Gravidez silenciosa: é possível estar grávida e não perceber?

O fenômeno da “gravidez silenciosa” virou até tema do canal Discovery H&H quando exibiram o projeto “Eu Não Sabia Que Estava Grávida”.


Recentemente, o caso Klara Castanho trouxe à tona o tema. A jovem revelou que foi estuprada, gerou um bebê e descobriu a gestação tardiamente, em um exame de tomografia. “Comecei a passar mal, ter mal-estar. Um médico sinalizou que poderia ser gastrite, uma hérnia estrangulada, um mioma”, escreveu na sua carta aberta.



“Estava quase no término da gestação quando soube”


Ainda na carta, Klara revelou que só soube da gestação quase no seu término, e que a notícia foi um choque. A revelação impressionou e perguntas como “É possível não perceber uma gravidez?” tomaram conta das redes sociais.



A ginecologista Larissa Cassiano, que tem foco em gestação de alto risco, explica que esses casos não são muitos comuns e estão relacionados a alguns fatores importantes, como traumas e ciclos irregulares.


“A gente superestima isso. A maioria das pessoas que têm relatos dessa gravidez não tinham boa percepção do ciclo, por exemplo. Às vezes tinha um ciclo muito irregular ou a pessoa não costuma anotar a menstruação e não percebe tanto essa mudança (no ciclo). Pessoas atletas, por exemplo, não têm um aumento abdominal tão significativo ou pessoas que estão acima do peso”
Larissa Cassiano


Segundo a médica, é muito raro que a pessoa não sinta nenhuma mudança significativa até o segundo trimestre da gestação, que é quando os sinais se intensificam. “É mais ou menos a história da Klara: não percebeu nada, mas quando viu já estava avançada. Mas, no caso dela, tem todo um contexto. Ela passou por uma violência. Na maioria das vezes, quando há algum trauma, as pessoas não conseguem assimilar a gestação”, pontua.


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O aspecto psicológico tem peso nessa história


O obstetra Wagner Hernandez reforça que a questão psicológica tem um peso importante quando falamos de traumas.


“A gente acredita que, tem sim, um percentual que não percebe nada, mas também tem um perfil de negação. Até talvez tenham dúvida, imaginam que possam estar grávidas, mas acabam negando. É uma coisa de aspecto psicológico. Faz um bloqueio, não enxerga os sintomas”
Wagner Hernandez


O médico já presenciou casos parecidos, principalmente em prontos-socorros. “Lembro de um caso que um colega chegou para mim e disse: ‘Olha, tem uma paciente com um tumor ginecológico, deve ser cisto de ovário. Você pode avaliar?’ Quando fui ver era um bebê que estava nascendo”, relembra.


O aspecto emocional ainda acumula outros traumas. Pessoas com ansiedade e/ou depressão, por exemplo, têm uma incidência maior de partos prematuros, segundo o obstetra. “É importante sempre dar todo o apoio necessário para que elas possam ter uma gravidez saudável dentro do contexto”, alerta.


Alterações podem ser perceptíveis


Mesmo sem a certeza da gravidez, algumas alterações corporais podem ser percebidas ao longo dos meses. Larissa cita algumas: ciclo menstrual muda o intervalo, a mama fica mais dura, vez ou outra surge uma náusea. A obstetra ainda cita que, no caso de Klara, como ela tomou pílula do dia seguinte (um dos passos após violência sexual), a mudança no ciclo é certeza.



Pós violência


Vale lembrar que existe um procedimento específico para atender pessoas que sofreram violência.


A Agência Patrícia Galvão – que produz e divulga notícias, dados e conteúdos sobre os direitos das mulheres – listou os direitos das vítimas:


Entre as informações que devem ser prestadas às vítimas de violência sexual ou responsáveis, destacam-se:


Direito a atendimento imediato, gratuito, integral/multidisciplinar e obrigatório em todos os hospitais integrantes da rede do SUS (Lei do Minuto Seguinte, Lei 12.845/2013);


A não exigência de boletim de ocorrência para atendimento na saúde (Norma Técnica Ministério da Saúde, 2012);


Serviços públicos de referência em saúde disponíveis;


Direito de interromper a gestação (Código Penal – únicos requisitos: estupro e consentimento da vítima).



O relato doloroso da atriz poderia ter sido de muitas mulheres. Na verdade é. O Fórum Nacional da Segurança Pública levantou que em 2021 o Brasil teve sete mulheres estupradas por hora.


A atriz fez todos os passos corretos quando falamos de adoção legal: a prática de entregar a criança aos cuidados de outra família, diante de um processo comandado por uma Vara da Infância e Juventude, é uma prática prevista e assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A mãe que opta por esse procedimento tem direito, inclusive, ao sigilo do caso garantido.


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