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Jorge Viana conta sobre decisão de disputar o governo, um dia antes da convenção partidária: ‘chamado para trabalhar e socorrer as pessoas’

Disputando, pela terceira vez, o cargo de governador do Acre, o ex-senador e ex-governador Jorge Viana (PT) concedeu entrevista, nesta segunda-feira, 8, aos jornalistas Brenna Amâncio e Tiago Martinello, na Rádio Gazeta 93 FM.


É fato que o ingresso surpreendente, na última sexta-feira, 5, de Jorge e Marcus Alexandre, seu vice, na disputa pelo governo, apimentou o jogo político no Estado. A ex vice-governadora Nazaré Araújo integra o time da chapa majoritária “puro sangue” do PT e concorre à vaga ao Senado Federal.


Durante o bate-papo no Jornal Gazeta 93, Jorge contou como a decisão da chapa foi tomada, uma noite antes da convenção partidária, e como está sendo feita a construção do seu plano de governo.


“Eu abri minha bíblia, lá no meu escritório, no Salmo 27, eu leio esse salmo quando estou passando por alguma dificuldade ou buscando realizar algum projeto, porque esse salmo é muito claro: ele fala que a gente pode vencer as coisas. E foi daí que veio aquela força pra mim, aquela energia dizendo: ‘vai pro governo mesmo’. Então, liguei pro Marcus Alexandre e chamei ele, conversamos nós dois, e ele falou: ‘rapaz, eu tô junto contigo’. Foi assim, pensando nas pessoas que estão precisando de ajuda”, afirmou Jorge.


Confira a entrevista na íntegra.


Tiago Martinello – Como se deu esse processo de decisão pra você ser o nome que vai liderar essa chapa na disputa para governo do Acre?


Jorge Viana – Eu sei que, para algumas pessoas, a política é um negócio. Tem gente que tem 40 anos de mandato… Eu nunca fui assim. Fui prefeito, cumpri meu mandato e fiquei fora; fui governador, cumpri meu mandato e fiquei fora também, e a mesma coisa no Senado. Então, a política, pra mim, abre espaço pra você trabalhar pelo bem comum, pra você cuidar das pessoas, pra você ter como opção as pessoas, e eu estava em um dilema: governo ou Senado? Eu sei que o Senado é muito importante para um estado igual o Acre, que é da Amazônia, que já viveu dramas terríveis no passado, e a gente botou lá em cima, respeitado no Brasil, e até fora do Brasil. Mas, agora, o Acre está lá trás de novo, e o Senado pode ajudar isso, mas eu falei: pôxa, se a Nazaré vai pro Senado, ela vai cumprir esse papel de ajudar o Acre com o próximo presidente, que a gente está trabalhando para que seja o presidente Lula, que já ajudou o Acre uma vez e vai ajudar de novo. E eu estando aqui, no governo, imagina com uma senadora igual a Nazaré?! Eu e o Marcus Alexandre estávamos muito incomodados, pois, em todo lugar que a gente ia, as pessoas perguntavam: “porque vocês não disputam o governo?”. Era isso que a gente ouvia. E, na quinta-feira à noite, a gente estava com algumas dificuldades, essa coisa da política tem muitos interesses… As pessoas ficam querendo fazer valer seus interesses, e eu refleti muito, porque estava incomodado com isso. As pessoas estão querendo que eu fique aqui, que eu possa fazer um segundo trabalho pelo Acre. Eu abri minha bíblia, lá no meu escritório, no Salmo 27, eu leio esse salmo quando estou passando por alguma dificuldade ou buscando realizar algum projeto, porque esse salmo é muito claro: ele fala que a gente pode vencer as coisas. E foi daí que veio aquela força pra mim, aquela energia dizendo: “vai pro governo mesmo”. Então liguei pro Marcus Alexandre e chamei ele, conversamos nós dois, e ele falou: “rapaz, eu tô junto contigo”. Foi assim, pensando nas pessoas que estão precisando de ajuda. Se o meu propósito na política não é negócio, meu propósito na política é ajudar, é transformar as coisas, como a gente já fez. Eu acho que, de novo, estou sendo chamado pra isso, pra trabalhar, pra fazer uma nova transformação no Acre, mas, principalmente, pra ver se a gente socorre as pessoas que estão precisando. Este é o meu propósito, o de Marcus Alexandre e também o da Nazaré.


Brenna Amâncio – Como você chegou ao nome do Marcus Alexandre como vice? E como anda a sintonia de vocês dois para esse desafio, que é concorrer ao governo do Acre?


