Um estudante de engenharia florestal denunciou em uma rede social que foi vítima de injúria racial durante um treinamento a uma vaga de emprego, em uma empresa de especializada em construção de resorts, em Rio Branco. Durante uma das dinâmicas, uma candidata teria afirmado que não conseguia entrevistar o rapaz, que é negro, porque parecia que ele iria roubá-la.
O acadêmico pediu para não ter o nome divulgado.
O treinamento era realizado pela empresa GAV Resorts, que usa uma sala dentro do shopping de Rio Branco. O g1 entrou em contato com a empresa através do telefone disponibilizado no site, mas não conseguiu contato até a última atualização desta reportagem.
“Estava participando do processo seletivo e uma pessoa entrevistava a outra para vender férias, então, a pessoa veio me entrevistar. Ela falou um pouco, parou e disse na frente de 16 pessoas: ‘eu não consigo entrevistar ele, parece que ele vai me roubar’. Perguntei para ela o porquê e ela disse ‘olha tua cara todo sério, me dá medo'”, relembrou o acadêmico.
A mulher citada, de acordo com o estudante, é a autônoma Helly Cristina, de 25 anos, que foi desclassificada do treinamento após a declaração. O caso ocorreu nessa quinta-feira (5). O grupo concorria a vagas de consultor em uma empresa especializada em resorts.
A reportagem entrou em contato com Helly Cristina e ela informou que está muito abalada e que recebeu diversas ameaças após a divulgação da situação.
“Estou muito mal. Todo mundo estava rindo, era uma entrevista. Fiz uma pergunta para ele, que falou de um jeito engraçado e todo mundo riu. Falei que ele estava muito sério, que estava com cara de bravo. Eu ia falar que ninguém ia querer comprar, mas acabou saindo a palavra roubar. Não falei porque eu quis, foi pela emoção porque estava nervosa”, resumiu.
A reportagem tentou contato com a empresa por meio de um telefone disponibilizado no site, mas não obteve sucesso.
Choro e revolta
Após ouvir a resposta da candidata, o jovem disse que se levantou e falou para ela procurar outra pessoa para entrevistar. Ainda segundo o acadêmico, a autônoma teria falado que o problema era dele se não tivesse gostado.
“Sentei na minha cadeira, fiquei sentado um pouco e o gerente me chamou na salinha para perguntar como eu estava me sentindo. Não consegui falar, comecei a chorar e, então, depois de alguns minutos, sai da sala e chamaram a menina, excluíram ela do processo seletivo e pedi para ir para casa”, acrescentou.
O acadêmico expôs a situação em uma rede social. No relato, ele falou que estava sentado no banheiro chorando enquanto fazia a postagem. “Agora sei que tenho que procurar meus direitos, mas também sei que não vai dar em nada”, falou.
Ainda na quinta, o rapaz fez a denúncia de injúria racial no Disque 100 e nesta sexta (6) registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Flagrantes de Rio Branco (Defla).
“Não fiz nada a não ser chorar de ódio sentindo a pior sensação que já senti na vida. Papo é que não foi a primeira vez e também não vai ser a última tenho certeza. Até quando?”, questionou.