Prestes a completar 80 anos de idade, dois a mais que a idade real porque, segundo ele, ao se candidatar a primeira vez, aos 28 anos, teve que majorar a data de nascimento para poder disputar uma vaga de vereador em Tarauacá, início dos anos 70, o ex-deputado e ex-governador interino do Acre por quase 30 dias está de volta à seara da política. Exatamente como na canção “A Volta do Boêmio”, eternizada na voz de Nelson Gonçalves, sendo que ele próprio também se define como um adepto da boemia.
É pré-candidato à Assembleia Legislativa pelo Solidariedade, partido da base de apoio ao governador Gladson Cameli, a quem ele espera apoiar para a reeleição. “Estou só esperando ele me chamar para uma conversa para andarmos o Acre pedindo votos para nós dois”, disse.
Mesmo fora de mandatos por mais de 20 anos, já que perde as eleições que disputou desde 1998, Manuel Machado da Rocha está de volta à política como um peixe em seu habitar natural. Agora, certo de que, com sua experiência pelas novas circunstâncias de novas mídias, como as redes sociais da Internet, que vem usando como nenhum outro candidato, pode voltar ao poder.
Em entrevista ao site Ecos da Notícia, o ex-deputado fala de sua história pessoal, de seu casamento e de filhos fora da relação conjugal, da época envergava uma guitarra e tocava músicas da chamada Jovem Guarde nos clubes de Tarauacá e de Rio Branco, de sua relação com o jogo de baralho que o terá devolvido à pobreza, como começou a carreira política, como chegou a ser governador interino e como vive agora. Com o leitor, um Manuel Machado, politicamente, despido
Ecos da Notícia – O senhor começou sua carreira política em que ano?
Manuel Machado – Em 1972, quando conquistei o primeiro mandato, quando cheguei a ser presidente da Câmara de Vereadores da minha cidade, Tarauacá. Também fui prefeito em exercício na época do prefeito Raimundo Ramos.
Ecos da Notícia – O senhor teve quantos mandatos de vereador?
Manuel Machado – Tive dois mandatos, sempre pelo MDB. Depois eu fui eleito deputado em 1978. Em 1982, fui eleito para o segundo mandato, em 86 tive o terceiro, quando me elegi presidente da Assembleia. Fui deputado estadual em cinco mandatos, por 20 anos, de 1979 a 1999. Fui presidente da Assembleia no segundo mandato, no Governo Flaviano Melo, de 1986 a 1988.
Ecos da Notícia – Não havia reeleição para presidente da Assembleia, na época?
Manuel Machado – Havia, mas também tinha um acordo entre os deputados para que o presidente não disputasse a reeleição a fim de dar oportunidades a outros interessados também em presidir a Casa. Na época, quem concorreu à minha sucessão pelo MDB foi o Wagner Sales, que perdeu a eleição para o Ilson Ribeiro, então no PDS.
Ecos da Notícia – O senhor perdeu a primeira eleição em 1999 e depois, mesmo tentando, não mais se elegeu. O senhor imagina o motivo disso? Qual a causa?
Manuel Machado – Na verdade, eu reconheço hoje, eu relaxei com o meu povo de Tarauacá. Eu deixei de ir lá. Primeiro, porque o mandato e as atividades da política me prendiam muito na Capital. Em segundo lugar, foi porque eu relaxei mesmo.
Ecos da Notícia – Na condição de presidente da Assembleia, com a ausência do vice-governador (Édson Cadaxo, já falecido) e do então governador (Flaviano Melo, hoje deputado federal), o senhor chegou a assumir o Governo do Estado quantas vezes? Quanto dias o senhor como governador do Estado?
Manuel Machado – Eu assumi duas vezes e passei quase um mês como governador. Na primeira vez, foi 11 dias e, na segunda, foi de 16 dias.
Ecos da Notícia – O senhor lembra qual foi a principal decisão que tomou na condição de governador? Qual foi principal feito do Governo interino de Manuel Machado?
