Ícone do site Ecos da Noticia

Ofensa a nordestinos mostra que maior adversário de Bolsonaro é ele mesmo

Bolsonaro conversa com o ministro da Justiça Anderson Torres durante cerimônia em Brasília. Foto: Adriano Machado/Reuters

Na última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, 60% dos entrevistados afirmaram que não votariam em Jair Bolsonaro de jeito nenhum. No Nordeste, o índice chega chegava a 67%.


Em sua live semanal, o presidente mostrou que não precisa de adversário para manter o eleitorado da região refratário a dar a ele um segundo mandato. Basta ligar as câmeras e deixar o capitão dizer tudo o que lhe vem à cabeça.


E o que lhe veio na cabeça, na quinta-feira 3, foi reclamar de uma bronca pela qual não recebeu: a de que havia revogado o luto oficial pela morte Cícero Romão Batista.


Padre Cícero, como é conhecido o sacerdote católico mais popular da região, não estava na lista do “revogaço” do presidente, que retirou a honraria de nomes como Frei Damião, Dom Helder Câmara, entre outros.


Bolsonaro não sabe o que assina, quanto mais o que não assina. Foi o que ficou evidente durante seu pronunciamento —mais um coalhado de estupidez.


Não fosse suficiente, ele se enroscou ao falar do local de nascimento de Padre Cícero. Chutou que era Pernambuco, mas pediu ajuda aos assessores. Como eles não souberam responder, ele se queixou: “(está) cheio de pau-de-arara aqui e não sabe que cidade fica Padre Cícero, pô?”


Padre Cícero é natural de Crato, no Ceará. E pau-de-arara é como são chamados pejorativamente os imigrantes nordestinos que viajavam em condições precárias em direção ao Sul.


Não foi a primeira vez que ele se referiu aos moradores da região de forma ofensiva.


No começo do mandato, Bolsonaro disse em voz alta que, entre os governadores da Paraíba, como se refere à macrorregião, o pior era Flávio Dino, do Maranhão. Logo depois ele provocou risos amarelos, em outro evento, ao perguntar por que todo cearense tinha cabeça grande.


Bolsonaro e seus fiéis mais fanáticos costumam se queixar de um suposto excesso de melindre dos interlocutores e adversários diante de ofensas que eles chamam de brincadeira. Atribuem o desconforto a uma suposta ditadura do politicamente incorreto.


Ok. Nas eleições, Bolsonaro poderá mostrar pessoalmente o apreço pelos eleitores a quem pedirá votos em outubro. De longe, seu trabalho mais árduo será reverter o favoritismo do rival petista na região.


Que Bolsonaro não se melindre quando os eleitores que ele agora ofende mostrarem o apreço que têm por ele através das urnas. O que não faltará é gente farta de ser chamada de “pau-de-arara” por quem se considera superior.


Sair da versão mobile