A internacionalização da Amazônia, inclusive das áreas de fronteira além do Brasil, e localizadas em países como Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela, com gestão de todos os países interessados em sua preservação, vem sendo defendida pelo teólogo Leonardo Boff, um dos maiores pensadores da Igreja Católica na América Latina.
Boff e seu irmão Clodovis foram muito ligados ao Acre por causa das relações de amizade que mantinham com o então bispo prelado local, Dom Moacyr Grechi. Além da polêmica em relação à Amazônia, os irmãos Boff chegaram a ser suspensos de atividades religiosas pelo Vaticano, por ordem do então papa João Paulo II, por serem difusores da chamada “Teologia da Libertação”, que propunha uma Igreja voltada exclusivamente para os mais pobres.
Na semana passada, durante um programa de rádio, Leonardo Boff classificou de retrógado o discurso militar, da extrema direita e da esquerda nacionalista segundo o qual a “Amazônia é nossa”.
“A Amazônia é de toda a humanidade e não propriedade do Brasil”, disse Boff, que foi frade franciscano e padre. Em 1992, ele se auto-promoveu ao estado leigo, diante da ameaça de uma segunda punição pela hierarquia do Vaticano (foi punido anteriormente em 1984, por seu livro “Igreja, Carisma e Poder”).
Leonardo Boff é autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. A maioria de sua obra está traduzida nos principais idiomas modernos. Expoente da Teologia da Libertação, é considerado um dos pensadores mais ousados sobre a questão ambiental e respeitado mundialmente. Suas ideias tiveram grande impacto na encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente, de 2015, “‘Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum”. O texto é considerado um dos mais avançados na temática ambiental no século 21.
É ligado ao Partido dos Trabalhadores, e seu discurso foi imediatamente rechaçado por aliados do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, candidato petista à presidência da República, líder em todas as pesquisas de opinião pública com vistas às eleições presidenciais deste ano.
Um dos aliados de Lula no Congresso, o senador Paulo Rocha (PT-PA), fez questão de vir a público nesta quinta-feira (30), para desautorizar o discurso de Boff como petista. O parlamentar destacou a publicação de artigo de sua autoria publicado na semana passada – Amazônia é nossa. O parlamentar esclareceu que o objetivo da publicação foi uma resposta ao teólogo Leonardo Boff, personagem notável da Teologia da Libertação e suas posições segundo as quais a a Amazônia deve ser “internacionalizada e ter gestão global”.
Pela importância do tema, o parlamentar pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que o texto do artigo seja inserido nos anais do Senado. De acordo com o senador, Boff justificou, em seus argumentos, que considera o bioma amazônico pertencente aos outros nove países do qual faz parte, e não apenas ao Brasil, e que o bioma também “constitui um bem comum da Terra e da humanidade”.
Paulo Rocha declarou, ainda, que considera Leonardo Boff um “dos maiores intelectuais e homens públicos que o Brasil já produziu”. Ressaltou, por exemplo, sua produção intelectual, além da sua dedicação relacionada aos direitos humanos, o combate à pobreza e às desigualdades sociais no Brasil.
“Não obstante, para não dar margem a especulações ou a confusões, devemos esclarecer que o Partido dos Trabalhadores discorda do eminente Leonardo Boff nesta questão específica. O PT considera que a soberania do Brasil sobre a Amazônia é incontestável, não podendo ser relativizada em nome do imprescindível combate mundial às mudanças climáticas. Em nosso entendimento, a soberania nacional sobre a Amazônia não implica submetê-la a ações predatórias ou negligenciar nossos compromissos ambientais internacionais, como faz, de forma criminosa, o atual governo”, declarou.