Manuel Machado – Minha principal ação como governador foi inaugurar a sede do Banacre (Banco do Estado do Acre, já extinto) em Tarauacá, na minha cidade. Eu voltei a Tarauacá como governador só uma vez e até me arrependo disso. Eu deveria era ter transferido todo o governo para lá, até a Capital, e ter despachado as coisas como governador lá da minha cidade, como forma de homenagear aquela gente tão sofrida. Eu me arrependo disso.
Ecos a Notícia – Quem acompanha a política no Acre, mesmo que o senhor tenha exercido o cargo mais importante do Estado – o de governador, há quem diga que o senhor pouco foi à escola, que é um homem pouco afeito às letras e por isso é personagem frequente do anedotário popular, como a história do diabético…
Manuel Machado – Como é esse negócio do diabético?
Ecos da Notícia – Consta que o senhor estava a bordo de um avião, numa de suas muitas viagens por conta do exercício do mandato, e a aeromoça teria lhe oferecido um cafezinho e o senhor teria pedido sem açúcar. Ela teria perguntado: – o senhor é diabético? e o senhor teria respondido: não, eu sou deputado pelo Acre…
Manuel Machado [rindo…]. Isso é mentira, rapaz. Eu não sou analfabeto não. Tenho segundo grau e sei ler e escrever. Lá em casa, quando a gente era pequeno, quem quisesse estudar, mesmo com sacrifícios, estudava. Tive duas irmãs (Adelaide Neri e Nonata Machado) que chegaram a ser até professoras, uma até da Universidade (Adelaide), de tal forma que lá em casa não tinha ninguém analfabeto não. Mas eu penso assim: se povo diz, deixa que pensem.
Ecos da Notícia – E como é a história dos dois cheques de trinta porque a secretária não sabia e lhe perguntou como preencheria um cheque de sessenta. Como o senhor não sabia mandou fazer dos de trinta. Isso é verdade?
Manuel Machado – É, sim. Mas foi em tom de brincadeira, lá no gabinete. Essa moça, que era minha secretária lá no gabinete, hoje até vive em Manaus e quando a gente se encontra, rimos muitos dessa história. Ela disse: deputado, como se escreve sessenta? Eu, de brincadeira, disse: faz dois de trinta, já que tu não sabes escrever sessenta. Mas aí virou galhofa. Mas eu não fico com raiva disso não. Sou como o meu amigo e falecido governador Edmundo Pinto. Ele dizia sempre: falem mal de mim, mas falem. Para um político, a morte é quando ele é totalmente esquecido. Nesta campanha, sinto que ainda vivo na memória do nosso povo.
Ecos da Notícia – Na sua família, vocês eram quantos irmãos?
Manuel machado – Nós éramos 11 irmãos. Hoje só estamos vivos eu e o Vicente. A mais velha era a Maria. Depois vinha o Crescêncio, aquele delegado de polícia que mataram lá no Humaitá. Nós nascemos no Seringal Santo Amaro, lá em Tarauacá.
Ecos da Notícia – O senhor chegou a cortar seringa?
Manuel Machado – Cortar mesmo eu nunca cortei, mas eu andei muito com seringueiros. É que meu pai era gerente do seringal e tinha muitos empregados, que eu acompanhava no corte e na colheita da seringa. Eu era um ajudante de seringueiro.
Ecos da Notícia – E como foi que esse ajudante de seringueiro decidiu entrar para a política. Como se deu isso?
Manuel Machado – Tudo começou assim: a minha esposa (Rita Machado) era a enfermeira da cidade. Na falta de médicos, o que era comum naquela época, ela fazia às vezes de médica. Hoje a gente avalia que ela deve ter sido parteira de pelo menos 500 mulheres. Isso quer dizer que, em Tarauacá, na zona rural e na cidade, pelo menos 500 pessoas, que hoje são adultas já, nasceram pelas mãos dela. Por isso, a cada eleição, ela sempre era convidada para ser candidata a vereadora. Ela acabou aceitando e eu também concordei. Era em 1970, uma eleição para um mandato tampão, de dois anos. Ela teve tantos votos, quase igual ao prefeito, e exerceu o mandato. Num belo dia eu, que morava perto da Câmara, fui assistir aos debates lá da sessão…
Ecos da Notícia – E o que o senhor fazia antes? Era só marido da vereadora?
