‘Eu sentia vergonha de ligar para o 190’, conta a sargento da PM vítima de violência doméstica

Volta por cima. A sargento Marlice: “Quando nós mulheres entendemos a força que temos e nos ajudamos, ninguém mais pode nos fazer mal” Hermes de Paula

A violência começou no início do ano de 2012. Eu e meu ex-marido estávamos juntos havia dois anos. Eu descobri que estava grávida, e ele não queria a gravidez. Como não abri mão, ele começou a me maltratar, não parava em casa, me traía com outras mulheres e me contava detalhes dessas traições, me humilhava. Nessa época, eu fechava os olhos e me sentia um lixo. Com sete meses de gestação, eu não tinha comprado nada para o bebê, não conseguia viver aquele momento com alegria e nem fazer planos.


Meus colegas da polícia começaram a perceber que eu estava diferente e me incentivaram a fazer o quartinho do bebê e a cuidar da minha gravidez. Com o acolhimento deles, eu consegui me afastar do meu ex-marido por uns meses. Mas, quando estava perto de minha filha nascer, ele voltou, disse que queria cuidar de mim e da bebê, que tinha mudado, e eu concordei. Estava frágil, com medo de ficar sozinha. Mas essa mudança não durou muito tempo.


Agressões físicas


Logo depois do parto, as agressões psicológicas voltaram e cada vez mais fortes. Até que veio a primeira agressão física, em uma festa de aniversário dele, na frente de várias pessoas. Ele tinha bebido, duas mulheres brigaram na festa, ele ficou muito irritado. A verdade é que, por tudo que acontecia de ruim na vida dele, ele me culpava. Nesse dia, ele me arrastou pelo braço, me jogou no chão, me jogou contra o muro, me chutou. Ali, eu sabia que seria a primeira de muitas agressões.


A minha família não sabia o que acontecia, e eu não tinha coragem de ligar para o 190. Sentia vergonha de ser policial e estar passando por uma situação como essa. Em um episódio, ele me arrastou por uns oito metros em um chão grosso, fiquei com os joelhos sangrando, a perna toda cortada, queria mostrar que estava no comando.


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