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Na Amazônia, mulheres ativistas ambientais se dizem ameaçadas de agressões, ameaças e até de morte

Na Amazônia, mulheres ativistas ambientais se dizem ameaçadas de agressões, ameaças e até de morte


O Acre está entre cinco estados da Amazônia em que mulheres envolvidas com o ativismo etno-ambiental, de busca de preservação ao meio ambiente e às populações tradicionais, estão ameaçadas e correndo risco de vida. O alerta foi feito nesta quarta-feira, 27, pelo Instituto Igarapé, uma organização brasileira, sediada no Rio de Janeiro, que se concentra em questões emergentes de segurança e desenvolvimento cuja abordagem principal é a pesquisa, o debate informado e o desenvolvimento de soluções sob medida para as pessoas envolvidas no ativismo ambiental.


De acordo com a organização, além do Acre, os estados do Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima são os que registram risco em potencial às mulheres ativistas, as quais, ouvidas pela organização, declararam terem sofrido ou testemunharam algum tipo de violência e por isso precisam deixar suas terras ou passaram a fazer parte de programas de proteção governamental.


O Instituto Igarapé informou que ouviu nos cinco estados pelo menos 125 ativistas e o levantamento mostrou que, oito em cada 10 entrevistadas, afirmam já terem sofrido algum tipo de ataque por sua atuação. A organização não revela quem nem quantas mulheres entrevistou no Acre.


Em vários casos, as ameaças descambam para agressões e morte. De 2012 a 2020, 48 foram assassinadas por pistoleiros, segundo a Comissão Pastoral da Terra. Na semana passada, de acordo com a CPT, a líder da Liga dos Camponeses Pobres, Ilma Rodrigues dos Santos, de 45 anos, foi morta com o marido, Edson Lima Rodrigues, de 43, numa estrada a 200 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia. O casal atuava em um acampamento na região da fazenda Nova Brasil. O carro de ambos foi incendiado com os corpos ao lado. Há registros de outros casos.


Uma delas é o de Claudelice Santos, 39 anos. Há 11 anos, o irmão, José Paulo, e a cunhada, Maria, foram mortos por pistoleiros em Nova Ipixuna (PA). Hoje, ela atua pela preservação ambiental e do direito à terra dos povos tradicionais, e também pela punição aos criminosos. Mas precisou deixar a comunidade onde morava.


“O mandante continua solto. Fizeram uma tocaia, perseguiram e atiraram. Arrastaram os corpos para a mata e cortaram uma orelha dele (o irmão). A investigação nunca foi para frente”, contou a mulher ao serviço de divulgação do Instituto Igarapé.


“Recebi ameaças nas redes sociais e até chegou um bilhete intimidador na caixa de correio da minha mãe, bem idosa. Recentemente, minha filha e minha sobrinha foram perseguidas perto da reserva ambiental onde meu irmão foi morto, porque dirigiam o meu carro. Elas conseguiram escapar, mas quase capotaram”, acrescentou.


A ativista, que destaca em sua rede social que “é melhor morrer lutando que morrer omisso”, conta que se sentiu tocada ao ouvir de outras mulheres, ao participar da pesquisa também como entrevistadora, histórias parecidas. Para Claudelice, as mulheres nunca estiveram tão à frente de causas sociais, mas também nunca tão vulneráveis.


“Por conta de ameaças e manobras, perdem tudo, ficam sem nada, e o Estado não resolve nem o problema delas, nem os conflitos que tem de resolver. Ficou tudo ainda mais perigoso, porque, enquanto nós estamos desamparadas, o fazendeiro está armado, o garimpeiro está armado, quem viola está armado e respaldado por um discurso de ódio do presidente (Jair Bolsonaro) contra os povos tradicionais”, afirmou.


As entrevistadas puderam relatar mais de uma violência, e de mais de um autor. Assim, 27% disseram ter sofrido violência moral; 19,7%, violência física; 14,2%, ameaça sem uso de armas; 10,8%, violência psicológica; e 9,5%, violência ou ameaça contra familiares. As investidas mais frequentes são de desconhecidos ou de agressores anônimos (59 casos), seguido dos próprios parentes (28), de funcionários públicos municipais (11), de madeireiros, garimpeiros e fazendeiros (8) e da própria polícia (8).


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