O coração de Dom Pedro I, morto em 1834, chega a Brasília nesta segunda-feira (22) e, no dia seguinte, terá recepção com honras de chefe de Estado, o que inclui revista à tropa e subida da rampa do Palácio do Planalto. Depois, ficará em exposição no Palácio do Itamaraty até as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro.
A previsão é que o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com o coração chegue à Base Aérea de Brasília por volta das 9h30 desta segunda. Ele ficará guardado no Itamaraty até terça (23), quando irá para as solenidades oficiais no Palácio do Planalto.
O chefe do cerimonial do Itamaraty, ministro Alan de Séllos, declarou neste domingo (21), em fala à imprensa, que “o coração será recebido no Brasil com honras de Estado e será tratado como se Dom Pedro I fosse vivo entre nós.”
Isso significa que o coração terá escolta hípica por integrantes dos Dragões da Independência, passará em revista à tropa e subirá a rampa do Planalto. O Hino Nacional e Hino da Independência, cuja melodia foi escrito por Dom Pedro I, serão tocados.
Na cerimônia, o coração será carregado em recipiente protegido de cerca de 9 quilos pelo chefe de polícia da cidade do Porto, em Portugal, e não estará visível para o público. Quando o coração chegar ao Planalto, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), fará uma saudação.
Após a solenidade no Planalto, o coração retorna ao Itamaraty, onde será o objeto central de uma exposição a ser aberta nos próximos dias.
No dia a dia, o coração não fica exposto à luminosidade. No Brasil, só ficará visível em vitrine especial preparada pelos portugueses na exposição do Itamaraty, ainda assim, situada em sala sem luz natural.
Antes de a exposição ser aberta, haverá uma solenidade no Itamaraty para que diplomatas no Brasil, parlamentares e outras autoridades possam visitar o coração. Herdeiros da família imperial foram convidados. A Orquestra Sinfônica da FAB tocará composições de Dom Pedro I na oportunidade.
Nos dias de semana, a exposição ficará aberta à visitação de estudantes, sobretudo da rede pública de ensino do Distrito Federal. Nos fins de semana, será aberta ao público em geral, mas é necessário agendamento prévio. Instruções devem ser disponibilizadas no portal do Itamaraty. O coração decola de volta a Portugal em 8 de setembro.
Custos não revelados
O Brasil ficará responsável pelas despesas da viagem. A segurança do coração será feita pela Polícia Federal, Polícia Militar do Distrito Federal, pelas Forças Armadas e pelos Dragões da Independência, sob o olhar de autoridades portuguesas.
Na coletiva deste domingo, diplomatas brasileiros não informaram o custo total da operação. Alan de Séllos defendeu que os custos são “absolutamente ínfimos” em relação ao que a data representa e que a operação utilizará departamentos já existentes, como os cerimoniais do governo federal e a própria FAB.
“Trata-se de um valor intangível. A importância eu diria que é transcendental. Não é todo dia que se tem a ocasião de comemorar 200 anos de história de um Estado independente”, declarou.
O embaixador George Prata, um dos coordenadores do grupo de trabalho responsável pela organização das comemorações do bicentenário da Independência, disse que “um avião [da FAB] é como um carro” e “tem que ser usado”.
“Se ele não estivesse sendo usado agora para ir ao Porto, seria usado para ir a outro lugar. Os pilotos precisam de treinamento. Custos extras são muito pequenos. Eu não saberia precisar.”
A FAB cedeu um avião que trará o órgão para o Brasil e o levará de volta ao Porto, em 8 de setembro. O coração será transportado na cabine de passageiros, não como carga, e será acompanhado do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, equivalente ao prefeito da cidade, entre outros.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, não chegará ao Brasil nesta segunda (22) junto com o coração. Ele virá para os festejos de 7 de setembro deste ano, mas desembarcará em terras brasileiras somente mais perto da data.
O presidente de Portugal e os demais chefes de Estado de países de língua portuguesa foram convidados para as comemorações e devem visitar o coração no Itamaraty em 6 de setembro.
Por que coração foi embalsamado?
Segundo Rui Moreira, em texto exposto na sala em que ficará o coração no Itamaraty, antes de morrer, Dom Pedro I pediu à mulher que seu coração embalsamado fosse doado à cidade do Porto como agradecimento pela resistência da população durante o Cerco do Porto (1832-1833), que permitiu a vitória dele em cima de seu irmão Dom Miguel, que à época queria reinar em Portugal.
O desejo foi cumprido e o coração foi entregue à Câmara Municipal do Porto. O órgão, porém, fica guardado na Igreja da Irmandade da Lapa, na cidade portuguesa.
O coração está submerso em líquido semelhante a formol dentro de um recipiente de vidro numa urna na capela principal da igreja, diz o texto na exposição. A urna, por sua vez, é protegida por cinco chaves que abrem outras etapas de proteção antes de se chegar ao recipiente.
As conversas para a vinda do coração ao Brasil começaram em fevereiro a partir de instruções do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, de acordo com o embaixador George Prata.
O embaixador informou que a maior preocupação do lado português em relação à viagem era relativa à segurança do coração. Uma das condições impostas é que o carro a transportar o coração deve sempre andar em marcha lenta, por exemplo.
O Instituto de Medicina Legal (IML) da Universidade do Porto analisou a possibilidade do envio e emitiu laudo técnico de que o coração não corria riscos, disse. Após o laudo, houve ainda uma votação para aprovar a vinda do coração na Câmara local.
“Essas conversas foram sempre muito amistosas”, afirmou Prata sobre o planejamento da viagem do coração.
Quem foi Dom Pedro I
Dom Pedro I foi o responsável por proclamar a independência do Brasil perante Portugal às margens do rio Ipiranga, em 7 setembro de 1822 – a independência política já havia sido anunciada em agosto. Antes Príncipe Regente, foi corado como Dom Pedro I do Brasil.
Dom Pedro I nasceu no Palácio Real de Queluz, no atual município de Sintra, em Portugal, em 1798, mas, em 29 de novembro de 1807, com nove anos de idade, embarcou rumo ao Brasil junto com a família real em fuga das tropas francesas de Napoleão Bonaparte.
Seu pai, Dom João VI, retornou a Portugal em 1821 por causa dos desdobramentos da Revolução Liberal do Porto e a insatisfação dos portugueses com a família real longe. Pedro ficou no Brasil como Príncipe Regente.
Apesar de pressões, Dom Pedro I permaneceu no Brasil e, após série de desgastes com Portugal, rompe com a metrópole. O processo de independência se deu aos poucos e não foi uma surpresa absoluta na época diante da situação instalada.
O reinado de Dom Pedro I enfrentou diversas crises e críticas, como por causa da Guerra da Cisplatina, situação econômica e das infidelidades conjugais. Seu irmão Dom Miguel foi ainda proclamado rei de Portugal pelas cortes de Lisboa. Vários fatores, portanto, acabaram culminando na abdicação de Dom Pedro I do trono imperial em favor do filho de então 5 anos de idade, posteriormente coroado como Dom Pedro II.
Em julho de 1832, desembarcou no Porto e conseguiu derrotar as forças apoiadores de Dom Miguel. Dom Pedro I morreu em 24 de setembro de 1834 em Queluz, Portugal.
Fonte/ CNN BRASIL