Rica parceria: em projeto de conservação histórico sem precedentes, Pesquisadores chineses clonam lobo-do-ártico

Pesquisadores chineses clonaram um lobo selvagem do Ártico, e esperam agora que a controversa tecnologia genética possa ser usada para ajudar a salvar outras espécies ameaçadas à medida que o mundo caminha para uma crise de extinção.


Na segunda-feira (19), a empresa Sinogene Biotechnology, com sede em Pequim, revelou o clone da loba, chamada Maya pelos cientistas, 100 dias após ela nascer, em 10 de junho.


Maya, um filhote marrom-acinzentado com uma cauda peluda espessa, está em condições saudáveis, disse a empresa. Durante uma entrevista coletiva, a companhia mostrou vídeos de Maya brincando e dormindo.


“Após dois anos de esforços meticulosos, o lobo-do-ártico foi clonado com sucesso. É o primeiro caso desse tipo no mundo”, disse Mi Jidong, gerente geral da empresa, na entrevista coletiva, segundo a mídia estatal chinesa.


O lobo-do-ártico, também conhecido como lobo-branco ou lobo-polar, é uma subespécie de lobo cinzento nativo da tundra do Alto Ártico, no arquipélago ártico no norte do Canadá.


Seu status de conservação, a métrica usada para determinar o quão perto uma espécie está da extinção, é considerado de baixo risco, já que seu habitat no Ártico é remoto o suficiente para evitar caçadores, de acordo com o World Wildlife Fund. Mas as mudanças climáticas estão ameaçando cada vez mais o suprimento de alimentos da espécie, enquanto o desenvolvimento humano, como estradas e oleodutos, invade seu território.


A Sinogene lançou seu projeto de clonagem de lobos-do-ártico em 2020, em colaboração com o parque temático polar Harbin Polarland, disse a empresa em nota publicada na plataforma Weibo, rede social amplamente usada na China.


Para criar a loba Maya, a empresa usou um processo chamado transferência nuclear de células somáticas – a mesma técnica que foi usada para criar o primeiro clone de mamífero, a ovelha Dolly, em 1996.


Primeiro, eles usaram uma amostra de pele da loba do Ártico original – também chamada de Maya, trazida do Canadá e introduzida em Harbin Polarland – para recuperar “células doadoras”, que são então injetadas no óvulo de uma cadela e carregadas por uma “barriga de aluguel”.


Os cientistas conseguiram criar 85 desses embriões, que foram transferidos para o útero de sete beagles – resultando no nascimento de uma loba do Ártico saudável, a recém-clonada Maya, de acordo com a mídia estatal.


A empresa disse em seu post no Weibo que um segundo lobo-do-ártico clonado deve nascer em breve.


O primeiro lobo-do-ártico selvagem clonado do mundo / Global Times / Sinogene Biotechnology Co / Divulgação

A tecnologia de clonagem fornece um bom ponto de entrada para a proteção de animais selvagens ameaçados de extinção, o que é uma grande contribuição para a proteção da biodiversidade


disse He Zhenming


Zhenming, que atua como diretor do diretor do Instituto de Recursos Animais de Laboratório do Instituto Nacional de Controle de Alimentos e Medicamentos da China, acrescentou que a clonagem bem-sucedida de Maya foi um “evento histórico, de grande importância para a proteção da vida selvagem do mundo e a restauração de espécies ameaçadas de extinção”, segundo o post.


A Sinogene disse que também começará a trabalhar com o Beijing Wildlife Park para pesquisar mais tecnologias e aplicações de clonagem, além de realizar pesquisas sobre a conservação e reprodução de animais raros e ameaçados de extinção na China.


A loba Maya original morreu de velhice em 2021, de acordo com o Global Times. A loba clonada Maya agora está morando com sua “mãe de aluguel”, a cadela da raça beagle, e mais tarde será alojada em Harbin Polarland para visita do público.


Crise de extinção

Não é a primeira vez que a tecnologia de clonagem é usada por cientistas conservacionistas.


Na Malásia, onde todos os rinocerontes-de-Sumatra morreram, os cientistas esperam usar tecidos e células congelados para dar à luz novos rinocerontes usando mães de aluguel. E no final de 2020, cientistas americanos clonaram com sucesso um furão-de-patas-negras selvagem ameaçado de extinção, que se pensava já estar globalmente extinto.


Outros cientistas estão apostando na tecnologia de edição de genes, como uma equipe da Austrália que está tentando editar células de um marsupial para recriar seu parente próximo, o extinto tigre-da-Tasmânia.


Esses esforços estão crescendo à medida que cientistas de todo o mundo correm para salvar espécies ameaçadas de extinção, enquanto a Terra se aproxima do que é amplamente considerado sua sexta extinção em massa.


Houve cinco eventos de extinção em massa na história, cada um eliminando entre 70% e 95% das espécies de plantas, animais e microorganismos, segundo estudos. A mais recente, há 66 milhões de anos, fez os dinossauros desaparecerem.


Essa sexta extinção em massa seria única, pois está sendo conduzida por humanos – que já exterminaram centenas de espécies por meio do comércio de animais selvagens, poluição, perda de habitat e uso de substâncias tóxicas.


Um estudo de 2020 descobriu que cerca de um terço de todas as plantas e animais podem enfrentar a extinção até 2070, e as coisas podem ficar ainda piores se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando rapidamente.


Mas muitos desses novos esforços de conservação também geraram controvérsia, com questões levantadas sobre as implicações éticas e de saúde da clonagem e edição de genes.


No caso de Maya, disse um cientista ao Global Times, são necessárias mais pesquisas sobre se a clonagem pode causar riscos potenciais à saúde. Também é necessário estabelecer mais diretrizes para determinar o uso apropriado da tecnologia, acrescentou ele, como apenas clonar espécies extintas ou altamente ameaçadas.


Fonte/ CNN BRASIL


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