Boa parte das pessoas que cediam limites de seus cartões de crédito para a VirtusPay passaram a madrugada em claro: na noite da última quinta-feira, 14, a fintech comunicou que não realizaria os pagamentos das faturas que prometera para esta sexta-feira, 15.
Foi o que aconteceu com a engenheira de software Pollyana Oliveira, de 30 anos de idade. Cliente da fintech desde 2021, ela “emprestou” inicialmente R$ 3 mil. Como foi paga e recebeu os benefícios – no caso, as milhas –, o marido começou também a fazer empréstimos. Hoje, ele tem R$ 65 mil em limites de créditos cedidos em cartões do Itaú, Banco do Brasil e C6.
“Estamos todos surtados no grupo (de Telegram, que reúne mais de 900 pessoas)”, diz ela. “Parece que estamos todos sozinhos e desesperados atrás de uma saída.” O caso foi revelado pelo Estadão/Broadcast nesta semana.
A saída mais óbvia, claro, é a judicial. Há pessoas no grupo do Telegram que já conseguiram liminares para que a VirtusPay realize o pagamento, e a própria Pollyana contratou esse mesmo advogado, que tem trabalhado por “valores simbólicos”.
Mas é uma corrida para todos os lados: tentar bloquear os cartões, pedir estorno aos bancos e fazer barulho nas redes sociais. “O Itaú e o BB concederam crédito de confiança (uma espécie de pré-estorno que depende de confirmação posterior junto às bandeiras de cartão), mas é impossível falar no C6”, diz ela, que mora em Campo Grande.
Correndo para todos os lados
Uma das http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistradoras do grupo, Pollyana conseguiu falar com um dos sócios do VirtusPay por telefone, na manhã desta sexta-feira. Ele mesmo tinha passado o telefone, quando os problemas começaram. “Ele disse que não era um golpe e sugeri que pelo menos eles se comunicassem melhor: pode não ter sido golpe no início, mas agora é”, afirma. “Se eles aparecessem numa live, pelo menos acalmaria o pessoal.”
Pollyana diz que poderia assumir as faturas deste mês, mas quer o cancelamento das parcelas futuras. Ela ainda tem 11 parcelas a vencer. Pollyana e o marido vendiam parte das milhas recebidas em sites como MaxMilhas e HotMilhas ou trocavam por produtos e viagens, mas ela diz que, “nem de longe” o valor recebido cobre as despesas. “Agora que deu problema, a gente começa a pensar que, por tão pouco, não compensava”, diz ela.
Um dos clientes lesados, que mora no Estado do Rio de Janeiro, técnico em mecânica que preferiu não se identificar, pretende entrar com uma ação individual contra a VirtusPay. Ele e a mulher têm R$ 42 mil a receber da empresa, em quatro cartões de diferentes instituições financeiras.
Parte dos bancos não concedeu estornos, dado que as cessões foram realizadas há mais de 120 dias. Outras concederam créditos de confiança. As cessões de limite que os clientes faziam para a VirtusPay entravam nas faturas de cartão como transações.
“Eu troquei algumas das milhas por viagens. Hoje tenho uma dívida de R$ 42 mil, e o ganho de milhas não é exorbitante. Se eu tivesse investigado um pouco mais os problemas que eu poderia ter no futuro, talvez não entrasse (no negócio)”, diz ele, que recorreu a uma reserva de emergência para pagar as faturas de cartão deste mês. No próximo, provavelmente vai recorrer a um empréstimo, para não cair no rotativo dos cartões.
Outro cliente, um funcionário público de São Paulo que também pediu anonimato, também vai buscar uma ação individual contra a VirtusPay, que lhe deve sete de 12 parcelas de uma cessão de R$ 8,5 mil em limite. Questionado sobre a esperança de receber da empresa, foi taxativo: “quase nenhuma”.
Um publicitário de pernambuco, que tem quase R$ 51 mil em créditos cedidos, diz que a decepção foi grande. “Para quem acompanhava a empresa e os CEOs ao longo desses cinco anos, foi um impacto ser vítima desses atrasos. No novo prazo de resolução, antecipado para hoje (15/07) e descartado na noite de ontem, foi o balde de água fria em toda expectativa de honra dos pagamentos. O dia já começou com um sentimento desanimador e preocupações para nossos nomes limpo na praça.”
Como funciona o negócio
Criada há cinco anos, a VirtusPay tem como principal negócio fazer o parcelamento de compras realizadas no comércio eletrônico em boletos para quem não tem crédito. Com os limites dos cartões cedidos, a empresa comprava cédulas de crédito bancário e usava esses recursos para financiar as compras.
Já a pessoa que “emprestava” o limite, recebia como benefício milhas, além de estreitar o relacionamento com seu banco. Um dia antes da prestação do cartão vencer, a VirtusPay depositava o dinheiro para que o portador quitasse a fatura do cartão. No fim do mês passado, parou de fazer esses pagamentos para a maioria dos cedentes.
Procurada, a empresa disse, por meio de comunicado, que “está comprometida com seus clientes para resolver todos os problemas em curso o mais breve possível. A expectativa era finalizar todo o processo até o final dessa semana. Porém, alguns trâmites ainda estão em processo de conclusão e, portanto, não foram finalizados até a data prevista.
É importante destacar que esses processos estão em andamento e devem ser concluídos o quanto antes, permitindo a realização de todos os pagamentos pendentes. A VirtusPay reafirma seu compromisso com a transparência com seus clientes e reforça que está trabalhando incansavelmente para resolver todas as questões.”
Fonte: Estadão