JV – Foi tudo muito natural mesmo. Na hora que resolvi ligar pro Marcus Alexandre, na quinta-feira à noite, eu estava sozinho no meu escritório e falei: “Marcus, vem aqui que eu preciso falar contigo uma coisa meio importante”. Ele chegou no escritório, todo suado, como sempre, ele tinha acabado de sair do Palheiral. O Marcus começou a história dele junto comigo, ele é um acreano que escolheu o Acre com a família dele. Ele foi muito solidário comigo e eu fui muito solidário com ele, por isso eu acredito que a gente forma uma boa dupla, e eu falei: “rapaz, o pessoal queria um governador, então vamos oferecer dois logo de uma vez e pronto”. Se o pessoal quiser, a gente vai trabalhar, a gente não quer ir brigar por política partidária. Você vê aí a confusão que deu nas outras convenções…Já a nossa foi uma festa, foi emoção, pessoas chorando, pessoas alegres se abraçando, porque as pessoas queriam que a gente botasse o nome, tanto eu, quanto o Marcus para o governo. E a gente atendeu esse chamado. Agora, que Deus nos ajude a ser merecedores, porque, se formos, nós iremos trabalhar. O que a gente tem a oferecer é o trabalho, cuidar das pessoas, cuidar do nosso Acre e fazer muita coisa. Acho que a gente está mais experiente também, minha afinidade com o Marcus é ótima. Só estamos de lados opostos nos times de futebol mesmo, ele é tricolor e eu, botafoguense. No futebol, vale a pena brigar um com o outro, mas, na política não. Ontem, nós fomos visitar algumas pessoas históricas do nosso partido e ele falou: “rapaz eu tô pesando uns 100 quilos a menos”, porque a gente não tem que explicar o motivo de ele ir pra estadual e eu para senador. Agora não, as pessoas vem perguntar e sempre abrem um sorriso com a resposta.


BA – O senhor acredita que os adversários políticos foram pegos de surpresa com essa revelação, de última hora, da chapa de vocês ao governo?


JV – A surpresa foi geral, porque ela aconteceu naturalmente. No final, quando reunimos os partidos, já era pouco antes da convenção, e foi um grande chororô, porque era o que os partidos queriam, era o que as pessoas queriam, e eu acho que os opositores ficaram atordoados. Eu vi muita confusão nas outras convenções, eu não tô acusando ninguém não, mas já ficou evidente que boa parte daqueles que ganharam a Presidência da República, ganharam o governo, ganharam três senadores, ganharam a prefeitura, não foi pra trabalhar de verdade. Vamos ser honestos: se fosse pra isso, já tinham feito casa no estado inteiro, teriam feito uma escola, pelo menos uma, tinham feito um posto de saúde, teriam gerado emprego, mas, não foi pra isso. Eles brigaram muito, todos que estavam juntos em 2018 não estão mais juntos agora, e nós seguimos com nosso propósito. Política, pra mim, é algo tão nobre, tão importante, eu dou muito valor, porque se a gente ocupa um cargo é pra trabalhar. Eu não quero esse negócio de fazer governo de partido. Governo é governo, e partido é partido. Se eu for eleito governador junto do Marcus, nós vamos trabalhar para todos, acabar com esse negócio de perseguição, eu não quero saber disso, quero saber se a pessoa tem competência, se a pessoa é íntegra, pra gente poder socorrer o povo e fazer o Acre ter orgulho de novo. Isso tem uma diferença danada, porque eu acho que a turma que ganhou não é do trabalho. Se eles estivessem fazendo um bom trabalho, eu não seria candidato a governador.


BA – Como está sendo construído o seu plano de governo?


JV – Tem pouco mais de três dias, mas, a nossa experiência, a nossa preocupação com a situação do nosso povo, ela é permanente. Nós conhecemos bem os problemas do estado. Eu falo sempre assim que, graças a Deus, eu sou, talvez, um dos acreanos que mais conhece o Acre. Já andei por todos os rios, todas as aldeias, fui com calma em todos os lugares ver de perto as coisas, e isso me faz ter contato direto com a realidade. Mas, os tempos agora são muito difíceis, a vida das famílias piorou muito, tem muitas famílias com dificuldade de ter alimento para dar aos filhos, tem gente no meio da rua com placa pedindo comida. Eu acho que isso está virando paisagem pra quem está no atual governo, e isso não pode ser paisagem. O sofrimento do ser humano, de uma família, não pode ser paisagem. Eu lamento muito que eles falam de família, mas não fazem casas; eles falam de pessoas, mas não dão oportunidade de trabalho. Esta semana, nós estamos montando, convidando algumas pessoas que tem experiência, pessoas novas também, para montar nossas diretrizes. Os problemas a gente conhece bem, já sabemos o caminho para as soluções, e a gente vai juntar tudo isso. O compromisso maior é para enfrentar os três mais graves problemas do Acre, que são a saúde, falta de oportunidade de trabalho e a violência. Nós temos uma experiência, a gente gosta do Acre, a gente ama o Acre, a gente quer cuidar das pessoas, nós vamos construir e apresentar uma proposta bem bacana e realista, que a gente vai lutar para realizar. Eu tenho fé em Deus que o Acre vai voltar a ser importante em Brasília de novo, vai ser importante para os acreanos de novo, mas, pra isso acontecer, as famílias precisam estar bem.


