 50 anos. Quando cheguei aos 50 pensei: ‘estou no lucro’ e aí fui fazer uma especialização em acessibilidade porque precisava sair da caixinha. O meu lugar ao sol, com muita dificuldade, eu já havia conseguido, mas é extremamente necessário que a gente possa ajudar outras pessoas que hoje ainda sofrem em cima de uma cama. Não mais pela pólio, porque ela foi erradicada por conta da vacina no Brasil, mas ainda tínhamos, até 2019, que foi quando eu participei do último encontro nacional da pólio, o Afeganistão e o Paquistão eram os únicos países do mundo que o vírus silvestre ainda rondava e isso ainda era perigoso para o restante do mundo”, destaca.
Baixa cobertura
Mesmo com campanha de vacinação, em todo o Acre, apenas 34% do público alvo foi imunizado contra pólio, o que preocupa não só a Saúde estadual, mas também a Ana que sobreviveu a doença, mas que tem sequelas até hoje.
“Os meus pais não tiveram culpa, porque não tiveram acesso a essas vacinas, mas os pais de hoje sim, são culpados se esse vírus voltar a fazer vítimas na nossa sociedade, porque as vacinas estão em qualquer posto, próximo de cada casa, tem campanha, isso não justifica essa negligência desses pais, que já foram vacinados. É por isso que talvez hoje não entendam, é porque nunca viram o que é uma criança chorar dia e noite com dor sem saber, porque não tem remédio”, desabafa.
A campanha contra poliomielite chegou ao fim no estado, mas a vacina continuará disponível nas unidades básicas de saúde.