Em Sena, Instituto Santa Juliana completa 100 anos no mais completo abandono

O Instituto Santa Juliana (ISJ), em Sena Madureira, completa 100 anos de sua fundação, nesta sexta-feira (16), com o prédio principal de sua sede original no mais completo abandono e servindo de valhacouto para vândalos da cidade. O espaço onde até o final dos anos 60 viviam moças do interior de Sena Madureira e de outras localidades da região do Purus e de Boca do Acre, no Amazonas, em regime de semi-internato e internato, agora é abrigo para marginais e usuários de drogas, que se escondem entre o que resta da estrutura que vem caindo aos pedaços e a olhos vistos, no centro da cidade.


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Instituto Santa Juliana, em Sena Madureira, Acre, em 4 de março de 1940/Foto: Arquivo Nacional

Ao ContilNet, o bispo da Diocese, dom Joaquim Pertinez, disse que a necessária recuperação do espaço não depende da Igreja e sim do Governo do Estado e admitiu que isso não foi feito por divergências com a http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração estadual desde os governos da chamada Era Petista, na época do governador Binho Marques (20096 a 2010).


ISJ 10 | Alunos assistindo ao hasteamento da Bandeira no Ins… | Flickr


O Instituto foi fundado em setembro de 1922, por religiosas da congregação Servas de Maria Reparadoras, ligadas à Igreja Católica e vindas da Itália. O ensino ali, até o final os anos 60, não se pautava apenas na formação acadêmica. “Era uma educação voltada para formar na sua plenitude, um ser religioso. Em relação às alunas, a formação destinava-se a torná-la uma ‘mulher prendada’, uma boa dona de casa”, conta uma antiga aluna e depois professora da instituição, Nazaré Guedes, hoje aposentada.


IBGE | Biblioteca | Detalhes | Instituto Santa Juliana : Sena Madureira, AC


A essência da instituição era estabelecer estratégias criativas para o equilíbrio e os ditames de fazer chegar o ensino da arte aos jovens filhos de indígenas, aos filhos de regatões, de ribeirinhos, de seringueiros e de seringalistas, além de promoverem na educação muitos benefícios da civilização moderna nesta época em que a região se caracterizava por apresentar um elevado índice de pessoas não alfabetizadas. Isso numa época em que o ISJ também aceitava estudantes do sexo masculino.


Mas o ISJ se caracterizava pelo regime de internato e semi-internato, no qual as alunas permaneciam o dia todo na escola e poderiam ir para a casa à noite, para dormir. Já as internadas só poderiam voltar às suas casas nos períodos de férias do meio e do final de ano.


Governo vai recuperar Instituto Santa Juliana, em Sena Madureira - Gazeta do Norte
O interior do prédio, atualmente/Foto: ContilNet

Assim, o ISJ foi o mais tradicional colégio de Sena Madureira e referência de ensino para o Acre, pelo qual, entre as alunas ali internadas, passaram estudantes que iriam se tornar autoridades no Acre. Casos da ex-governadora Iolanda Lima e da atual desembargadora decana do Tribunal de Justiça do Acre, desembargadora Eva Evangelista de Araújo Souza, entre outras pessoas, como a professora aposentada Nazaré Guedes.


Santa Juliana: patrimônio se acabando...em Sena - OEstadoAcre.com
Santa Juliana: patrimônio que formou inúmeras autoridades do Estado se acabando/Foto: Reprodução

Ela conta que chegou ao Instituto Santa Juliana ainda na fase em que ali era oferecido o ensino no Jardim de Infância Anjo da Guarda e cursou até o extinto ginasial. Quando precisou fazer o antigo segundo grau, por falta do ensino em Sena Madureira, o que só viria acontecer no governo de Jorge Kalume, de 1966 a 1971, a futura professora foi estudar em Manaus (AM).


“As professoras do Instituto eram antigas alunas. As Madres Superioras escolhiam aquelas que elas viam ter vocação e as chamavam para a docência. Foi o meu caso”, conta a professora.


