O acidente que tirou a vida do cantor Cristiano Araújo completou 7 anos em junho deste ano. Passado todo esse tempo, o pai do artista, João Reis Araújo, hoje empresário do segundo filho cantor, Felipe Araújo, ainda mantém numa sala ao lado do escritório dele em Goiânia todo o acervo de roupas e objetos do sertanejo.
Ele abriu as portas do local para a reportagem do Metrópoles, há dois meses, quando recebeu a equipe para dar uma entrevista que fez parte da reportagem especial sobre a rotina dos músicos na estrada, publicada no último domingo (7/8):
A trágica rota da música sertaneja nas rodovias do Brasil.
Em um cômodo especial, geralmente trancado, e ao lado da sala onde ele costuma fazer reuniões e receber visitas, Reis preserva roupas, calçados, acessórios, bonés, chapéus, quadros, fotos e instrumentos de Cristiano. “Essa é a sala do meu conforto espiritual”, definiu ele, emocionado, enquanto permitia a entrada da reportagem.
João Reis pediu que nada fosse filmado ou fotografado no local, em razão da privacidade e do cuidado que ele tem ao preservar o acervo do filho. Tudo está devidamente etiquetado, catalogado e relacionado numa planilha, pois será utilizado em um projeto futuro. Ele pretende criar o Museu do Sertanejo, em homenagem a Cristiano.
Em duas araras, no centro da sala, estão jaquetas, paletós e camisas. “Essa daqui é famosa, ele usou no DVD”, mostrou ele. No chão, estão as dezenas de pares de sapatos e tênis, embaixo de prateleiras, onde ficam caixas com camisetas, bonés, colares, pulseiras, fotos e quadros do cantor.
Os fãs de Cristiano, certamente, identificariam muitos dos objetos, pois eles fizeram parte da carreira do sertanejo e foram utilizados por ele em apresentações especiais, programas de TV, clipes e gravações de DVD. João Reis diz entrar, às vezes, no local para relembrar e reviver os bons momentos ao lado do filho.
O cantor morreu aos 29 anos na madrugada do dia 24 de junho de 2015, ao retornar de carro para Goiânia, após um show em Itumbiara (GO). A namorada dele, Allana Coelho Pinto de Moraes, 19, também faleceu na tragédia. O veículo (Range Rover) recém-adquirido por Cristiano era conduzido pelo motorista. Ele estava a 179 Km/h.
Projeto de criação do museu
Já há alguns anos, João Reis tenta articular a criação de um museu para retratar não só a trajetória do filho, mas do sertanejo, em geral. A princípio, o projeto seria focado em Goiânia, que, além de ser considerada a capital do sertanejo, é também a cidade natal de Cristiano Araújo. A proposta, no entanto, segue em articulação.
O empresário relatou ao Metrópoles que está em fase adiantada de negociação para a implantação do museu em Cajamar (SP), onde ele diz ter recebido o apoio necessário para o projeto. Se efetivada a criação do museu em solo paulista, o acervo de Cristiano deverá ser dividido entre Goiânia e São Paulo.
Os olhos de representantes do poder público em Goiânia, no entanto, teriam crescido sobre a possibilidade de criação do museu, após o avanço das tratativas em São Paulo. João Reis se diz aberto e pronto para colocar em prática. Ele aposta na importância do sertanejo para o país e na marca que o filho deixou na música.
Cristiano começou a cantar aos 9 anos e vivia o melhor momento da carreira, quando o acidente aconteceu. Ele estava no auge, fazia de 20 a 24 shows por mês, com demanda crescente de contratantes e público pelo Brasil. A dor pela perda do filho gerou alguns traumas no pai, mas ele reconhece a importância da preservação da memória.
“Não consigo ouvir as músicas dele”
O empresário revelou ter dificuldades, ainda hoje, de ouvir as músicas cantadas pelo filho ou de assistir aos vídeos nos quais ele aparece. Esse desafio, no entanto, deverá ser enfrentado por ele, em breve. A família pretende lançar um álbum de músicas inéditas gravadas por Cristiano.
O pai é quem estará à frente do projeto e terá de encarar os dias de estúdio para preparar o material. Provavelmente, será um EP, com cerca de 10 músicas.
“Minha força para seguir vem do Cristiano. O Felipe também precisou de muita força do irmão para conseguir carregar esse fardo. Ele só tinha 20 anos, quando tudo aconteceu, foi muito pesado para ele. Eu imaginava que nunca mais daria conta de passar perto de um palco. Mas aí veio a força não sei de onde para eu poder continuar. Não tinha outra alternativa. Estou aqui, em muito, pelo Felipe e também pelos filhos do Cristiano”, diz João Reis.
Veja trecho da entrevista dele para o Metrópoles:
Fonte: Metrópoles