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Filho de faxineira aprovado em medicina que emocionou ao fazer surpresa para mãe inicia curso na Ufac: ‘Vivendo um sonho’

Vídeo gravado em agosto do ano passado repercutiu nacionalmente e emocionou: ‘Mãe, eu vim lhe avisar que não era uma ilusão, era só um sonho difícil’, disse o estudante antes de abraçar a mãe. André Ramon começou a estudar no dia 21 de março.


André Ramon começou o curso de medicina em março deste ano.


Depois de anos tentando e se dedicando para passar em medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac), o estudante André Ramon, de 26 anos, diz que está vivendo um sonho ao iniciar, no último dia 21, as aulas do curso que tanto almejou fazer.


Ele emocionou a internet em agosto do ano passado ao ir até uma academia em Rio Branco, onde a mãe trabalha como faxineira, e fazer uma surpresa contando que havia passado no curso da faculdade federal. (Reveja o vídeo abaixo)


Enquanto esperava a convocação, André também trabalhou como porteiro em uma creche no bairro Mocinha Magalhães. Indo agora para a terceira semana no curso, o estudante diz que tem vivido um verdadeiro sonho e que está apaixonado pelo curso.


“Foi um momento memorável entrar naquele bloco pela primeira vez oficialmente como aluno de medicina e viver esse sonho. É um momento ímpar que a gente tem na vida, nunca tinha vivido um sonho que tinha lutado tanto e tenho vivido ele todos os dias. Tô gostando do curso mais do que eu imaginava, amando estudar tudo”, diz.


Ele foi chamado no Sisu 2. Logo após o vídeo repercutir, André fez uma campanha para conseguir algumas doações para comprar material e roupas para a faculdade. Ele conta que recebeu dinheiro, notebook e alguns objetos da faculdade.


E o que ele planeja para o futuro é justamente continuar indo em busca dos objetivos, se dedicando cada vez mais ao curso que escolheu fazer.


“Minha expectativa é me manter um bom aluno no curso de medicina com notas altas, não deixar acumular nada, porque é muito assunto. A Ufac tem uma boa estrutura, consigo fazer as três refeições por R$ 3, tenho acesso à internet e livros. Estou vivendo um sonhos, essa frase é o que resume tudo”.


VÍDEO: Filho passa em medicina na Ufac e faz surpresa no trabalho da mãe na capital


História do André


“Não tive condições para ensino mais avançado, sou ex-porongueiro, filho de empregada doméstica e o mais velho de sete filhos, não tive pai, então, minhas condições econômicas eram péssimas”. É assim que André Ramon, de 26 anos, começa a contar a sua história com a medicina.


De família humilde, ele pôde, no dia 10 de agosto do ano passado, dar o abraço mais esperado na mãe e uma notícia que demorou sete anos para que pudesse ser dada: a aprovação no curso de medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac).


O resultado saiu justamente no dia do seu aniversário de 26 anos. Anestesiado com a notícia, ele comemorou com os amigos e fez questão de ir até o trabalho da mãe, Vilenilde Arruda Maciel, de 48 anos. Ela trabalha como faxineira em uma academia de Rio Branco e foi lá que recebeu a notícia.


Um vídeo gravado pelos amigos de André mostra o momento de comemoração dos dois. Nas imagens, Vilenilde sai do estabelecimento e encontra o filho que diz:


“Mãe, eu vim lhe avisar que não era uma ilusão, era só um sonho difícil e eu passei em medicina na Universidade Federal do Acre”, disse ele antes de um logo abraço emocionado na mãe.


Ela também não contém as lágrimas e agradece. “Esse é o melhor presente da mamãe. Graças a Deus, parabéns mesmo”, fala entre lágrimas.


O abraço sela uma parceria entre os dois. Vilenilde, mesmo sem muito estudo, sempre incentivou que os filhos trilhassem o caminho da educação. Mãe solo de sete filhos, ela sempre trabalhou como doméstica e faxineira e atualmente sustenta a casa sozinha.


Ela conta que não conseguiu terminar os estudos porque teve que trabalhar desde muito cedo. Para ela, ver o filho entrando na faculdade é motivo de orgulho e esperança.


“Tenho certeza que agora começa uma nova etapa nas nossas vidas. Estou com muito orgulho e espero que a gente consiga caminhar para uma vida melhor a partir de agora”, disse a mãe.


Devido à pandemia, Vilenilde contou que passou um dos anos mais difíceis financeiramente. Ela disse que chegou a dizer que, caso o filho não tivesse passado este ano, teria que trabalhar para ajudar em casa.


