A dona de casa Marlúcia Kaxinawá começou, nesta quarta-feira (6), retirar a lama e sujeira de dentro de casa após as águas do Rio Acre baixarem na capital acreana. A indígena mora no bairro Base, um dos primeiros afetados pela enchente. No local onde ela vive há várias famílias sendo mais 17 pessoas, entre elas 12 crianças.
Além da família de Marlúcia, outras 10 foram retiradas de casa no bairro Base e levadas para abrigos públicos em Rio Branco, conforme a Defesa Civil Municipal. O órgão autorizou os moradores a iniciaram a limpeza das residências nesta terça, mas o retorno será feito apenas na quinta (7).
Foram entregues 80 kits de limpeza e higiene pessoal para essas famílias. Ao todo, a cheia desabrigou 25 famílias com 91 pessoas, que ficaram em três abrigos públicos, e desalojou outras 12 famílias com 37 pessoas.
“Estamos há três semanas em uma escola do [bairro] Cadeia Velha. Começou a encher, chegou na escala e ligamos na assistência social. Vieram pegar a gente e levar para a escola”, relembrou.
Com ajuda dos familiares, Marlúcia conseguiu arrumar a casa, organizar o que sobrou e se preparar para voltar para casa. Ela diz que perdeu a geladeira, o guarda-roupa, alguns peças de roupas e também o material escolar dos filhos.
“Perdemos algumas coisas, colchão e até minhas panelas”, lamentou.
Moradora mostra local onde água do rio chegou durante enchente — Foto: Aline Nascimento/g1
Primeira vez no abrigo
A autônoma Erica Jaime, que mora há mais de 10 anos no bairro Cadeia Velha, precisou ficar em um abrigo público pela primeira vez. Ela contou que a água do rio já tinha chegado até a casa dela, mas sempre dava um jeito de levantar os móveis e ficar em casa.
Recém separada do marido, Erica preferiu pedir ajuda para as equipes da prefeitura e levar tudo para a Escola Georgete Eluan Kalume, um dos três abrigos montados para instalar esses moradores.
Erica foi em casa limpar e retirar entulho deixado pela enchente — Foto: Arquivo pessoal
“Estou animada para voltar para casa porque na casa da gente tem conforto, a gente fica mais a vontade, tem mais privacidade. Estou aqui há mais de uma semana. Cheguei a ir lá [na casa] arrumar algumas coisas, ver se estava tudo bem”, acrescentou.
Ilhado em casa
O servidor público Francisco Calixto da Conceição Santos está acostumado com a subida das águas do Rio Acre no início do ano. Morando às margens do manancial há mais de 30 anos, Santos passou a usar uma saída improvisada no quintal do vizinho para sair de casa e conseguir ir trabalhar quando o rio transbordou no mês de março.
A casa que ele mora com a família é elevada já para evitar a entrada da água durante a enchente. “Esse ano chegou no quarto degrau da escada. Já construímos assim pensando nisso, por tudo que já passamos e a experiência que temos. Nossa casa já foi alagada umas cinco vezes nesse tempo, levantamos mais ela, mas não tem jeito. Quando alaga a gente fica ilhado, não tinha como sair se não fosse pela vizinha”, recordou.
Nesta quarta, o servidor público assistiu da varanda de casa as equipes da Secretaria de Zeladoria limpando a Rua Barbosa Lima, onde ele mora. O cheiro de lama é sentido da varanda. Na terça, ele se reuniu com os familiares para limpar a frente da residência.
“A gente está acostumado com isso [cheiro de lama]. Vamos enfrentando esse desafio porque não podemos culpar ninguém porque é a natureza”, frisou.
Trabalhadores retiram lama da Rua Barbosa Lima, no bairro Base — Foto: Aline Nascimento/g1
Limpeza e assistência
O coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, tenente-coronel Cláudio Falcão, explicou que os bairros mais afetados pela enchente foram: Base, Cadeia Velha, Baixada da Habitasa e Triângulo Velho.
Porém, outros nove também foram atingidos pelas águas na capital acreana. Nesta quarta, as equipes de limpeza começaram pelos bairros Base e Cadeia Velha.
“Precisamos deixar prontos esses dois bairros primeiramente para depois avançar nos demais que precisam da limpeza da secretaria. Entregamos materiais para que as famílias possam ir até suas residências preparar o ambiente porque amanhã [quinta ,7] vamos fazer a movimentação das famílias dos abrigos e depois das que estão em casa de parentes”, destacou.
O coronel acrescentou que o rio permanece na cota de atenção, que é 12 metros. Os moradores só podem voltar para casa quando o manancial ficar abaixo dessa medição. “O rio está muito próximo dessa cota, já começamos a limpeza dos bairros e, logo depois, vamos fazer a movimentação das famílias dentro dessa cota de segurança e também pelas previsões de chuvas que o rio não deve voltar para a cota de alerta e transbordamento”, frisou.
Equipes preparam ruas e bairros para famílias desabrigadas voltarem para casa — Foto: Aline Nascimento/g1
Segundo o coordenador, a expectativa é de que o rio continue vazando porque as previsões apontam uma escassez de chuvas nas próximas semanas.
“Dessa forma, não tem condições climáticas para que o rio volte a subir. Verificamos toda bacia do Rio Acre e, nesta quarta, apresentou decréscimo em todos os locais e também o Riozinho do Rola, que nos preocupa, está com 72 horas de vazante e dessa maneira vai permanecer”, disse.