Foram presos preventivamente, no início da noite desta sexta-feira (19), os três policiais militares envolvidos na abordagem contra Gabriel Marques Cavalheiro, em São Gabriel, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. O jovem de 18 anos desapareceu após a ação policial em 12 de agosto e teve o corpo encontrado nesta sexta.
O cumprimento do mandado judicial foi feito após decisão da juíza Viviane de Freitas Pereira, da Auditoria Militar de Santa Maria, na Região Central. A magistrada entendeu existir materialidade dos delitos de abandono de pessoa que está sob seu cuidado, guarda ou vigilância e falsidade ideológica, por conta de indícios de alteração de documento público. Contudo, outros crimes podem ser verificados durante a investigação.
Segundo a Brigada Militar (BM), os investigados são um sargento e dois soldados da corporação. Sem detalhar quais, a polícia afirmou que um dos agentes tinha 16 anos de serviço; outro, 15 anos; e outro, seis anos de atuação.
Os militares ficarão, a partir de agora, recolhidos e à disposição da Justiça. A audiência de custódia deve ser realizada no sábado (20). Os celulares dos agentes foram recolhidos para análise. A viatura utilizada na ação foi encaminhada para perícia.
O pedido de prisão foi feito pela própria BM e recebeu o consentimento do Ministério Público. O processo tramita sob sigilo.
Entenda o caso
Na noite de sexta-feira (12), Gabriel estava na casa do tio, Antônio. Segundo a advogada da família, ele perguntou se poderia tomar uma cerveja, o que foi autorizado.
Mais tarde, o tio deitou-se e ouviu um barulho da porta sendo encostada. Imaginando que o jovem teria ido fumar no lado de fora, Antônio ignorou o fato e dormiu. Só foi perceber a ausência do sobrinho no dia seguinte
“Foi chamar umas 10h, 11h. Achou que ele poderia ter ido pra casa de um parente próximo. A família começou a procurar e não o achou. Na metade da tarde de sábado, ligaram para os pais dele, em Guaíba, e eles se deslocaram. Foram até a Polícia Civil fazer o registro e, desde então, começou-se a busca incessante“, diz Rejane.
A principal testemunha e autora das últimas imagens conhecidas de Gabriel é a vizinha Paula Beatriz Lima da Silva. Ela depôs à polícia e disse que estava com a filha e uma afilhada quando Gabriel parou junto à grade de seu terreno e começou a gritar pelo nome Paula.
Como não o conhecia e já estava tarde, decidiu ligar para a Brigada Militar. “Vi um movimento muito grande dos cachorros. Ele tava forçando o portão, tentando entrar. Me assustei, não reconheci o rapaz. Vi que não era da vila, não era da cidade, acionei a Brigada“, contou à RBS TV.
Imagens de câmeras de segurança mostram a viatura da Brigada Militar chegando ao local. Paula Beatriz conta que Gabriel foi abordado por três policiais, imobilizado e algemado. Por ser contra a forma como o jovem foi tratado, ela passou a registrar vídeos e fotos com o celular. As imagens gravadas mostram Gabriel sendo conduzido em direção à viatura. Veja vídeo acima.
“Acionei a Brigada na intenção de retirar ele, mas não para fazerem nada contra“, afirmou Paula.
Depois, conforme a vizinha, o carro partiu para o lado direito, em direção à localidade de Lava Pés. De acordo com a mãe de Gabriel, Rosane Machado Marques, os policiais disseram que o jovem estava tranquilo, teve as algemas retiradas na viatura e teria pedido para ser deixado lá, onde pediria carona até um chalé nesta estrada vicinal
“Ele foi abordado, com ele nada de irregular foi encontrado, e ele foi liberado“, diz o major Aníbal Silveira.
Em depoimento, os policiais envolvidos na ação confirmaram que levaram o jovem até a localidade de Lava Pés, distante 6 km de onde aconteceu a abordagem. Mas a família rejeita a versão, pois o jovem não morava no município e desconhecia a região.
Além disso, segundo a advogada da família, a câmera de segurança de uma escola e o trajeto apontado pelo GPS da viatura policial mostram que o veículo ingressou diretamente na estrada de chão às 0h05, retornando em torno de 0h12. No entanto, pela baixa qualidade da imagem e pelo fato de as janelas estarem fechadas, não é possível identifica quem está na parte interna do automóvel.
“Vai para o Lava Pés se precisar ir. Tem umas casas de moradia, uma madeireira, um engenho de arroz. Termina o asfalto e começa uma estrada de chão. A passagem de pessoas e de carros é mínima, ainda mais no horário noturno“, descreve Rejane, que é da cidade.
Fonte: G1 RS