Como parte de um projeto que busca propor uma revisão da história acreana, o livro “Não foi Revolução nem Acreana” propõe uma revisão da fase militar do processo de nacionalização do estado acreano pelo olhar e pesquisa do pós-doutor em História Eduardo Carneiro. O livro ainda não tem data para ser lançado.
De acordo com o pesquisador, o que se sabe sobre a história do Acre não foi escrito por historiadores. Os escritores da época eram militares, engenheiros, jornalistas e advogados que assumiram uma visão heroica dos fatos. Por isso, o intuito do livro é apresentar uma narrativa científica da história acreana.
“Então, o projeto revisionista que propus foi enquadrar a narrativa do passado do Acre nos métodos e técnicas de redação científica, tentando aproximar o conhecimento histórico ao máximo da verdade e, consequentemente, distanciando-o da história politicamente correta que vigora hoje. Revisar a história é isso: fazer uma releitura das fontes, descobrir novos acervos e o emprego de novos métodos e teorias na produção do conhecimento”, explica.
Eduardo fala que a expressão “Revolução Acreana” não é utilizada de forma correta, pois não descreve com fidelidade o evento.
“Então, no livro, eu explico o conceito de revolução, desde o emprego dele na astronomia do século XV. Mostro a evolução do conceito até chegar na dita Revolução Francesa, que se tornou o evento de referência para a semântica moderna da palavra […] Eu historicizei o uso da palavra ‘revolução’ no Brasil, mostrando o quanto ele era mal-empregado”, explica.
A pesquisa foi realizada com base nos jornais da época que utilizavam diferentes nomes para se referirem ao fato.
“A escolha do termo não passou por critérios científicos e sim ideológicos. O desafio que assumi foi mostrar que a Revolução Acreana foi inventada como revolução. Eu mostro como os jornais da época chamavam-na de outros nomes: guerra do Acre, revolta do Acre, insurreição do Acre, etc. Porém, a ‘revolução’ prevaleceu, não que fosse a tipologia mais adequada, mas que era a politicamente correta”, conta.
O pesquisador diz também que estuda o assunto há mais de dez anos e já escreveu mais de seis trabalhos referentes ao assunto. Todos com a perspectiva de revisitar a história acreana, com muito estudo e pesquisa.
“Defendi meu mestrado, doutorado e pós-doutorado sobre o mesmo. Pesquisei nos acervos que estão no Rio de Janeiro, Pernambuco, Brasília, Manaus e os de Rio Branco. O trabalho foi árduo, pois o que encontrei foi um volume muito grande de livros ‘embriagados’ de acreanismo, ou seja, presos a um projeto identitário. Por isso que desconsiderei tudo o que havia lido sobre Revolução Acreana e voltei-me às fontes primárias e, delas, fiz suscitar um novo conhecimento do assunto, mais isento de paixões e ideologias”, complementa.
Ele explica também que o livro propõe uma leitura alternativa à oficial sobre a nacionalização do Acre. Além disso, a obra é baseada em análise de uma vasta documentação e apresenta a conclusão obtida com a pesquisa.
“Infelizmente, a conclusão que cheguei fere um pouco o sentimento de acreanidade, porém, eu prefiro provocar feridas narcisistas no eu acreano e ter uma imagem dele mais próxima do real, do que me embriagar de ‘acreanismo’ e sentir orgulho de um eu acreano que não existe. Acredito que o povo não precisa de uma epopeia, muito menos de heróis. O que todos nós queremos é uma educação emancipatória que promova a conscientização política e não a alienação por meio da manipulação da história,” conclui.