Associação cita relatos de estupros ‘em série’ em região com denúncia de menina ianomâmi morta

Foto: reprodução

A Hutukara Associação Yanomami reiterou nesta sexta-feira (6) que a comunidade de Aracaçá, na Terra Indígena Yanomami, mesma região onde houve a denúncia de que uma menina de 12 anos foi estuprada e morta, enfrenta casos de “violência sexual em série” desde 2017. A Polícia Federal afirma não ter indícios do crime contra a menina e diz que, até agora, tudo não passou de mal-entendido.


O posicionamento da Hutukara sobre o assunto foi divulgado logo após a PF afirmar que tudo leva a crer que o estupro e morte não ocorreram. O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, que revelou a denúncia, ainda não se pronunciou.


A associação afirma ter feito uma série entrevistas com indígenas que vivem na região de Aracaçá que indicam um “cenário desolador”, com “reiterados depoimentos de violência sexual em série.”


A nota narra casos em que crianças e adolescentes Yanomami são forçadas a se prostituir por garimpeiros. Segundo a Hutukara, todos os relatos foram cruzados com dados oficiais.


Aracaça, na Terra Yanomami, antes de ser queimada — Foto: Considi-YY/Divulgação

Aracaça, na Terra Yanomami, antes de ser queimada — Foto: Considi-YY/Divulgação


Os relatos mostram que os históricos de “tragédias” tiveram início com a morte de um indígena, com idade entre 49 e 50 anos, em 2017. Ele, segundo a associação, vivia na comunidade e foi morto por agressão por disparo de arma durante “uma briga fomentada pela distribuição de cachaça por garimpeiros aos indígenas”.


O homem, de acordo com o documento, tinha duas esposas. Após a morte, elas ficaram em situação de “extrema vulnerabilidade” sendo obrigadas a se prostituir em acampamentos de garimpeiros.


“A segunda esposa, chamada pelos Yanomami de W., morreu em seguida. Há diferentes versões sobre sua morte, mas foi possível confirmar no registro de óbitos o falecimento de uma pessoa da mesma faixa etária de W., em 2018, tendo por causa de óbito o envenenamento auto provocado”, consta na nota.


Uma das filhas do indígena, à época com 16 anos, foi obrigada a se prostituir em um acampamento garimpeiro localizado próximo a Aracaçá. Os relatos, segundo a Hutukara, contam que ela era explorada sexualmente por garimpeiros e por vezes “sendo obrigada a manter relações sexuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, entre outros abusos”.


[Ela] sofreu sequelas pelas violentas relações sexuais com os garimpeiros, e sofreu uma deficiência física permanente (ela ficou com dificuldades de se movimentar: “a huu leleke”) depois de um acidente. [Ela] engravidou do de um garimpeiro conhecido como “Pastor, e seu filho foi levado à cidade. Desesperada, tirou a própria vida se enforcando. A versão também confere com o registro de óbitos do ano de 2021“.


Com a sequencia de tragédias na família do indígena, a Hutukara concluiu que “há casos generalizados de abuso e violência sexual na região.”


“Na aldeia de Aracaçá há casos generalizados de abusos e violência. A vulnerabilidade das pessoas da comunidade é tamanha que é bastante provável que episódios assim se repitam cotidianamente. Os fatos narrados corroboram a percepção dos Yanomami da região de Palimiu que, em 2021, relataram o receio de que vivessem uma tragédia similar à de Aracaçá, que estava levando ao desaparecimento desta comunidade”.


Com base nesses relatos, a associação defende que seja conduzida uma apuração mais ampla e aprofundada do histórico de violências vivida pelos indígenas em Aracaçá por consequência do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.


Embora a PF já tenha essa suspeita de que todo o relato não passou de mal-entendido, o delegado do caso ainda aguarda resultado da perícia feita nas cinzas coletadas na comunidade Aracaçá. O inquérito deve ser concluído em 30 dias.


Fonte: G1 RR


Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Últimas Notícias