34 anos depois, compositor revela o real significado de ‘Ilariê’

Em 1986, a apresentadora Xuxa Meneghel foi contratada pela Rede Globo para comandar o programa ‘Xou da Xuxa’. A carreira da loira à frente das telinhas havia começado há pouco, mesmo assim, o grande sucesso de ‘Xuxa com Clube da Criança’, na TV Manchete, fez a emissora da Família Marinho apostar em seu potencial.


Não demorou muito para que a apresentadora conquistasse o título de “Rainha dos Baixinhos”. Seu sucesso estrondoso ultrapassou as barreiras do território tupiniquim e, na década de 1990, a loira chegou a ter seu show exibido em 17 países latinos, nos Estados Unidos e também na Espanha.


Mas de onde surgiu o sucesso de Meneghel? Muitos podem apontar que o romance com o Rei Pelé foi um belo pontapé inicial para tudo; outros dizem que a tutela de Marlene Mattos foi fundamental.


Xuxa e Pelé juntos em praia na capa da revista Manchete/ Crédito: Divulgação / Manchete.

Mas, certamente, a discussão mais bizarra sobre o assunto remete aqueles que não possuem dúvidas: Xuxa assinou um pacto diabólico. E essa teoria conspiratória se tornou ainda mais evidente em suas canções que, quando tocadas ao contrário, revelavam mensagens assustadoras.


“Ilari, ilari, ilariê, oh-oh-oh”

Em 1988, Xuxa Meneghel gravou o disco ‘Xou da Xuxa 3’. Sem dúvidas alguma, o hit que embalou o disco foi ‘Ilariê’, do compositor Cid Guerreiro. Conforme aponta matéria da Superinteressante, a canção ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso do Brasil durante 20 semanas — dividindo o topo com ‘Faz Parte do Meu Show’, de Cazuza.


O fenômeno ‘Ilariê’ foi tão grande que ‘Xou da Xuxa 3’ é, até hoje, o segundo disco mais vendido na história do Brasil, com mais de 3.2 milhões de cópias, segundo ranking publicado pelo site da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus). Só por curiosidade, o mais vendido de todos os tempos por aqui é ‘Músicas para Louvar o Senhor’, de Padre Marcelo Rossi, com 3.3 milhões.


Segundo aponta o IG, o hit foi gravado em 80 dialetos, entre eles uma versão chinesa que teve o trio feminino I.N.G como intérprete. Por lá, a canção ganhou o nome de ‘Jian Jian Mei’. Já nos Estados Unidos, ‘Ylarie’ foi traduzida e adaptada por Eric Thorngren e David Wolff.


Porém, com a mesma medida que veio o sucesso surgiu também as especulações. Afinal, naquela época, algumas pessoas decidiram colocar o disco de vinil da cantora para tocar ao contrário.


Assim, surgiu a teoria de que a canção escondia uma letra de “evocação ao demônio”. Segundo recorda matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História, setores religiosos da população, inclusive, passaram a criticar as músicas da Rainha dos Baixinhos e a bola de neve foi ficando cada vez maior. Principalmente quando outras canções da loira passaram a ser tocadas de trás para frente.


Um outro exemplo disso é ‘Doce Mel’, de 1993, que faria referência ao Exu das religiões de matriz africana e ao ato de beber sangue de crianças.“Parece que Exu não sai daqui./ E sangue entra na boca como lanche./ Nova era livre e solta na avenida./ E sangue, sangue, sangue”.


A bizarrice foi além das canções e chegou até mesmo na famosa boneca da Xuxa que foi lançada em maio de 1987. Uma lenda urbana dos anos 1990 aponta que o brinquedo teria sido responsável pela trágica morte de uma criança na cidade de Sorocaba.


O que significa Ilariê?

Mas, então, se ‘Ilariê’ não possui nenhuma mensagem subliminar, o que essa palavra significa? Essa, sem dúvida alguma, deve ter sido uma das perguntas que Cid Guerreiro mais ouviu em toda sua vida.


Em entrevista recente ao Splash, do UOL, 34 anos depois do fenômeno ‘Ilariê’, o compositor finalmente falou sobre a canção. Hoje convertido à Igreja evangélica, Guerreiro refutou qualquer hipótese relacionada ao diabo.


Segundo conta, o boato começou por meio de um pastor que tinha Xuxa como alvo. “O boato surgiu dentro da igreja evangélica. Falavam que era um ex-bruxo que virou pastor e espalhava que ‘Ilariê’ tinha a ver com ‘erê’, as crianças do candomblé, que a Igreja considera como pequenos demônios”.


Capa do álbum Xuxa 5, lançado em 16 de julho de 1990/ Crédito: Wikimedia Commons.


Inventaram que era uma palavra de um dialeto africano, sendo que fui eu que inventei. Esse cara dizia que eu fiz o pacto e entreguei a música para a Xuxa. Ela era o alvo”, continua Cid.


Esclarecendo de uma vez por todas essa polêmica, o compositor aponta que ‘Ilariê’ nada mais é que uma de suas invenções e que o termo surgiu como uma variação da palavra “hilária”, que era uma qualidade que ele via muito em Meneghel.


A Xuxa é uma pessoa animada, feliz, alto astral, sempre para cima. Ela é hilária. Criei o refrão pensando nisso”, aponta.


“Na música da Bahia, temos muito forte isso do refrão com ‘iê iê’, ‘uô uô’. ‘Ilariê’ vem disso. Eu precisava de um refrão forte e, na época, tinha uma música de sucesso chamada ‘Dança do Bambolê’, fiz para rimar”, esclarece.


Fonte/ Portal UOL


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