Das 30 cidades mais violentas do país, 13 delas estão na Amazônia, aponta o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que divulgou, nesta terça-feira (28), os dados do Anuário com base nos casos registrados entre 2019 e 2021. Nenhuma das 13 cidades mais violentas da região está no Acre, embora o Estado se ressinta da necessidade de mais delegados de polícia, atesta o Fórum. Em todo o Acre, há apenas 78 delegados de polícia civil para uma população próxima a 1 milhão de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
O estudo elaborou um ranking usando como referência o índice de mortes. Segundo o Fórum, a presença de 13 cidades da Amazônia demonstra que o cenário de violência em áreas fronteiriças e perto de comunidades indígenas já fazia parte dessas regiões muito antes dos assassinatos do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. O correspondente do jornal britânico The Guardian e o servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio) foram mortos a tiros no dia 5 de junho no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), no Vale do Javari.
No levantamento deste ano, a novidade foi a inclusão de municípios pequenos, com um cálculo proporcional relacionando a quantidade de moradores e as mortes violentas intencionais, incluindo homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e assassinatos em ações da polícia. “Os defensores do meio ambiente seguem em risco“, disse Alessandra Sampaio, viúva de Dom, em carta lida no velório do jornalista, cremado no último domingo (26) no cemitério Parque da Colina, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.
O levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública considerou um recorte de três anos, entre 2019 e 2021, “para evitar distorções“, já que assassinatos registrados em apenas um ano seriam insuficientes para indicar o fenômeno em cidades de pequeno porte. “Com três anos, dá para dizer que a violência está presente no território. E é a média dos últimos três anos, não algum episódio pontual. Nem países em guerra têm essa proporção”, diz o Fórum, o qual vê ainda um cenário de impunidade fortalecido pela precária estrutura das forças de Segurança nessas regiões. “No Acre, há apenas 78 delegados de Polícia Civil. Em Roraima, são 56. O delegado é o cargo responsável por fazer as investigações criminais. Com isso, dá para perceber o quanto é difícil fazer Justiça na Amazônia“, analisa o documento.
Das 30 cidades mais violentas do país, há 19 rurais, oito intermediárias e três urbanas. Pará é o estado que lidera o ranking (7 cidades), seguido de Bahia e Rio Grande do Norte (5 cidades cada um) e Ceará (4 cidades). Japurá (AM) é a menos populosa delas, com apenas 1.755 moradores, de acordo com dados do IBGE.
Um indígena da etnia Munduruku foi assassinado em Jacareacanga (PA), que figura na região da Amazônia Legal e aparece em 2º lugar na lista dos municípios mais violentos do país, conforme o Anuário. Arlesson Glória Panhum da Silva, 21, foi morto a tiros quando estava em um bar. Três dias após o crime, o suspeito de matar o indígena acabou sendo assassinado em sua casa durante uma ação da Polícia Militar, que afirmou ter reagido a disparos. Um revólver foi apreendido no local, informou a PM. Elzilene Tavares Viana e o filho Luiz Felipe Viana Antônio da Silva foram assassinados em Aripuanã (MT) No período analisado pelo Anuário, há casos de repercussão em municípios na Amazônia listados como os mais violentos do país, como o assassinato de quatro pessoas na saída de um garimpo ilegal de Aripuanã (MT), em novembro de 2020.
De acordo com o boletim de ocorrência, uma jovem de 19 anos, que estava grávida e era casada com Jonas dos Santos, de 25 anos, uma das vítimas, teve a vida “poupada” após o marido implorar aos suspeito que a liberassem. Na ação, também foram mortos Elzilene Tavares Viana, 41, o marido Leôncio José Gomes, de 40, e o filho do casal, Luiz Felipe Viana Antônio da Silva, de 19.
Em depoimento, a sobrevivente relatou que os assassinos estavam encapuzados. Ela disse ter sido levada de carro pelos suspeitos até Juína, onde eles pagaram a passagem de ônibus dela e disseram para ela “desaparecer“. Quase dois anos após o crime, o caso segue sem solução.
Apipuanã figura em 10º lugar no ranking das cidades mais violentas do país elaborado pelo Anuário. o ano passado, o Brasil registrou 47,5 mil mortes violentas e a taxa chegou a 22,3 mortes para cada 100 mil habitantes — uma queda de 6,5% em relação a de 2020 (23,8, quando houve registro de 50,4 mil assassinatos). Trata-se do menor índice da série histórica, iniciada em 2011. Ao todo, 77,6% das vítimas de mortes violentas são pessoas negras. Em 2017, o Brasil atingiu um recorde de assassinatos e a taxa chegou a 30,9 mortes para cada 100 mil habitantes. O índice caiu em 2018 e 2019 e voltou a subir no ano passado.
O levantamento elaborado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que policiais mataram 6,1 mil pessoas em 2021, queda de 4,9% em comparação aos 6.413 registros de 2020. Ao todo, 84% das pessoas mortas em ações policiais eram negras. Em 2021, 190 policiais foram mortos no país —queda de 12% em comparação aos 222 registros de 2020. Desde 2013, quando o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a monitorar o número de mortes em intervenções policiais, ao menos 43.171 pessoas foram vítimas de ações de policiais civis ou militares de todo o país —os números não incluem os dados de mortes por intervenções de policiais federais e rodoviários federais. pesar do elevado número de mortes em decorrência de ações policiais, que equivalem a 12,9% de todas as mortes violentas intencionais no país, o Brasil viu esse número reduzir pela primeira vez em 2021. Contudo, elevadas taxas de mortalidade em ações policiais permanecem em vários estados. O caso alarmante é o do Amapá, a polícia mais violenta do país, onde a taxa de pessoas mortas em intervenções foi de 17,1 por 100 mil habitantes, quase seis vezes a média nacional de 2,9. Sergipe aparece em 2º lugar no ranking de letalidade policial, com taxa de 9 mortes por 100 mil habitantes, seguido de Goiás (8). Em 4º lugar, o Rio de Janeiro, com 1.356 vítimas, em números absolutos.