Em evento de lançamento de sua pré-candidatura à Câmara dos Deputados na manhã deste sábado, em São Paulo, a ex-ministra Marina Silva (Rede) desconversou sobre a esperada reaproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Se o nome do petista passou batido por seu discurso, em que Marina defendeu a união das esquerdas para eleger Fernando Haddad (PT) governador de São Paulo e reeleger sua aliada Marina Helou (Rede) à Assembleia Legislativa, ela evitou citá-lo até mesmo quando questionada sobre o assunto.
A ex-ministra do Meio Ambiente de Lula não respondeu se pretende se encontrar com o ex-presidente num futuro próximo e afirmou que não levou o rompimento para o “terreno pessoal”. Ela o chamou protocolormente de “ex-presidente” e se mostrou aberta em se reaproximar do ex-aliado em questões programáticas.
— O que existe é uma disposição, da minha parte, de fazer uma discussão em cima de uma agenda. Na democracia, a gente conversa, a gente pontua as questões que são importantes. Essa não é uma eleição normal — afirmou Marina.
Marina defendeu que um eventual terceiro mandato de Lula, cenário considerável hoje diante da liderança do petista nas pesquisas, seja um “governo de transição” — nas palavras dela, um governo para reestabilizar a democracia e recuperar as políticas públicas e relações institucionais.
Reservadamente, aliados de Marina disseram ao GLOBO que ela e Lula ainda não conversaram, mas que “falta pouco para isso acontecer”. Eles negam que a ex-ministra espere uma iniciativa do petista, e afirmam que o “passo de reaproximação” será dado pelos dois ao mesmo tempo. Não está nos planos, no entanto, um encontro público com os dois.
Marina deixou o cargo de ministra do Meio Ambiente em 2008 após divergências com os então ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. No ano seguinte, abandonou o PT para filiar-se ao PV. Em 2014, quando disputou a Presidência pela segunda vez, foi alvo de uma pesada campanha difamatória do PT e perdeu a vaga no segundo turno para Aécio Neves (PSDB), para quem depois manifestou apoio. Desde então a relação entre ela e seu ex-partido nunca mais foi a mesma.
A decisão de Marina voltar ao Congresso após duas décadas, quando ela deixou o Senado para compor o ministério de Lula, passa pela urgência que o partido tem em ampliar ou mesmo manter a bancada federal, hoje de apenas uma parlamentar. A ex-senadora avalia que precisará de pelo menos 350 mil votos para se eleger, e o partido a considera o nome mais forte para a empreitada. O cálculo a levou a declinar de ser vice na chapa de Haddad ao governo paulista.
Organizado por Helou, o evento deste sábado foi prestigiado por uma série de lideranças de partidos de esquerda, como o próprio Haddad, o vereador Eduardo Suplicy (PT) e o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, cotado para ser vice do ex-prefeito de São Paulo após Marina ser cogitada como primeira opção. Os três parlamentares federais da Rede, o senador Randolfe Rodrigues (AP) e os deputados Joênia Wapichana (RR) e Túlio Gadêlha (PE), marcaram presença.