Manuel Machado – Além de marido da vereadora, eu tinha uma fazendinha e uma farmácia na cidade. Era comerciante, pequeno, mas dava para sustentar a família. Pois bem. Eu estava assistindo a sessão e vi uma discussão dela com o presidente da Câmara, o vereador Raimundo Simão, que já morreu. Vi aquilo e não gostei. Quando acabou a sessão, eu chamei o vereador e disse: seu Raimundo, não gostei do que vi, o senhor maltratando minha mulher com palavras. Por isso, na outra eleição, o senhor vai discutir é comigo, porque o candidato lá de casa vai ser eu. O vereador disse: não, Manuel, aquilo lá é coisa da política e fica aqui dentro. Eu respondi: pois é, mas eu não gostei e o senhor, no outro mandato, vai se ver é comigo e não mais com a minha mulher.
Ecos da Notícia – E então o senhor se candidatou na eleição seguinte?
Manuel Machado – Sim. Naquele pleito eu tirei votos quase igual ao prefeito. Eu fiz sucesso na campanha. Eu tocava uma guitarra e cantava as músicas da jovem guarda e a juventude ia à loucura. Quase toda a juventude tarauacauense, mais seus pais e outros parentes, tudo votaram em mim.
Ecos da Notícia – Então é verdade que o senhor cantava o sucesso do Roberto carlos “Eu Sou um Negro Gato de Arrepiar”?
Manuel Machado – Sim, é verdade. Eu Gosto de cantar essa música [e começa a cantar à capela, toando uma guitarra imaginaria..].
Ecos da Notícia – E o senhor acha que tem boa voz?
Manuel machado – Acho que dar para o gasto. O que você achou?
Ecos da Notícia – Confesso que já ouvi coisa pior… E como foi que o senhor decidiu ser candidato a deputado estadual?
Manuel Machado – O meu suplente de vereador naquela época, o Pedro Abreu, cuja família dirigia o diretório do MDB na cidade, era maioria. O prefeito Odilon Vitorino tinha o filho, Mardilson Vitorino, que ele queria lançar candidato a deputado estadual, também pelo MDB. Ele apresentou o filho pré-candidato ao presidente do diretório, que era o Nabor Júnior e estava saindo para disputar mais um mandato de deputado federal. Aí o Nabor disse: nós vamos para a eleição dentro do diretório. Quem ganhar no voto lá é o candidato do MDB por Tarauacá. Assim foi feito. Aí o meu suplente, que ficaria no meu lugar de vereador se eu me elegesse, se articulou com a família dele no diretório e aí eu ganhei aquela eleição. Por isso, até meu paletó eu dei para o suplente e marchei para a campanha. Fui eleito em 1978.
Ecos da Notícia – Por que o apelido de Teta? De onde é que vem isso?
Manuel Machado – Coisa de casa mesmo, de irmãos. Era uma dupla, eu e o Vicente, Teta e Dida.
Ecos da Notícia – Você é casado há quantos anos?
Manuel Machado – Eu sou casada nada mais nada menos do que há 52 anos.
Ecos da Notícia – Mas o senhor tem fama de que foi muito namorador. Isso é verdade?
Manuel Machado – Fama besta do passado, coisa que já era. Isso era coisa de quando eu era jovem.
Ecos da Notícia – Há quem diga que o senhor tem muitos filhos fora do casamento. Quantos? E como a dona Rita tratava disso?
Manuel Machado – A Rita sempre foi uma princesa. Hoje ela é minha rainha. Hoje ela está acamada, depois de ter quebrado o fêmur. Está com 84 anos. Quanto a filhos fora de casa, eu devo ter uns quatro, mas hoje todos são de maiores e nem me perturbam por pensão, coisas assim e todos devem votar em mim para deputado.
