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Entre versos e melodias, a realidade cotidiana de quem mora nas favelas é retratada por rapper do Alemão

Para Sabrina Martina Evangelista, a MC Martina, de 24 anos, nascida e criada no Complexo do Alemão, a poesia que faz desde os 18 representa uma válvula de escape. Os versos são uma resposta à violência recorrente nos becos e vielas do lugar onde a rapper vive e em outras favelas. Assim surgiu, por iniciativa dela, o coletivo Poetas Favelados, que desde 2017, promove “ataques poéticos” em transportes e espaços público da cidade, e o Slam Laje, a primeira batalha de poesia falada realizada dentro de uma favela do Rio.


A métrica e rima que já ecoaram no Espaço Favela, do Rock in Rio, em 2019, e no festival virada cultural Amazônia de Pé, na semana passada, no Museu de Arte Moderna (MAM), chegou ao papel neste com o lançamento, neste domingo, do seu primeiro livro “Nunca foi sorte, sempre foi poesia”, acompanhado de um curta-metragem com o mesmo título.


“A poesia é a tecnologia da palavra. Não é uma escolha ser poeta. É necessidade. Tenho necessidade de escrever e a poesia é só a ponta disso. Diante da realidade que a gente vive, escrever poesia é a parte mais fácil”, define a rapper, que lançou o livro e o curta no Cine Carioca Nova Brasília.


Na sua poesia, MC Martina aborda questões como o banzo, autoestima, memória afetiva, pandemia e a vivência de uma mulher preta dentro de um dos maiores complexos de favelas, o Alemão. Nascida na Pedra do Sapo, uma das comunidades do Complexo do Alemão, foi criada com mais cinco irmãos pela mãe e a avó, que morreu há quatro meses, aos 77 anos. Nunca perdeu um parente para a violência, mas não faltam episódios envolvendo pessoas próximas, que acabam servindo de combustível para sua poesia. Os versos de “2018”, um dos poemas do livro, retrata o drama de quem vive em constante tensão: “Zona Norte ou faixa de gaza/Não sei mais do que chamo/mas ainda é minha casa”.


 A inspiração, segundo a rapper veio de um confronto com vítimas ocorrido no Complexo de Manguinhos no ano que deu título ao texto. Mais do que a solidariedade com os moradores de uma outra favela, ela diz que existe sempre o temor de que uma guerra iniciada numa comunidade se estenda para outra.


“Não era aqui, mas fiquei comovida. Dói mesmo sendo em outra favela. A gente sente a dor da mãe. É genocídio, palavra que não se aprende na escola, mas na prática, na vida. Também, quando estoura a guerra numa favela perto, o sentimento é que a sua será a próxima. Por isso a dor é iguaL”, justifica.


MC Martina fala também de ancestralidade, mas opta por referências próximas, como a da mulher que sobe a ladeira com a bolsa de compras que trouxe da feira. O livro é dividido em três capítulos e o último fala da pandemia, em versos escritos durante esse período, especialmente difícil para os moradores de favela.


Sobre a poesia de MC Martina, o poeta Sérgio Vaz, escolhido pela revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009, escreveu: “Quando o livro chegou em minhas mãos parecia uma carta à humanidade. Versos que mais parecem decretos “Nunca foi sorte, sempre foi poesia” é um livro que nos leva para os becos e vielas da alma de Martina. Ela dispara os versos sem se preocupar com rimas perdidas. Ela não erra, acerta bem no meio de nossos corações.”


O curta que será lançado junto com o livro é, na verdade, uma poesia audiovisual nascida da necessidade de resgatar as memórias das raízes da rapper e também uma homenagem a sua avó Geralda. A propósito, vem da matriarca a origem do nome artístico da rapper.


“Minha avó nasceu prematura, de sete meses. A mãe dela fez uma promessa para São Geraldo (mártir da Hungria), que se a criança nascesse com saúde teria o nome dele. Como veio menina virou Geralda e mártir, se transformou em Martina” contou, acrescentando que, desde então o complemento acompanha o nome das mulheres da família que não têm um sobrenome paterno para carregar na certidão de nascimento, como é o seu caso.


Com o Slam Laje, MC Martina foi campeã estadual de poesia falada e duas vezes semifinalista na etapa nacional, defendendo o Complexo do Alemão e o Rio de Janeiro. As batalhas de poesia foram prejudicadas pela pandemia, mas já há previsão de retornarem até o fim do ano. Elas reúnem de dez a 15 poetas de favelas como Morro da Caixa D’Água, Cidade de Deus, Morro Agudo (em Nova Iguaçu), e dos complexos da Penha e da Maré.


As atividades do coletivo Poetas Favelados também foram suspensas durante a pandemia, mas vão voltar até dezembro. O chamado “ataque poético” reúne oito pessoas recitando a mesma poesia, sempre nos meios de transportes e em espaços públicos, promovendo uma espécie de flash mob. Foram mais de cem desde 2017.


MC Martina, que integra o Movimentos, instituição que pesquisa e discute o impacto da guerra às drogas na vida dos moradores de favela, diz que parte de sua renda vem da poesia, com apresentações. Também ministra palestras e oficinas em escolas e universidades.


Fonte/ Portal Yahoo.com


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