Quando respondem às pesquisas eleitorais, os brasileiros costumam ser perguntados tanto sobre em quem pretendem votar quanto em quem não votariam de jeito nenhum. O resultado obtido a partir desse segundo questionamento é considerado o índice de rejeição dos candidatos.
Postulante à reeleição neste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viu seus índices de rejeição subirem ao longo do governo. O atual chefe do Executivo federal chega à reta final da campanha tendo que lidar com uma reprovação cerca de 10 pontos percentuais mais alta do que a do principal adversário, o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro também ostenta o maior índice de rejeição entre todos os presidentes que tentaram (e conseguiram) a reeleição desde a redemocratização do país após 20 anos de ditadura.
De acordo com o Datafolha, que atuou em todas as eleições desde 1989, Bolsonaro chega às vésperas do primeiro turno deste ano rejeitado por 53% do eleitorado, segundo resultados divulgados na última quinta-feira (16/9).
Em relação à pesquisa anterior do mesmo instituto, divulgada em 9 de setembro, o candidato à reeleição oscilou dois pontos para cima na rejeição, dentro da margem de erro. Já o petista Lula atingiu 38% de rejeição, oscilando um ponto para baixo em relação ao levantamento anterior.
Rejeição em reeleições
Primeiro presidente brasileiro a ser reeleito desde 1989, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) venceu Lula no primeiro turno em 1998 (como já havia acontecido em 1994).
De acordo com pesquisa Datafolha divulgada uma semana antes da votação, o tucano chegou à reta final daquela campanha com a rejeição mais baixa entre os citados nesta reportagem: 21%. Lula, que ficaria em segundo, tinha rejeição de 35% na ocasião, que só era menor do que a de Enéas Carneiro (Prona), rejeitado por 42% do eleitorado.
Oito ano depois, em 2006, foi a vez de Lula tentar a reeleição. E o petista chegou à véspera do primeiro turno com uma rejeição de 30%, também segundo o Datafolha. O então tucano Geraldo Alckmin (hoje candidato a vice na chapa de Lula), que foi para o segundo turno com o petista, tinha uma rejeição de 26%.
Já em 2014, quando Dilma Rousseff conseguiu ser reeleita, o Datafolha mostrou a petista com 32% de rejeição. Aécio Neves (PSDB), que foi para o segundo turno contra ela e perdeu, tinha então 21% de rejeição.
Bolsonaro tinha rejeição menor em 2018
Há quatro anos, Bolsonaro já tinha o maior índice de rejeição entre os concorrentes na reta final da campanha para o primeiro turno, mas liderava as pesquisas de intenção de voto e acabou ficando à frente dos adversários nos dois turnos.
De acordo com o Datafolha, o atual presidente chegou à véspera da votação no primeiro turno em 2018, que naquele ano foi em 7 de outubro, com 44% de rejeição. Ele havia atingido o pior índice em 28/9/18, quando, segundo o mesmo instituto, tinha 46% de rejeição.
Adversário de Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad (PT) viu sua rejeição subir rapidamente ao ficar conhecido como o substituto de Lula, e chegou ao dia anterior à votação rejeitado por 41% dos eleitores.
Veja uma representação gráfica da evolução das taxas de rejeição dos principais concorrentes à Presidência em 2018, segundo o Datafolha:
Na campanha do segundo turno, em 2018, Bolsonaro conseguiu inverter o gráfico e chegou à véspera da votação, em 28 de outubro de 2018, com 45% de rejeição, também de acordo com o Datafolha, contra 52% de rejeição de Haddad.
Em relação às intenções de voto, nessa mesma pesquisa, Bolsonaro tinha 55% e Haddad, 45%. O Datafolha praticamente acertou em cheio o resultado, pois Bolsonaro venceu com 55,13% dos votos, contra 44,87% do adversário petista.
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Em 2018, na última vez que o nome de Lula foi inserido na pesquisa Datafolha, em 22 de agosto daquele ano, o petista, que então liderava as intenções de voto, tinha rejeição de 34%, contra 39% de Bolsonaro no mesmo levantamento.
Pouco tempo para reverter
A rejeição maior a Bolsonaro quatro anos após sua primeira eleição é fruto de uma avaliação crítica dos eleitores em relação ao que o governo entregou, analisa o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa.
“Bolsonaro já tinha rejeição alta em 2018 como consequência de sua retórica, de suas falas antigas, mas era uma eleição onde o tema do combate à corrupção era central e o antipetismo estava em seu auge”, lembra o analista.
“A campanha de Bolsonaro soube ler bem aquele momento político e levá-lo a vencer a eleição. Fizeram ele vestir o figurino que o eleitor procurava. Agora, Bolsonaro é julgado por seu governo e, na minha avaliação, a atuação dele, principalmente na pandemia de coronavírus, foi muito ruim. E a população lembra e cobra. Quase 700 mil pessoas foram levadas pela Covid e elas tinham família, tinham amigos queridos”, continua César, que prevê dificuldades para o candidato à reeleição em uma tentativa de reverter essa rejeição.
“Para reverter rejeição é necessário, em algum grau, reconstruir imagem. E isso é um problema para Bolsonaro, porque o público para o qual ele fala pode achar bem ruim se houver uma mudança drástica de discurso. Acabamos de ver isso na prática, com o Tarcísio [candidato do PL ao governo de São Paulo], que está sendo fortemente atacado pelos bolsonaristas mais radicalizados por ter pedido desculpa à jornalista Vera Magalhães após o ataque de um aliado dele”, conclui André César.
Metrópoles