Durante quatro dias o Festival de Música do povo Yawanawa recebeu centenas de visitantes dos cinco continentes e de várias partes do Brasil, na Aldeia Mutum, no Alto Rio Gregório, município de Tarauacá. Mas o mais importante é que a festividade uniu as 10 aldeias da Terra Indígena para apresentar a mais forte manifestação cultural e espiritual da Nação Yawanawa, a música.
O festival coincidiu com o aniversário do cacique Matsini, celebrado no sábado, dia 16. Ele deu as boas vindas aos indígenas e visitantes debaixo de uma centenária samaúma.
“Depois de atravessarmos tempos difíceis com a pandemia de covid é uma alegria reunir o nosso povo para celebrarmos a vida com muita música e dança, para manifestarmos nossa gratidão aos nossos antepassados”, disse ele.
Durante o festival, as músicas tradicionais foram entoadas em brincadeiras e também em cerimônias espirituais. Os convidados, que venceram as adversidades de uma difícil viagem de mais de seis horas de barco pelo Rio Gregório, quase seco no período de verão amazônico, foram compensados com a música, a dança, as pinturas e a forte espiritualidade na floresta encantada Yawanawa.
O cacique Biraci Brasil, uma das principais lideranças do povo, ressaltou a importância do evento, que teve o apoio do governo do Estado do Acre.
“Aqui estamos mostrando o valor das tradições dos povos originários que, apesar das dificuldades, mantiveram as suas culturas vivas. Nós preservamos a floresta, um patrimônio da natureza e da humanidade”, afirmou Bira.
O cacique exaltou o valor da musicalidade do seu povo como um elo direto com a força e o poder da floresta.
“O povo Yawanawa se alimenta da música, que é a pura expressão da nossa alma. Nós contamos as nossas histórias cantando, e a gente canta para curar as doenças nas nossas cerimônias. Nós somos o povo do canto. Essa é a comunicação que temos com o universo. Somos como os pássaros da floresta, que não param de cantar,” refletiu Bira.
O cacique Taska também exaltou a musicalidade do seu povo através das gerações.
“A música sempre fez parte da vida do nosso povo. A nossa alma precisa expressar alegria. Por esse motivo, os Yawanawa sempre cantaram desde o amanhecer até o final de tarde. O canto nos faz lembrar das histórias do passado, nos conectando aos nossos ancestrais. Eu via meu pai assoviando na floresta e sabia que ele estava conversando com o pai dele que já tinha ido. Os nossos cantos são eternos e passam de geração em geração, sem nunca sair de moda,” ponderou Taska.
O encanto universal dos cantos Yawanawa
O poder da música é um dos principais polos de atratividade e conexão dos Yawanawa com outros povos. Um exemplo é o musicista profissional holandês Dennis Notten, que já tocou nas principais orquestras sinfônicas do mundo, e que se tornou um estudioso da cultura Yawanawa.
“Recebi um chamado das medicinas da floresta e encontrei na cultura Yawanawa um caminho musical muito profundo, que abre as portas do mundo espiritual. Os antigos pajés passam os seus conhecimentos aos jovens das novas gerações por meio da musicalidade das vozes e instrumentos. Essa é a semente plantada pelo pajé Tatá na Aldeia Mutum, que está germinando e encantado pessoas do mundo inteiro”, contou Dennis.
Fortalecimento da economia regional
Os festivais dos Yawanawa foram os primeiros entre os povos indígenas do Acre a se tornarem mundialmente conhecidos. A cada evento, centenas de turistas chegam a Tarauacá e municípios vizinhos, como Cruzeiro do Sul, e acabam criando um movimento econômico que beneficia muita gente.
Os visitantes utilizam transporte local com barcos e táxis, se hospedam em hotéis e se alimentam em restaurantes. Além disso, as compras para subsistência na floresta são feitas nos comércios desses municípios. Tudo isso tem uma representação econômica considerável para a população do Acre.
Um outro fator importante a se destacar é que o turismo étnico e ecológico é sustentável. Fomenta a preservação ambiental e a valorização das culturas nativas dos povos originários da Amazônia.