O corpo do advogado Luiz Sarava Correia será sepultado em Rio Branco (AC) nesta terça-feira, 10. Ele morreu aos 77 anos na noite de segunda-feira, na Pronto clínica, um hospital privado na Capital, ao lado da esposa, professora Tutu Marques, dos filhos Guto, Luiz e Daniela, além dos netos. “Estava sereno e partiu tranquilo, ao lado daqueles que o amavam e que ele também amou”, definiu o amigo Nené Junqueira. Fazia anos que ele lutava contra um câncer.
Natural do interior do Ceará, Luiz Saraiva chegou ao Acre no início da década de 1970, já como advogado, para defender latifundiários em permanente conflito com seringueiros que ocupavam terras onde nasceram e criaram suas famílias e que agora passariam a pertencer a novos donos, os chamados “paulistas”, como eram definidos os fazendeiros que iriam aquelas florestas e transformá-las em pasto para gado. Mas o que deveria ser um advogado de classe e inimigo dos oponentes de seus clientes, na maioria fazendeiros de fato, acabaram por se tornar amigos, já que uma das especialidades de Luiz Saraiva era exatamente esta: a de fazer e colecionar amigos.
Por isso, sua morte vem sendo tão lamentada. Do governador Galdson Cameli, passando pelo deputado presidente da Assembleia Legislativa, Nicolau Júnior (PP), de parlamentares como o ex-juiz de Direito Pedro Longo, a ex-alunos da faculdade Faao, onde ele lecionou,, ou afilhados da maçonaria, onde ocupou o grau máximo, além de frequentadores anônimos do Bar da Ray, uma birosca localizada no bairro Quinze, no Segundo Distrito da Capital – todos lamentaram a perda do cearense que se tornou um acreano convicto.
Boêmio, sempre bem humorado, contador de causos e piadas, principalmente sobre o interior do Ceará, por longos anos e antes de a doença se manifestar, aos sábados, ele se reunia com amigos para, entre uma cerveja e outra, ouvir músicas de qualidade, como as da MPB (Música Popular Brasileira), que tanto gostava e que às vezes insistia em cantar, apesar da completa falta de afinação. Nutria grande admiração pelo obra conterrânea de Catulo da Paixão Cearense e nutria total admiração pela qualidade da MPB), a qual fazia os amigos ouvirem com profusão.
Fora dali, além da advocacia exercida quase como de forma sacerdotal, Luiz Saraiva tinha muitos afazeres. Pecuarista, foi presidente da Federação da Agricultura do Acre, se dedicava às obras da maçonaria e também era professor. Em 1990, convidado por amigos, aceitou disputar o mandato de deputado estadual. Foi o menos votado daquela legislatura, mas, apurado os votos, ela era um dos 24 deputados estaduais, cujo mandato exerceu com esmero e dedicação, chegando ao ponto de ser sondado para disputar cargos mais elevados, mas ele próprio declinou do convite. Descobriu que a política a não era exatamente a dele.
Luiz Saraiva partiu levando o registro de presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que deveria apurar denúncias de irregularidades em obras de construção civil no Acre, como a do Canal da Maternidade, que teriam resultado no incêndio criminoso do prédio sede da Assembleia, em 30 de abril de 1992, e no próprio assassinato do governador Edmundo Pinto, 17 dias depois. Os bastidores de tais informações talvez tenham sido a causa de seu afastamento brusco da política e sua devolução como um homem querido e que espalhava amor e dignidade por onde passava. Foi um homem das boas causas, um homem necessário.