O prefeito de Porto Acre, município do interior do Acre, Bené Damasceno, tomou uma atitude inusitada, nesta quinta-feira, 28. Segundo informações, ele seguiu o ônibus escolar que leva as crianças do município para uma escola localizada no Pólo Hélio Pimenta, km 19, pediu para o motorista parar e entrou dizendo, na frente das crianças, que iria mandar apreender o ônibus. Além disso, sem a permissão dos pais ou responsáveis, o prefeito fez registro fotográfico dos alunos.
Ainda de acordo com o que nossa equipe apurou, toda a situação, que deixou as crianças constrangidas, se deu pelo fato de Bené não concordar que esses alunos da Vila do Incra estudem em escola que seja de competência da prefeitura de Rio Branco.
Revoltados, pais de alunos registraram Boletim de Ocorrência contra a atitude do prefeito.
“Teve criança que chegou em casa assustada e dizendo que não ia mais para a escola“, disse uma mãe, que prefere não se identificar.
Pais relataram que ficaram indignados com a atitude do prefeito, segundo eles, se há um acordo, que parece não ser o caso, entre as prefeituras sobre limites de onde o ônibus pode ou não buscar o aluno, não é de conhecimento da escola nem dos pais.
Para os pais, se o prefeito tem algo a cobrar o correto seria ir diretamente na secretaria de Rio Branco e não abordar o veículo fazendo registros fotográficos e de vídeos, sem o consentimento dos responsáveis.
“As crianças ficaram super nervosas chorando achando que iriam prender o motorista e a monitora. Chegaram na escola aterrorizadas e algumas, quando retornaram para casa, relataram aos pais chorando, porque o prefeito disse que ia prender o ônibus. Grande parte dos alunos apresentaram resistência em ir pra escola hoje, pois ficaram com medo de serem abordadas novamente. O meu filho, de 10 anos, quando me contou o que aconteceu no ônibus e eu disse que ia fazer uma denuncia ele pediu para eu deixar isso quieto, porque se não ele [prefeito] ia ficar, seguir e prender o ônibus. Isso é revoltante, como pode alguém que deveria zelar pela população ser capaz de fazer com que as crianças tenham trauma do único transporte que usam pra ir a escola?“, questionou uma responsável.
Além disso, os pais relatam que optaram por essa escola pela segurança , qualidade de ensino e zelo pelos alunos.
“Tive péssimas referências da escola infantil da Vila do Incra e jamais colocaria meus filhos em um lugar que não sentiria segurança“, relatou outro pai.
Nossa equipe conversou com o gestor da escola Luiza de Lima Cadaxo, Izaqueu Nascimento de Oliveira, que nos relatou como arbitrária e abusiva.
“A atitude dele foi irregular e arbitrária. O que ele demonstrou foi a intimidação pessoal, foi tipo um abuso de poder. Pra falar a verdade, os responsáveis por esses meninos são a direção e a prefeitura de Rio Branco“, disse o gestor.
O gestor nos narrou ainda como seu deu a situação, de acordo com quem estava no ônibus.
“Ele ‘jogou’ a caminhonete na frente do ônibus, os seguranças desceram e disseram que o prefeito ia falar com todos. Chega lá, ele se altera com as criança, que começam a chorar. O correto não é isso, pois não teve comunicação alguma com a gente, ficamos surpresos e pedimos até explicação da Secretaria de Educação de Porto Acre e a secretária falou que não sabia de nada. Falei para ela que queria uma resposta urgente, oficialmente, por conta de atitude dele, que foi completamente arbitrária onde trouxe consequências para as crianças“, disse.
O assessor da Municipal de Educação de Porto Acre, Sérgio Baquer, disse a nossa reportagem que o prefeito não pode impor onde os pais irão matricular o filho e o que tem de ser respeitado é a jurisdição do município.
“O que o prefeito verificou e vai estar conversando é sobre porquê Rio Branco está mandando um ônibus para passar nas mesmas rotas que já temos ônibus passando aqui para levar as crianças para escola. As crianças podem ir, mas o que nós estamos tentando entender é porque Rio Branco está invadindo a jurisdição do município de Porto Acre do transporte escolar. É isso que não há entendimento, não há documentação e não há nenhum tipo, até agora, de reunião para definir ou justificar isso“, disse o assessor.
Sérgio ainda exemplificou dizendo “se eu matriculo um filho meu em Rio Branco a responsabilidade é minha. Se eu tenho aqui escola de ensino fundamental e médio, se o estado já oferece o serviço desde a creche ao ensino médio e mesmo com escola próxima, prefiro colocar em outra escola, a responsabilidade desse transporte é dos pais. Como o poder público vai atender a especificidade de cada família? Quem matricula em Rio Branco deve ver sua maneira de como levar, aqui tem crianças que estudam em escola particular ou mesmo em escola pública que os pais bancam esse transporte, por acharem que lá seja melhor e tem um ensino diferenciado. A obrigatoriedade de ofertar o ensino está sendo cumprida, agora nessas especificidade a família teve ver como arcar com as situações“, disse.
Em contra partida o gestor da escola, informou que a escola fica em região de fronteira entre os dois municípios e que não iria negar vaga para uma criança que o pai deseja matrícula ali por não ser de Porto Acre.
“Nós temos camionetes apropriadas para entrar em ramais, que busca crianças na frente da sua casa e eles só pegam na principal. A prefeitura não vai buscar essas crianças de casa em casa. Então não tem justificativa, pois os alunos vão na pernada para pegar o ônibus na principal“, completa Izaqueu.
Procuramos a secretária de educação municipal de Rio Branco, Nabiha Bestene, que nos informou ter um acordo amigável com o prefeito daquele município e que não entende o motivos dessa atitude.