Polícia do Território do Acre já se posicionava contra as Fake News em 1937

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Polícia do Território do Acre já se posicionava contra as Fake News em 1937


Portaria de um governador local cria a “Galeria dos Boateiros” e ameaçava fixar e prender quem disseminasse boatos.


Por Tião Maia, da redação do Ecos da Notícia


Uma das maiores preocupações das comunicações no mundo moderno, as Fake News – ou Notícias Falsas, em tradução para o português e motivo de litigância judicial inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo o presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus seguidores, já foram motivos de segurança pública no Governo do Acre, nos anos 30.


Era ainda nos tempos do Acre Território, com os governadores locais nomeados pela República, cuja sede ainda era o Rio de Janeiro, cujos indicados nem sempre conheciam a realidade e o povo da região que iriam governar e uma vez em contato com a cultura da nova terra, deixavam escapar as suas excentricidades.


Foi o caso de um certo José Vicente de Oliveira Martins, governador em exercício do Território do Acre em 1937, que fez chegar a todas às delegacias da Capital e do interior ofício em que comunicava a necessidade de criação de uma galeria, com direito à identificação e outros apontamentos, dos boateiros – aqueles que disseminavam boatos, as Fake News da atualidade.


Isso está documentado nos arquivos da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, conforme circular número 80 do dia 28 de outubro de 1937. A circular é expedida de Rio Branco e destinada ao prefeito de Tarauacá, Hippolyto Silva. O Diário Oficial faz questão de informar que a decisão do governador em exercício foi tomada em face de “O Estado de Guerra”, no momento em que um então desconhecido Adolf Hitler começava a se preparar para a tomada do poder na Alemanha e posteriormente tentar se assenhorar de todo a Europa e quando por aqui, no Brasil, vivia-se a instalação do Estado Novo, de Getúlio Vargas, que iria se alinhar aos Nazistas. Em tempos de tanta tensão, o poder de uma fofoca poderia ter o mesmo efeito de um rastilho de pólvora segundo é possível se depreender da publicação oficial: “Novas Medidas para a Manutenção da Ordem – Governo do Acre baixa uma portaria mandando instituir a ‘Galeria dos Boateiros’ em todas as Delegacias de Polícia do Território” .


Para não deixar dúvidas, com a grafia da época, o decreto acrescentava: “O Governador, em exercício, do Território do Acre, em função de executor do Estado de guerra no mesmo Território, determina, em benefício da ordem e tranquilidade pública, que seja Instituída na Chefatura de Polícia um registro especial denominado Galeria dos Boateiros, onde serão fichados pelos modernos processos de identificação os condenáveis agentes forjadores e veiculadores de notícias falsas e alarmantes. A presente determinação se estende às Delegacias de Polícia dos Municípios, nas medidas das atuais possibilidades”.


A portaria contra os boateiros assinada pelo governador territorial do Acre, na época

Não há registro se alguém foi fichado ou preso por disseminar boatos na época. Mas, se fosse nos dias atuais, no Acre – e no restante do Brasil -, a polícia do território teria muito o que fazer.


 


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