PM cria Conselho para decidir se policiais suspeitos de sequestrar jornalista permanecem na corporação

Foto: Vanessa Lima/g1 RR/Arquivo

A Polícia Militar de Roraima criou um Conselho de Justificação para decidir se quatro policiais militares, todos oficiais de alta patente, investigados por participação no sequestro do jornalista Romano do Anjos devem continuar ou na na corporação. O crime aconteceu em outubro de 2020.


Os quatro policiais estão presos preventivamente desde setembro e outubro do ano passado. Eles são suspeitos de violação de domicílio, roubo majorado, dano qualificado, constituição de milícia privada, organização criminosa e tortura.


São alvos do Conselhos os coronéis da ativa Granjeiro de Carvalho e Natanael Felipe de Oliveira Júnior, o coronel aposentado e Paulo Cezar de Lima Gomes e o major Vilson Carlos Pereira Araújo.


A formação do Conselho foi publicada em forma de decreto no dia 18 de abril, no Diário Oficial do Estado. Segundo o documento, assinado pelo governador Antonio Denarium (PP), o coronel Magalhães José Damasceno vai atuar como presidente do conselho.


Já os cargos de relator e escrivão vão ser ocupados pelos coronéis Ilmar Soares Costa e César Leôncio Ribeiro, respectivamente. O trio será responsável por ouvir as justificativas dos suspeitos. Após a ação, eles vão decidir se os policiais vão permanecer na Polícia Militar.


O Conselho de Justificação terá um prazo legal de 30 dias para a conclusão dos trabalhos, e o processo deve ocorrer em sigilo. O decreto do governo é baseado nos documentos que deram origem ao processo.


Na última segunda-feira (18), o Promotor de Justiça Marco Antonio Azeredo desconsiderou os pedidos de liberdade de dois militares que serão julgados no conselho. As defesas dos suspeitos haviam ingressado com pedido de soltura, indeferido pelo promotor.


Na decisão, o promotor também explicou que o ex-deputado Jalser Renier, apontando como o mandante do sequestro do jornalista, deveria estar preso e “segregado do convívio social”.


Além dos oficiais alvos do Conselho, outros cinco policiais militares também são investigados pelo sequestro – quatro deles estão presos: os subtenentes Nadson José Carvalho Nunes e Clóvis Romero Magalhães Souza, o sargento Gregory Thomaz Brashe Júnior, e o soldado Thiago de Oliveira Cavalcante Teles. O quinto PM é o sargento Bruno Inforzato de Oliveira Gomes, que chegou a ser preso, mas ganhou liberdade. Todos estes repondem a processos http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgstrativos na PM.


Operação Pulitzer


No dia 16 de setembro, seis policiais militares, entre eles um coronel, e um ex-servidor da Ale-RR foram presos na operação Pulitzer por suspeita de envolvimento no sequestro do jornalista Romano dos Anjos. A ação foi executada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Roraima e a Secretaria de Segurança Pública (Sesp).


No dia 25 de setembro, o g1 noticiou que o delegado-geral da Polícia Civil de Roraima, Herbert Amorim Cardoso, tentou interferir nas investigações sobre o sequestro do jornalista Romano dos Anjos. A informação foi citada em trecho da representação do delegado João Luiz Evangelista.


No dia 23 de setembro, durante sessão plenária, o presidente da Ale-RR, Soldado Sampaio (PCdoB), afirmou que Jalser ameaçou o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), para que barrasse as investigações sobre o sequestro. A ameaça foi posteriormente confirmada ao g1 pelo governador. Sampaio prestou depoimento formal ao Ministério Público sobre a declaração.


Caso Romano dos Anjos


O sequestro do jornalista Romano dos Anjos, de 40 anos, ocorreu na noite do dia 26 de outubro. Ele foi levado de casa no próprio carro. O veículo foi encontrado pela polícia queimado cerca de uma hora depois.


Ele teve as mãos e pés amarrados com fita e foi encapuzado pelos suspeitos. Romano passou a noite em uma área de pasto e dormiu próximo a uma árvore na região do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista. Na manhã do dia 27, ele começou a andar e foi encontrado por um funcionário da Roraima Energia.


O delegado Herbert Amorim, que conversou com o jornalista no trajeto do local onde foi encontrado até o Hospital Geral de Roraima (HGR), disse que depois de ter sido abandonado pelos bandidos, Romano conseguiu tirar a venda dos olhos com o braço e soltar os pés.


No HGR, ele relatou aos médicos ter sido bastante agredido com pedaços de pau.


No dia, a Polícia Civil afirmou, em coletiva à imprensa, que ele poderia ter sido vítima de integrantes de facção. No entanto, a polícia não descartou outras linhas de investigação, como motivação política ou por Romano trabalhar como jornalista de um programa policial.


Quatro dias após o sequestro, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), foi até a Polícia Federal pedir que a instituição investigasse o crime, afirmando que o jornalista havia citado ele e um senador no depoimento à Polícia Civil.


No dia 28 de janeiro, a Polícia Federal em Roraima divulgou nota à imprensa. O pedido para instauração de inquérito “foi indeferido, não se verificando elementos que subsidiassem eventual atribuição da Polícia Federal no caso.”


O sequestro era investigado pela Polícia Civil numa força-tarefa, que prorrogou o trabalho por ao menos três vezes. O inquérito corre em segredo de Justiça.


Este ano, no dia 16 de setembro, foi deflagrada a operação Pulitzer, onde foram presos os sete investigados e cumpridos 14 ordens de busca e apreensão expedidos pela Justiça.


A maioria dos militares investigados trabalhavam para o deputado Jalser Renier (Solidaridade) que, na época do sequestro, era presidente da Ale-RR, conforme apurou a Rede Amazônica. O parlamentar nega envolvimento.


Fonte: G1 RR


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