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Na mira da concorrencia: Auxílio Brasil vira foco dos presidenciáveis às vésperas do início dos pagamentos

A menos de dois meses das eleições presidenciais e às vésperas do início do pagamento do novo valor do Auxílio Brasil, de R$ 600, o impacto que o benefício pode ter nas urnas virou preocupação crucial dos presidenciáveis de oposição e uma das principais questões que dividem as projeções de analistas políticos.


Trunfo do presidente Jair Bolsonaro para tirar a diferença do seu principal adversário, o ex-presidente Lula, nas pesquisas de intenção de voto, o programa de transferência de renda começa a chegar mais robusto no bolso de mais de 20 milhões de beneficiários a partir de terça-feira. Além disso, ele sinalizou que pode manter o valor em 2023 a princípio, será pago até dezembro, com a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pelo Congresso.


A estratégia do governo que já conseguira aval do Parlamento numa manobra para engordar o pagamento em pleno ano eleitoral começa a dar os primeiros sinais, ainda incipientes, de produzir efeitos nas pesquisas: o último levantamento do Datafolha mostrou que eleitores beneficiários do Auxílio Brasil estão mais indecisos em relação ao seu voto para presidente do que na sondagem anterior.


Em caminho inverso ao do resto da população, o percentual dos que recebem o auxílio e disseram que estavam totalmente decididos sobre o seu voto caiu de 75% para 69%. A queda de seis pontos percentuais está além da margem de erro para esse estrato da população, que é de quatro pontos para mais ou para menos.


Para impedir que Bolsonaro ecoe sozinho o discurso para essa fatia do eleitorado, a oposição também se movimenta. Ontem, Lula falou diretamente aos beneficiários do auxílio ao receber o apoio do agora ex-presidenciável André Janones (Avante). Ao garantir que encamparia, num eventual governo, as pautas do deputado mineiro como o pagamento permanente do auxílio a R$ 600, o petista disse ao mais novo aliado:


Pode ficar certo que juntos vamos acabar com a fome nesse país.


Janones também mandou um recado a seus eleitores, no momento em que retirou a sua candidatura para se unir a Lula: “Eu jamais me juntaria com aqueles que usam a fome como moeda eleitoral em tempos de eleições, como foi feito no atual governo”.


Simone Tebet, candidata do MDB à Presidência, tem na erradicação da fome uma de suas bandeiras, assim como a implementação de um programa de transferência de renda permanente de forma escalonada, inclusive para famílias com pessoas empregadas.


É possível, com responsabilidade fiscal, garantir essa transferência para todos que precisam, com escala diferenciada. É preciso diferenciar os pobres dos miseráveis.


O pedetista Ciro Gomes, postulante do PDT, prevê, num eventual governo, a substituição dos programas sociais de distribuição de renda por um projeto de renda mínima, que seria a união do benefício com auxílios, como seguro-desemprego e aposentadoria rural:


Será ditado constitucional para que todo brasileiro, independente se tenha capacidade de produzir ou não, tenha direito a renda mínima.


Os números apontados pelo Datafolha, animaram os estrategistas da campanha de Bolsonaro, que esperam ver a ascensão do chefe do Planalto nas pesquisas a partir do primeiro pagamento do Auxílio Brasil.


Segundo o levantamento, é principalmente nesse grupo que se concentraram as principais movimentações em relação ao levantamento anterior do instituto, em junho. Naquele mês, a rejeição de Bolsonaro entre os beneficiários do programa era de 59%, número que caiu para 54% neste mês. Em relação a intenções de voto, Bolsonaro também ganhou espaço, indo de 26% a 32%.


Entretanto, apesar dos sinais positivos para Bolsonaro, o ex-presidente Lula continua sendo o preferido desses eleitores: em um eventual confronto no segundo turno entre os dois: o petista receberia 63% dos votos e o atual presidente, 32%.


Professor de ciência política da UFMG e diretor da Quaest, Felipe Nunes estima que os benefícios sociais deverão ter impacto na disputa e podem levar a eleição para o segundo turno:


Os 40 bilhões que serão injetados na economia por meio dos benefícios sociais criados pelo governo deverão ter algum impacto na disputa, só não é possível dizer qual será o tamanho deste efeito. Geralmente, benefícios distribuídos diretamente no bolso de eleitores tendem a reduzir o ressentimento com o governo. A mera expectativa de que haverá benefícios sociais já começou a gerar efeito sobre as intenções de voto.


Embora não haja evidência suficiente ainda sugerindo que os benefícios seriam capazes de produzir uma virada de Bolsonaro sobre Lula, Nunes chama a atenção para o contingente que ainda pode pode mudar o voto, que chega a um terço do eleitorado:


Os benefícios podem mudar votos para garantir que a disputa seja definida no segundo turno, o que seria significativo, dado que as pesquisas dos últimos meses mostraram boas chances de Lula vencer no primeiro turno.


O cientista político e sociólogo Alberto Carlos Almeida, da empresa de pesquisa e consultoria Brasilis, tem outra opinião. Para ele, não há tempo suficiente para o auxílio turbinado do governo federal alterar o favoritismo de Lula. Ele defende que não há vinculação, para o eleitorado beneficiário do programa, entre Bolsonaro e a defesa do segmento mais pobre da população.


Talvez o pagamento do auxílio seja suficiente para melhorar o desempenho de Bolsonaro, mas a distância de Lula em relação a Bolsonaro é significativa. E mais importante do que isso é o fato de que a eleição está muito concentrada nos dois, o que significa que a vantagem de um sobre o outro pode levar a uma definição em primeiro turno analisa Almeida. O auxílio teria que melhorar abruptamente a avaliação ótima e boa do governo para mudar o cenário. Essa melhora, porém, não ocorre na mesma proporção das intenções de voto.


Em outro aceno para o eleitorado beneficiário do Auxílio Brasil, Bolsonaro autorizou a concessão de empréstimo consignado (com desconto em folha) até o limite de 40% do valor do benefício. A medida também fopi alvo de críticas. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pelo Twitter, disse que era “uma crueldade sem tamanho”: “Daqui a pouco acaba o aumento do benefício e como o pessoal vai conseguir pagar a dívida? Mais uma medida eleitoral de Bolsonaro que não tá nem aí pro que vai acontecer depois com a vida das pessoas”.


Ciro também foi à plataforma criticar o presidente: “O código penal chama de latrocínio o ato de matar para roubar. O governo Bolsonaro acaba de criar o latrocínio coletivo ao permitir que os bancos confisquem o Auxílio Emergencial sob forma de empréstimo consignado com juros de 79%”, disse o pedetista, numa referência ao benefício.


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