“Foi um ano muito difícil e eu disse: ‘meu filho, se não der certo este ano acho que é bom você trabalhar’. No início do mês, cobrei e quando foi na terça [10] ele me fez essa surpresa. Na verdade, é comemoração tripla, porque ele passou, a aprovação foi no dia do aniversário dele e no fim do mês, dia 30, é meu aniversário. Foi meu melhor presente.”


‘É minha oportunidade de mudar de vida’


André nasceu em uma comunidade da zona rural de Acrelândia, no interior do Acre, e conta que foi alfabetizado pelo extinto Projeto Poronga, que era um ensino acelerado, usado nas comunidades rurais para tentar evitar a evasão escolar.


Quando mudou para Rio Branco, ele sempre estudou em escola pública e sentia dificuldades em diversas áreas do ensino.


Com ajuda de um vizinho e amigos, ele conseguiu terminar os estudos e começar um cursinho. O primeiro curso que passou foi em engenharia florestal, também na Ufac, mas logo depois teve uma greve e ele, que também estava insatisfeito com o curso, decidiu trancar.



André e a mãe, em agosto do ano passado, comemoraram a aprovação dele no curso de medicina — Foto: Arquivo pessoal


“Conversando com meu vizinho e também com um professor, comecei a cogitar a medicina, foi quando comecei a olhar o curso com outros olhos e comecei a me dedicar para tentar passar no curso”, contou.


Os anos de tentativas não foram fáceis. André teve que lidar com a dificuldade de acesso à internet, materiais e também teve que trabalhar bastante nas áreas em que tinha algum tipo de deficiência no aprendizado. Além disso, em 2017 a mãe se separou do padrasto dele e novamente passou por momentos difíceis.


Mas, durante todo esse percurso, ele teve uma rede de amigos que sempre o apoiaram e, acima de tudo isso, tinha a mãe que acreditava no sonho dele e permitiu que ele se dedicasse aos estudos.


A ajuda dela foi crucial, de deixar que eu ficasse em casa estudando. Nossa cultura no Acre e no Brasil é que quando uma pessoa pobre faz 19 anos ela tem que sair de casa e procurar trabalho e eu não, fui contra isso e as pessoas não entendem. Muitas vezes, fui chamado de vagabundo, mas continuei estudando e minha mãe entendia. Eu sabia que somente a educação ia poder me fazer virar a chave.”


Estudos


Nada na vida de André foi fácil. Mesmo se dedicando aos estudos, quando a coisa apertava em casa, ele fazia bicos para tentar conseguir dinheiro e ajudar a mãe. Ele limpava piscinas, roçava quintais, pintava casa, entre outras coisas.


“Não era trabalho de carteira assinada, mas pegava às vezes para ajudar minha mãe e de uma forma que não atrapalhasse meus estudos. Isso me ajudava e em 2019 ganhei uma bolsa 100% para fazer um cursinho pré-vestibular”, conta.


Ele chegou a fazer o cursinho por um ano, mas em 2020, com a pandemia, as aulas foram suspensas. Foi aí que o estudante teve que encarar outro desafio: estudar em casa.


A casa de André é de madeira e não tem estrutura para que ele estudasse de forma adequada. Com a pandemia do coronavírus, as bibliotecas também fecharam e foi mais uma vez onde pôde contar com a ajuda dos amigos.


“Eu sempre levantava e ia para a biblioteca da Ufac, mas fechou com a pandemia e aí eu vou ser bem sincero, porque eu não conseguia estudar muito bem em casa. Não tinha internet e lá em casa esquentava muito, porque minha casa é de madeira. Foi aí que um amigo me ofereceu um quarto com ar-condicionado, computador e tive um ambiente mais propício para me dedicar”, contou na época.


Ao mesmo tempo em que a dificuldade financeira impunha limites ao estudante, mas ele se sentia motivado a vencer – isso tudo com a ajuda de muita gente que acreditou no sonho dele.


‘Maior felicidade’


André passou no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do 2º semestre com 731 pontos. No dia do aniversário, ele disse que não sabe qual foi a maior felicidade: saber que passou ou a oportunidade de poder contar isso para a mãe.


“Fui até o trabalho da minha mãe, porque ela quem esteve comigo esses anos todos e eu não via a hora de contar pra ela. A maior felicidade de um vestibulando como eu é poder dar essa notícia para sua mãe, dá esse orgulho, é a melhor coisa, às vezes até mais importante do que a própria aprovação. A gente almeja esse momento, de podermos contar isso para nossa mãe”, contou.



Mãe e filho ficaram se abraçam emocionados — Foto: Arquivo pessoal


Fonte: G1ACRE


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