Uma mulher recebeu um rim doado pelo marido, apenas duas semanas após se casarem em Brasília. Érika Moreira, 37, foi diagnosticada na adolescência com Gesf (glomerulosclerose segmentar focal), uma doença de causa desconhecida que paralisa gradativamente as funções do rim, segundo a assessoria do Hospital Brasília.
No final de 2018, ela conheceu Leonardo Moreira, 37, e descreve que foi amor “à primeira vista”. “Começamos a namorar e, na sequência, noivamos. Com isso, iniciamos o planejamento do nosso casamento que seria em 2020, porém, devido à pandemia, tivemos que mudar os nossos planos adiando o casamento religioso para junho de 2022. Mantivemos apenas o casamento civil em 2020”, diz Érika.
Mas, em 2019, uma piora na doença a levou a ter um funcionamento de menos de 20% nas funções renais. O hospital decidiu que a melhor opção para a paciente seria um transplante preemptivo, realizado quando o paciente ainda não precisa de hemodiálise, o que acabou acontecendo no período em que eles ainda comemoravam a “lua de mel”.
Mãe, irmão e marido da paciente fizeram exames iniciais para averiguar as condições de saúde e realizar uma possível doação do rim. De todos os candidatos, o cônjuge era o que melhor tinha condições de fazer isso, e o mais importante: eles eram compatíveis.
Ela contou que poder fazer planos e viver com saúde foram os principais motivos de alegria. “No momento em que descobri que meu esposo seria meu doador foi uma alegria imensa, um sentimento de gratidão a Deus e a meu esposo, pela coragem, atitude e companheirismo. Veio em mim um sentimento de liberdade e vitória por poder ter um futuro, planos, realizações de sonhos, e poder viver com saúde”.
Como todo procedimento cirúrgico causa nervosismo nos pacientes, Érika se surpreendeu quando viu que já conhecia um dos médicos. “A primeira consulta foi com o Dr. Pedro Mendes, que já tinha me atendido há 15 anos. Quando mostramos a necessidade de realizar nosso sonho de ter uma qualidade de vida e ter filhos, ele não pensou duas vezes e abraçou a nossa causa”.
O nefrologista Pedro Mendes conheceu Érika quando era residente em um hospital público e eles perderam contato desde então, fazendo com que o reencontro fosse especial. “Poderíamos esperar mais para fazer a cirurgia, porém, como ela manifestou o desejo de engravidar, adiantamos o processo. Sabemos que no período de diálise, além de ser muito difícil de engravidar, seria uma gravidez de alto risco tanto para mãe, quanto para o bebê. Agora, como a operação foi um sucesso, a expectativa é de que em um ano ela possa engravidar com evolução favorável”.
O urologista Fransber Rodrigues, coordenador do Centro de Robótica do Hospital Brasília, explicou que a qualidade de vida é o principal fator de melhora de um paciente transplantado. O transplante não depende de diálise, mas exige acompanhamento regular para averiguar a função renal e a imunossupressão, já que esses pacientes recebem medicação para reduzir a resposta imunológica para evitar a rejeição do órgão, o que gera um maior risco de adquirir doenças infecciosas.
No dia 23 de junho, ela enfim recebeu o órgão doado. A cirurgia de Moreira durou duas horas e ele recebeu alta no dia seguinte, enquanto Érika ficou três horas e meia na mesa de cirurgia, precisando ficar 22 dias internada, dos quais seis deles ela ficou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Agora casada, Érika se diz aliviada após o procedimento. “Me sinto uma nova pessoa. Quero realizar meus sonhos, meus planos, que antes eu não tinha perspectiva nenhuma, porque a todo momento eu pensava”.