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Marina sobre ser vice de Haddad: ‘Diálogo com PSB ainda não se concluiu’

Em evento que acontece na manhã de hoje, a Rede oficializa apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo. A grande expectativa em torno dessa aliança é saber qual o papel destinado a Marina Silva, o principal nome do partido. O plano original é que ela se candidate a deputada federal, como puxadora de votos da legenda, mas são cada vez mais fortes os comentários de que poderia ser vice na chapa de Haddad.


Perguntada sobre o assunto, Marina cita as negociações do PT com o PSB, de onde sairia o companheiro de chapa de Haddad. Mas não chega a descartar a hipótese. “Essa questão tem surgido na imprensa, mas o que eu tenho acompanhado é que o ex-ministro tem procurado fazer um processo de sinalização dos diálogos com o PSB e que somente depois ele vai pensar em outras alternativas”, diz ela.


Nessa entrevista, a ex-ministra do Meio Ambiente explica as bases da parceria com o PT de São Paulo e confirma que — apesar dos ataques que sofreu no passado por parte de petistas – pode considerar ficar ao lado de Lula. “No plano nacional, o que tenho dito é que estou aberta ao diálogo desde que seja em cima de propostas, de ideias”, explica.


UOL – Em quais bases está sendo firmada essa aliança com a candidatura de Fernando Haddad ao governo de São Paulo?


Marina Silva – É um processo que vem sendo discutido na Rede de São Paulo já há algum tempo e foi concluído há uns quinze dias, a discussão nos elos municipais, que são em torno de 86 municípios. Ficou decidido por unanimidade que a Rede de São Paulo iria apoiar a candidatura do ministro Fernando Haddad.


A Rede não se orienta pelas estruturas verticalizadas dos partidos tradicionais de esquerda. A gente tem um processo que nós chamamos de consenso progressivo. Quando não é possível esse consenso progressivo e se não fere cláusulas pétreas do partido, a militância e as lideranças são liberadas, como aconteceu no caso do impeachment, como aconteceu agora em relação a Ciro e o ex-presidente Lula, em que foi liberado para apoiar no campo democrático Lula e o Ciro.


No caso aqui de São Paulo, a Rede está se dispondo a trabalhar junto com o grupo de programa do candidato, ao lado dos demais partidos. Obviamente que para nós importante a questão do combate à desigualdade, a recuperação econômica de base sustentável, segurança, educação, ciência, tecnologia e inovação. Uma série de medidas para as populações que estão inteiramente em situação de vulnerabilidade. São Paulo tem uma situação inaceitável de pobreza e de pessoas vivendo em situação de rua.


São fortes as especulações sobre a possibilidade de a sra. ser vice na chapa de Haddad. Isso procede?


A discussão que a Rede tem feito é para contribuir provavelmente com minha candidatura a deputada federal. Essa questão tem surgido na imprensa, mas o que eu tenho acompanhado é que o ex-ministro tem procurado fazer um processo de sinalização dos diálogos com o PSB e que somente depois ele vai pensar em outras alternativas.


Nós estamos numa federação com o PSOL. Obviamente que a Rede tem a sua autonomia em termos do diálogo, mas procurando construir sempre conjuntamente com a federação naquilo que for melhor para viabilizar o projeto. Nosso foco nesse momento tem sido as candidaturas para deputado federal, a reeleição da deputada Marina Helou, que tem feito um excelente trabalho. Temos acompanhado com interesse de contribuir programaticamente com o candidato e ao mesmo tempo aguardando que possa ter um bom desdobramento o diálogo que vem sendo feito entre o candidato e o ex-governador Márcio França.


Se chegar esse convite para ser vice qual é a sua disposição? A sra. aceitaria?


Olha, eu prefiro tratar em cima do que é a realidade dos fatos hoje. A gente está contribuindo programaticamente, nós queremos o que é melhor pra São Paulo. Estamos focados em dar uma contribuição para melhorar a qualidade do Parlamento nos temas que interessam ao Brasil e ao estado de São Paulo, diante da situação terrível que temos hoje.


Temos várias candidaturas a deputado federal, além da possibilidade de eu mesma vir a ser candidata. Um exemplo é a candidatura do cientista, pesquisador, ex-presidente do INPE, Ricardo Galvão.


Não há nada de concreto, mas pelo que entendi a sra. não descarta a possibilidade de dividir a chapa com Haddad.


Não é disso que se trata. Esse debate está posto no lugar correto: tem um diálogo que vem sendo feito com o PSB. Esse diálogo não se concluiu. Há uma torcida para que se tenha o melhor resultado em benefício do projeto que está sendo trabalhado com PSOL, Rede, espero que também com PSB, o PV, PCdoB, para que tenhamos uma alternância de poder depois de mais de trinta anos de governo do PSDB.


É desse desafio que nós estamos imbuídos e eu quero contribuir da melhor forma possível com esse debate, para que a gente possa ter uma candidatura, um projeto, que seja bom para São Paulo, bom para o Brasil. Principalmente bom para o povo de São Paulo com tantos sofrimentos que tem, pessoas em situação de vulnerabilidade social, de insegurança. Inclusive, em muitos momentos, pelo rebatimento com a questão da mudança climática, os eventos extremos assolam São Paulo. A questão da segurança hídrica, da segurança energética, em função inclusive do desmatamento da Amazônia. Todos esses temas são estratégicos.


Em uma postagem recente nas redes sociais a sra. disse que não trabalha no “terreno dos rancores”. Depois de ser tão atacada em eleições passadas por integrantes do PT, essa aliança é uma prova disso?


Eu me oriento programaticamente. Foi feito um diálogo, eu sempre tive uma relação de respeito e amizade com o Fernando (Haddad). Desde que éramos ministros isso prevaleceu. Você sabe que no segundo turno das eleições de 2018 eu apoiei a candidatura do Fernando por entender que o Bolsonaro era um risco imediato aos povos indígenas, à agenda ambiental, aos direitos humanos, às políticas sociais. É com essa lógica que eu me oriento.


Não se trata em hipótese nenhuma de deixar as divergências. Eu trato divergências políticas como divergências políticas. No caso de São Paulo, o diálogo sempre teve a possibilidade de ser muito fluido com o Haddad porque temos uma relação que precede 2018, quando eu declarei apoio a ele. E o trabalho que fizemos juntos quando eu era ministra do Meio Ambiente e ele era ministro da Educação.


No plano nacional, o que tenho dito é que estou aberta ao diálogo desde que seja em cima de propostas, de ideias. Não existe apoio incondicional, existem questões que precisam ser tratadas no terreno das concepções políticas e não das subjetividades. Como não me oriento pelo terreno dos rancores, estou aberta ao diálogo em torno de ideias e de propostas.


Qual a importância de São Paulo para o objetivo de derrotar o bolsonarismo a nível nacional?


É muito importante que os 27 estados da nossa federação compreendam que o Brasil não suportará mais quatro anos de Bolsonaro. Todos os dias temos mísseis e mísseis sendo jogados em cima da saúde, da educação, da ciência, da tecnologia. Ele raspou o dinheiro para a pesquisa, do meio ambiente, dos povos indígenas. A economia está em frangalhos.


Tem o ataque à democracia, a desestruturação dos fluxos democráticos do nosso país. Mais importante que derrotar Bolsonaro é derrotar o bolsonarismo. Mais do que mudar de governo é mudar a realidade social e econômica do país.


São Paulo tem um papel importante e cada vez maior no sentido de que não seja apenas mudar de governo. É contribuir para a realidade, para um novo projeto de país. Contribuir para que se tenha um governo de transição, aqui em São Paulo e no Brasil.


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