100 anos dos Servos de Maria em Sena Madureira - OEstadoAcre.com


Nazaré Guedes e representantes das antigas Servas de Maria estarão em Sena Madureira para as comemorações dos 100 anos do Instituto Santa Juliana nesta sexta-feira em instalações bem diferentes daquelas fundadas no final do século passado.


Apesar das dificuldades, funcionando em instalações anexas e provisórias, O ISJ oferece atualmente ensino para 820 alunos, em dois turnos, informa a coordenadora Vasti Lima Fernandes.


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O prédio ao lado do ISJ funciona com salas de aula/Foto: Reprodução

O colégio deixou de adotar o sistema de ensino de semi-internato e de internato no início dos anos 1970. “Mesmo que o prédio seja recuperado, não vejo condições de voltarmos com aquele antigo regime de internato”, diz a coordenadora de ensino.


O prédio anexo funciona desde o ano de 2014, quando a sede fundada há 100 anos, mesmo com algum serviço de recuperação feito ao longo dos anos, começou a se deteriorar. Promessas e estudos de recuperação foram anunciados ao longo dos anos, mas o que prevaleceu mesmo foi o castigo do tempo e a incúria de governos passados que não se preocuparam com o patrimônio histórico e educacional.


O resultado é o que se vê hoje: o ISJ se transformou em escombro e depósito de entulho, além de ser ocupado por viciados e outros fora-da-lei. A revitalização do local, uma preocupação do atual Governo, só não ocorreu ainda por conta de entraves burocráticos.


A Secretaria de Estado de Educação informou, por meio da assessoria de imprensa, que o Governo estadual chegou a obter inclusive recursos para as obras, através de emendas de parlamentares ao Orçamento Geral da União (OGU), mas as obras não puderam ser iniciadas porque, para isso, seria necessário a assinatura de um convênio entre o Estado e a Diocese de Rio Branco, responsável pelo ISJ.


O convênio deveria ser de cessão da instituição para o Governo, o que não aconteceu. Sem a cessão, o Governo fica impedido por lei de fazer qualquer investimento no local.


A Diocese de Rio Branco afirmou, por meio de sua assessoria, que só quem poderia falar sobre o caso seria o Frei Moisés, da Paróquia de Sena Madureira e responsável pelo ISJ. O Frei está em missão no rio Caeté, onde foi alcançado via telefone celular pela reportagem do ContilNet. “Vi sua mensagem somente agora, pois cheguei numa casa que tem Internet. Na bem da verdade eu mão saberia lhe dar as informações de que necessitas. Sou responsável pela paroquia de Sena, mas o Instituto está sobre responsabilidade da Cúria Diocesana, ao lado da catedral, em Rio Branco”, disse o religioso.


Em Rio Branco, o bispo diocesano Dom Joaquim Pertinez se manifestou: “O Colégio Santa Juliana de Sena Madureira, propriedade da Diocese de Rio Branco, quando o Sr. Binho (que seria governador do Estado), Secretário de Educação, começou a dar problemas pela situação precária dos pisos do colégio e foi interditado pelo perigo que corriam os alunos. Foi construído o colégio novo com recursos do governo do estado, em reconhecimento da dívida que tinha de anos anteriores sem pagar o aluguel conveniado”.


Ainda de acordo com o bispo, o prédio antigo foi fechado para as aulas, passando todas ao prédio novo. “Posteriormente, dada sua antiguidade e o simbolismo do mesmo para a sociedade acreana e, principalmente, para Sena Madureira, foi tombado pelo Estado do Acre, impossibilitando qualquer tipo de mudança externa e interna por parte da Diocese”, afirmou. “Falou-se várias vezes de uma reforma para fazer um museu e outras possibilidades, mas nunca se passou das boas intenções. Sendo assim, a situação atual do prédio antigo do colégio Santa Juliana não depende da Diocese de Rio Branco, mas do Estado do Acre”, acrescentou.


Fonte: Contilnet


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