Foi escutando uma música em casa que Thiago Roselem teve o insight que guiaria uma grande mudança em sua carreira. O empreendedor, que atuava no ramo de alimentos desde 2012, escutava ‘Tropicana’ de Alceu Valença, que em certo trecho diz “pele macia, é carne de caju”. Bastou essa frase para sua mente pipocar ideias inovadoras. Afinal, se existe uma carne de caju, tem a oportunidade do produto ser explorado.
Seguindo com a ideia, o destino se encarregou de dar vários “empurrõezinhos”. Ao entrar em contato com a Embrapa, Roselem foi conectado à pesquisadora Janice Lima, que já desenvolvia um estudo com a fibra da fruta e estava de mudança para o Rio de Janeiro, onde ele atuava. Depois de muita pesquisa e testes, chega ao mercado, em novembro de 2020, a Amazonik Mundi, uma foodtech (startups que atuam no ramo alimentício) que produz proteínas veganas com a fibra de caju que antes era descartada pelas indústrias de suco e outras matérias-primas, como o tucupi preto e a pimenta indígena assîsî.
“A ideia sempre foi de trabalhar com a floresta e não se apropriar dela. É um ‘colab’ com as comunidades indígenas e ribeirinhas para que a gente consiga, com eles, promover o trabalho que não precise cortar árvores ou fazer qualquer tipo de trabalho que não seja legal. Fazendo com que eles consigam tirar proveito disso e valorizar o que eles mais têm, que é a cultura”, explica Roselem. Menos de um ano depois, a foodtech já produz toneladas de carne vegetal por dia, sendo só de hambúrguer 4.200 por hora.
O investimento em mais pesquisas nessa área se torna essencial, já que a demanda por alimentos sustentáveis só tende a aumentar, seja pela consciência dos consumidores ou por uma necessidade mundial. A Embrapa publicou um estudo que indica que a produção agrícola global precisa crescer 70%, até 2050, apenas para alimentação da população, que deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas, sem contar na necessidade de biocombustíveis e nas mudanças climáticas que podem limitar a produção.
“A preocupação é se vai ter comida e água para todo mundo (…) A capacidade de produção de proteínas de base vegetal é mais eficiente do que a de proteína animal. Esse espaço do vegetarianismo, do veganismo, ele vem a corroborar para que a gente tenha uma estratégia de aporte protéico e que também a gente tenha uma alimentação mais sustentável”, comenta André Dutra, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Alguns movimentos, como o Segunda Sem Carne, colaboram para a redução do consumo de proteína animal. Uma pesquisa do Ipec (2021), a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), aponta que 46% da população brasileira deixa a carne de lado ao menos uma vez por semana e que um terço da nação busca opções veganas em seus cardápios.
Fonte/ Portal Yahoo.com