Turistas retornam gradualmente a Capitólio após liberação de visitas aos cânions.
Liberação da visita aos cânions tem aumentado a expectativa de turismo em Capitólio (Cristiano Machado/Governo de Minas).
A liberação das visitas náuticas parciais nos cânions do Lago de Furnas, em Capitólio, região Sul de Minas Gerais, tem alimentado a expectativa de turismo no local. A visitação foi retomada no último dia 30, quase três meses após a tragédia que matou 10 pessoas. Mesmo com a reabertura, o movimento de turistas durante o fim de semana passado, o primeiro desde a retomada, foi pequeno.
Embora a média de grupos visitantes tenha sido baixa, com cerca de 80 grupos por dia, o controle do número de pessoas não era feito antes do acidente. Por conta disso, não é possível fazer comparações, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Lucas Arantes Barros.
A expectativa é que o afluxo de pessoas aumente gradualmente nas próximas semanas, principalmente em função dos feriados prolongados de Páscoa e Tiradentes.
‘Movimento até que foi bom’
“É preciso levar em conta que muitos fatores impactam o turismo, como a situação econômica, o preço do combustível, a estação do ano… Após tanto tempo, o movimento até que foi bom para um primeiro fim de semana. Principalmente considerando que era fim de mês”, ponderou Lucas Arantes.
Um dos membros da diretoria da Ascatur (Associação dos Empresários de Turismo de Capitólio), Vitor Vasconcelos diz que as medidas de segurança adotadas após o acidente têm sido bem aceitas pelos visitantes e por quem trabalha com turismo.
“Uma coisa que nos preocupava era como as novas normas de segurança seriam recebidas. Acabou que todos as receberam muito bem. Os visitantes não só estão acatando todas as regras, como continuam curtindo os passeios”, afirma Vitor.
De acordo com ele, a quantidade de turistas já vinha aumentando gradualmente desde fevereiro, em função das várias outras atrações turísticas da região. “Dificilmente a pessoa que passar uma semana em Capitólio conhecerá mais da metade dos nossos atrativos turísticos”, diz o membro da associação.
Capitólio possui outros atrativos
Capitólio faz parte do Circuito Turístico Nascente das Gerais e possui outros atrativos além dos passeios náuticos pela Represa de Furnas – que, por sua vez, também não se limita à área de cânions, onde foram identificados cinco pontos de maior risco de queda de pedras.
“Apenas uma única área do lago onde é possível passear de lancha estava interditada”, explicou Vitor Vasconcelos. “Mesmo assim, com as notícias, a queda no movimento chegou a 95% logo após a tragédia. Mas se compararmos o resultado de abril deste ano com o de anos anteriores, a diferença já não foi assim tão grande”, garantiu.
“Também é preciso diferenciar as consequências do que aconteceu no dia 8 de janeiro daquilo que várias cidades turísticas estão enfrentando”, pontuou o membro da Ascatur, citando como exemplo o impacto das fortes chuvas que atingiram Minas Gerais no início deste ano e, consequentemente, impactaram o turismo.
Novas medidas para visitação
O decreto publicado pela prefeitura de Capitólio a respeito da liberação das visitas aos cânions estabelece que o retorno das embarcações deve ocorrer de forma controlada. Todos os limites e faixas de segurança devem estar sinalizados.
Além disso, no percurso delimitado identificado como Trecho 1, poderão entrar, no máximo, quatro embarcações por vez. Já o chamado Trecho 2 só poderá ser acessado por uma embarcação por vez – não sendo permitida nenhuma parada neste percurso.
De acordo com as estipulações feitas pelas autoridades locais, os barcos terão que respeitar uma distância mínima dos paredões. Todos os passageiros devem assinar um termo de consentimento contendo orientações sobre as novas regras de visitação. Dentre elas, está o uso obrigatório de coletes salva vidas e de capacetes.
Ainda segundo as regras, embarcações de mais de 32 pés não podem acessar os cânions, e as demais, não podem exceder 3 nós de velocidade. Conforme informado pela prefeitura, as medidas seguem recomendações apresentadas pelos estudos geológicos realizados depois da tragédia e pela Polícia Civil.
