A guerra na Ucrânia freia o crescimento econômico mundial, alertou nesta quinta-feira (10) Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, sustentando que o contexto é de pressão sobre os preços dos alimentos e perda de confiança de consumidores e empresas.
Com este panorama, o FMI reduzirá sua previsão de crescimento mundial por causa da guerra, anunciou Georgieva, acrescentando que um default da Rússia não é mais “um evento improvável”.
“Para resumir, temos um impacto trágico da guerra contra a Ucrânia. Temos uma contração importante na Rússia e vemos o impacto provável em nossas perspectivas para a economia mundial”, disse a jornalistas.
“No próximo mês (durante as reuniões da primavera boreal), teremos uma revisão para baixo das nossas projeções de crescimento mundial”, acrescentou.
Em janeiro, a previsão do FMI foi revista a 4,4% de expansão em 2022 frente a 4,9% em outubro e quase 5,9% esperado no ano passado para o conjunto das economias mundiais.
O FMI e o Banco Mundial celebrarão suas reuniões em abril em formato virtual.
Com a economia mundial ainda não recuperada da pandemia do coronavírus, “uma crise diferente das outras”, o mundo atravessa agora “um território ainda mais chocante”, destacou Georgieva.
“O impensável acontece: temos uma guerra na Europa”, resumiu.
Sobre o impacto na economia russa, a dirigente do Fundo destacou que as sanções impostas pelos países aliados, “sem precedentes”, levam a “uma contração brutal da economia russa e uma profunda recessão”.
Georgieva descreveu os efeitos na Rússia: desvalorização da moeda, que alimenta a inflação ou a perda do poder de compra e do nível de vida de grande maioria da população.
“Os efeitos sobre os países vizinhos também são importantes, em particular nos países mais integrados às economias ucraniana e russa”, explicou, mencionando os países da Ásia Central, Moldávia ou países bálticos.
Um default na Rússia? “Não vou especular sobre o que pode acontecer ou não, apenas dizer que não falamos mais em um default de pagamento da Rússia como um evento improvável”, enfatizou.
A diretora do FMI explicou que o problema não é a disponibilidade de dinheiro, mas a incapacidade de usá-lo desde que o país foi isolado do sistema financeiro mundial.
O FMI não tem programas creditícios em curso com Moscou.
Georgieva afirmou que o organismo está pronto para ajudar a Ucrânia. Na quarta, o Fundo aprovou uma ajuda de 1,4 bilhão de dólares para o pais.
É um montante pequeno diante dos danos provocados pelo conflito, estimados pelas autoridades ucranianas em 100 bilhões de dólares.
– Impacto mundial –
Em todo o mundo, o impacto da guerra é palpável. A população sofre com a altas dos preços das matérias-primas e da energia. Isso repercute na confiança.
Essa disparada dos preços ocorre, ainda, quando a inflação já estava alta pela forte demanda e os problemas de abastecimento causados pela pandemia.
Isso desperta “graves preocupações em muitos locais do mundo”, observou Georgieva. “É particularmente perigoso para as famílias que vivem na pobreza, para as quais a comida e o combustível representam a maior parte de seus gastos”.
“Quando olhamos para a economia real, vemos claramente uma contração das transações e uma erosão da confiança e do poder de compra dos consumidores”, acrescentou a titular do Fundo.