Mudanças climáticas e aumento do uso de fungicidas na agricultura podem fazer com que a próxima pandemia que os seres humanos enfrentem não seja de vírus, mas de fungos.
Especialistas apontam que uma possível doença disseminada por fungos pode ser ainda mais perigosa, já que os seres humanos não estão preparados por ter menos conhecimento sobre o modo de agir dessas criaturas, além delas serem mais resistentes a tratamentos.
De acordo com reportagem da revista National Geographic, foram identificados somente 120 mil de cerca de 5 milhões de espécies de fungos.
“O que nos preocupa o tempo todo no mundo dos fungos é o potencial deles de causar doenças humanas. Há um monte de coisas lá fora que nem entendemos”, aponta Tom Chiller, epidemiologista e chefe do Ramo de Doenças Micóticas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Poder de evolução
Outro ponto em que os fungos se diferenciam das bactérias e dos vírus é na velocidade e capacidade de adquirir resistência aos medicamentos disponíveis.
Em depoimento a National Geographic, a imunologista Amelia Barber, do Instituto Hans Knöll, lembrou de um caso onde um paciente com câncer foi infectado por um fungo que desenvolveu resistência à equinocandina, um dos principais antifúngicos desenvolvidos, em poucos dias.
“Achamos que esse organismo era realmente parte de sua microflora e, ao dar medicamentos profiláticos, ele conseguiu se tornar resistente e se propagar”, explicou.
Os fungos podem causar o desligamento de órgãos por meio da sepse, uma reação exagerada do sistema imunológico aos ataques microbianos, onde o sistema imune se volta contra si mesmo. Também há possibilidade de formarem bolas fúngicas que empurram os órgãos para o lado. A resistência pode só piorar as coisas, já que as taxas de mortalidade são 25% mais altas quando um patógeno resistente a antifúngicos está envolvido.
Outro ponto de atenção é que o uso indiscriminado de fungicidas na agricultura está fazendo com que a situação fique ainda pior.
Os produtores de fungicidas promovem seus produtos aos agricultores como forma de aumentar o rendimento das colheitas, o que leva ao seu uso excessivo. Como esse tipo de remédio geralmente emprega estratégias semelhantes aos medicamentos farmacêuticos, quando os fungos se tornam imunes a um, eles também desenvolvem resistência a outros.
A Gazeta do Acre