Acidente ocorreu por ‘eventos naturais’
No inquérito policial instaurado para apurar o ocorrido, a Polícia Civil concluiu que “eventos naturais” causaram o desprendimento das rochas. Constataram também que o “processo geológico de remodelamento de relevo” é comum na região, favorecendo o rompimento dos blocos rochosos.
A Polícia Civil apresentou dez sugestões para aumentar a segurança das atividades turísticas no lago. Entre elas, a limitação do número de embarcações navegando, simultaneamente, pelos cânions, a melhoria do sistema de alerta e o mapeamento das zonas de maior risco.
“Durante o período em que o acesso aos cânions ficou interditado, conseguimos criar e colocar em prática um plano de visitação para reforçar e garantir a segurança dos visitantes”, disse o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Lucas Arantes Barros.
Contenção metálica em pontos do lago
O secretário explicou que a prefeitura de Capitólio ainda estuda a possibilidade de instalar contenções metálicas em ao menos cinco pontos do lago. Tal medida teria o objetivo de minimizar os riscos de deslizamentos e queda de pedras.
“Estamos correndo atrás de recursos para fazer a contenção. Também estamos avaliando a possibilidade de instalarmos um sistema de monitoramento eletrônico da área. De qualquer forma, a análise geológica diária, feita por profissionais contratados pela prefeitura, em conjunto com as outras normas, já trazem uma segurança às atividades turísticas no lago”, comentou Lucas Arantes.
Após a tragédia, que aconteceu no dia 8 de janeiro, empresários decidiram se unir para promover os atrativos turísticos da região. A Ascatur promove uma campanha que já arrecadou cerca de R$ 1 milhão. A quantia será investida em um projeto que divulgará as atrações regionais e fará a conscientização de quem vive na região sobre a importância das regras de segurança adotadas.
‘Dor pelas perdas’
“Infelizmente, as novas normas vêm acompanhadas de muita dor pelas perdas”, lamenta o membro da diretoria da Ascatur, Vitor Vasconcelos. “Desde janeiro, muitos especialistas têm vindo à cidade realizar estudos”.
“Hoje, o turismo no Lago de Furnas está muito mais seguro e organizado, mas precisamos que os moradores, os empresários, enfim, todos que vivem na região tenham acesso a estes conhecimentos. Só assim compreenderemos a razão de ser das novas regras e saberemos apresentá-las e justificá-las para os turistas”, completou Vitor.
Ao todo, setenta empresas da região colaboraram com o projeto. Isso possibilitou a contratação de uma empresa de comunicação para desenvolver um plano de ação, a partir da próxima semana.
“A arrecadação foi a parte fácil. Tanto que os próprios empresários já manifestaram o interesse em uma segunda rodada, pois recebemos propostas muito boas e temos o intuito de fazer este tipo de investimento outras vezes”, contou Vasconcelos.
Projeto estadual ‘Reviva Capitólio’
A iniciativa da Ascatur soma-se ao projeto Reviva Capitólio – Viva o Mar de Minas, anunciado pelo governo de Minas Gerais, no início de fevereiro. A proposta estadual prevê a destinação de R$ 5 milhões dos cofres públicos para promover a segurança de trabalhadores e turistas, e fortalecer o turismo na região.
A primeira etapa do projeto estadual, já em andamento, inclui a realização de um diagnóstico geológico e estrutural pormenorizado. O segundo eixo prevê o aprimoramento dos planos de gerenciamento costeiro; diretores; de zoneamento e de uso das águas não só de Capitólio, mas também de São José da Barra e de São João Batista do Glória, que aplicarão as regras conjuntamente.
Além disso, o governo estadual e as três cidades também devem promover, em parceria com órgãos públicos e entidades sociais, ações de capacitação para estimular o uso seguro e sustentável do Lago de Furnas. Por fim, o quarto eixo do projeto prevê ações de comunicação para divulgar o atrativo turístico para todo o país.
Fonte: Agência Brasil