TM – O que essa nova pré-candidatura vem trazer de novo? Como corrigir falhas que possam ter acontecido para não cair nesse erro de novo?


JV – Então, a primeira coisa que eu acho é que a gente tem que reconhecer é que falhas e erros aconteceram. Já tinha gente que trabalhava com a gente que estava com o sapato muito alto, isso começou a incomodar também. Não sei se era por conta do tempo, mas, o tempo que a gente ficou fora agora ajudou. Eu, particularmente, acho que o passado serve pra duas coisas: pra gente olhar pra trás e ver os erros que a gente cometeu, e corrigir pra frente; e a segunda coisa é a gente ver as coisas boas que nós fizemos e fazer melhor ainda. Não tenho dúvida que se nós tivermos oportunidade, nós vamos fazer coisas muito legais e também corrigir os erros do passado. Mas, tem situações onde a gente precisa cuidar do passado, as ruas, os prédios públicos, os parques, as escolas, as bibliotecas, os hospitais estão abandonados. Estão destruindo até o que a gente fez! A primeira coisa é cuidar de novo, fazer tudo ficar bonito, arrumado e funcionando de novo. Um dos maiores compromissos meus é com a juventude, eu quero e eu vou trabalhar, porque eu, como senador, fiz a lei da conectividade. E a internet do Acre é péssima para as pessoa trabalharem, pagarem suas contas, se comunicarem. Se eu for governador, nós vamos transformar a internet do Acre na melhor internet da Amazônia, da Região Norte, isso dá pra fazer, porque se você tem internet 5G, vai ter mais chances de emprego. Tem muito jovem que vai poder trabalhar com games, eles vão trabalhar com empresas de fora, só tendo um celular e uma internet de qualidade. Esses são os novos empregos que estão surgindo no mundo todo e estão diretamente ligados a uma internet de qualidade. Isso é completamente novo, isso é abraçar a juventude, para que ela possa ter oportunidades, sem ter que ir embora do Acre. Dessa maneira, a economia também vai trabalhar bastante, por exemplo, eu comecei a fazer estradas, asfaltamos as estradas todas, a 317, a 364, a Transacreana, Estrada do Pacífico. Nós que fizemos eletrificação rural em todas as propriedades. Eu agora vou trabalhar o agronegócio sustentável. Nós temos uma região aqui com um milhão de hectares, o Acre tem 16 milhões de hectares, mas não é conversa fiada não, é crédito, é trabalhar com silagem, é trabalhar com mecanização, trabalhar com apoio pro pessoal ter calcário, ter adubo, estimular o plantio, estimular a produção de grãos. Nós temos que ter a oportunidade de chegar lá, tem aí uma história de dois meses, eu e Marcus Alexandre chegando lá, vou dizer pra vocês: vamos ter muito das coisas boas do passado, manter tudo que tem de bom funcionando e vamos fazer muita coisa nova, muita coisa que eu tenho certeza que vai orgulhar o povo do Acre novamente.


BA – O que você espera pra esse período eleitoral, esse período de campanha?


JV – Eu gosto de campanha, eu nasci em uma casa onde, desde cedo, meu pai me passou os ensinamentos dele. A gente não tinha muito sossego em época de campanha, porque, quando tem campanha dentro de casa, o sossego vai embora. Mas, é tão bom servir! Meu pai e minha mãe formavam um casal que mais tinha compadres e comadres do Acre, e esse foi um ensinamento, de olhar pro próximo e cuidar do próximo. Chegavam lá os “colonheiros”, na carroça, de madrugada. Meu pai tirava a gente da cama pra poder oferecer um colchão pro compadre dele. Eu fui criado assim, ali perto do Colégio Acreano, depois no Habitasa, até minha mãe ser levada embora pelo Covid-19, no ano passado, meu pai um pouco antes, e são os ensinamentos deles que eu levo no meu coração e que valem na minha vida. Nesses dois meses, vamos estar visitando as pessoas do Acre, visitando as famílias, e levando esperança para as pessoas, levando um compromisso de que nós vamos trabalhar e criar oportunidades para aqueles que tem seus negócios. Meu sonho é criar uma espécie de OCA do Empreendedorismo. Vamos cuidar das pessoas, cuidar da educação, dar uma atenção especial ao servidor público e socorrer as famílias que estão passando necessidade há tanto tempo.


Fonte: A Gazeta do Acre


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