Ecos da Notícia – Nessa sua longa vida pública, principalmente nos mandatos de deputado nos tempos em que não havia concurso e que eram os políticos que conseguiam empregos públicos, o senhor tem ideia de quantos pessoas empregou no Estado?
Manuel Machado – Eu creio que, naqueles tempos, mais de 600 famílias foram empregadas no Estado através da minha pessoa.
Ecos da Notícia – E essas pessoas retribuíram isso? Continuam a retribuir?
Manuel Machado – Elas me deram cinco mandatos de deputado estadual. Isso não é pouco.
Ecos da Notícia – E por que não deram mais, já que o senhor perde eleições desde 1999?
Manuel Machado – Acho que deveriam ter me dado mais porque eu nunca desprezei nenhuma dessas pessoas. Mas eu acho que as pessoas mais velhas vão morrendo, as coisas vão se renovando e as pessoas mais novas não têm lá muito compromisso com quem ajudou suas famílias no passado.
Ecos da Notícia – E como o senhor está sendo candidato agora, de novo? O senhor acha que agora dar para levar? O que mudou nessas duas décadas em que o senhor ficou sem mandato?
Manuel Machado – Mudou quase tudo e eu estou sentindo que o povo quer a minha volta.
Ecos da Notícia – É muito difícil para um político tradicional que perde o mandato para tentar voltar? No Acre, poucos voltaram ao tentar. Romildo Magalhães não voltou; a ex-governadora Iolanda Lima também não; Chico Sombra e Roberto Filho, ao tentarem voltar à Assembleia, também ficaram pelo caminho. Por que o senhor acha que, com sua pessoa, há de ser diferente?
Manuel Machado – Sinto isso porque não estou sozinho desta vez. E agora, são outros tempos. Temos a Internet, um canal que nos alinha direto com o povo. As minhas postagens em redes sociais não têm menos de 150 mensagens positivas, me informa a minha coordenadoria de campanha. Além da minha experiência, estou andando muito, pedindo a voto a quem conheço e que não conheço. Também estou tendo o apoio dos meus amigos Romildo Magalhães, Chico Sombra e espero conseguir o apoio da família do meu amigo Walter Prado. É por isso que estou confiante.
Ecos da Notícia – Mas voltando ao passado: há uma informação de que o senhor gosta de baralho e tudo o que ganhou, inclusive fazendas e postos de gasolina, perdeu no jogo. Isso é verdade?
Manuel Machado – O povo exagera muito. Eu gosto de jogar um carteado, mas nunca apostei minha vida ou o patrimônio da minha família. Fiquei pobre, por assim dizer, porque fui um político que nunca fez negociata, que nunca montou empresa para se dar bem, como muitos fizeram ao longo do tempo. E fiquei sem muitas posses porque tudo o que ganhei eu dei, ajudei às pessoas que me procuravam.
Ecos da Notícia – Mas do que o senhor vive hoje?
Manuel Machado – De pensão do INSS. Eu recebo uma aposentadoria e minha mulher também é aposentada como funcionária pública. Dar para ir levando e eu não vivo na miséria não. Tenho casa própria, um carrinho para andar e aqui e acolá ainda ajudo a alguém que precisa mais do que eu.
Ecos da Notícia – E essa história de que o senhor vive batendo às portas da Justiça em busca de uma pensão de governador por ter assumido o governo do Acre de forma interina é verdadeira?
Manuel Machado – Eu já corri muito atrás disso, mas desisti. Me convenceram, até amigos meus que são juízes e desembargadores, de que eu não tenho direito por não ter assumido o governo de forma efetiva, apenas de forma interina, apenas com uma expectativa de poder. Mas há pelo menos um caso, se não me engano, no Mato Grosso, de que uma pessoa, na minha mesma situação, ganhou. Mas eu desisti. Cansei de lutar sozinho por isso.
Ecos da Notícia – Boa sorte e obrigado pela entrevista.
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