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Dia do Combate ao Alcoolismo: 7 pontos para entender melhor a doença

Foto: Reprodução/Pixabay

Nesta sexta-feira (18/2), comemora-se o Dia do Combate ao Alcoolismo, data criada para dar visibilidade a uma doença muitas vezes negligenciada, mas que tem um duro efeito na saúde pública. Segundo o Dr. Arthur Guerra, médico psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), é importante chamar a atenção para a doença porque a maioria dos pacientes apresentam quadros de “negação” — ou seja, muitos custam acreditar que têm algum problema. Além disso, o especialista destaca que o uso desenfreado do álcool está chegando cada vez mais em duas populações: as mulheres e os jovens, levando em conta um grande aumento do consumo durante a pandemia.


O Correio entrevistou o representante do CISA para entender a relevância da data e sanar as principais questões sobre o tema.


Quais são os sinais, caso existam, que indicam que a bebida se tornou um problema?


Identificar quando o consumo de álcool passou a prejudicar a saúde e a dependência se desenvolveu não é fácil. Essa progressão é sutil e decorre não somente da quantidade consumida, mas também da frequência, das circunstâncias desse consumo e das consequências à saúde do indivíduo.


Entretanto, alguns sintomas podem indicar que algo não vai bem e reconhecê-los é uma medida importante para procurar o apoio adequado. São eles: forte desejo de beber, dificuldade de controlar o consumo (não conseguir parar de beber depois de ter começado), uso continuado apesar das consequências negativas e priorizar a bebida, deixando de lado outras atividades e obrigações.


Quais são os principais sinais da dependência do álcool?


As pessoas que têm dependência não conseguem ficar sem álcool e na hora que ficam sem consumir, o corpo apresenta tremores e muito suor. A pessoa quer beber e bebe de qualquer jeito, até escondido. Em alguns casos, na falta de álcool comum, chega até beber álcool de limpeza.


O alcoolismo é considerado uma doença? Há uma cura?


O alcoolismo é uma doença crônica, assim como diabetes e hipertensão. E é multifatorial, pois diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento. Mas tem tratamento.


Ainda que a recuperação não seja fácil e ocorram percalços, como as recaídas, os alcoolistas que procuram ajuda adequada estão no caminho certo para recuperar uma vida autônoma e com mais saúde.


Uma vez alcoolista, a pessoa tem grandes chances de ficar bem, se não beber nada. Ele está curado? Curado seria se pudesse voltar a beber socialmente, o que não pode. Ele está curado se não beber nada e vai perceber grande melhoria na qualidade de vida. Mas não pode voltar a beber.


Ainda sim, vale ressaltar que cada indivíduo é único e a avaliação multidisciplinar contínua é a melhor maneira de indicar o apoio mais adequado, inclusive podendo envolver diferentes abordagens (farmacológico, psicoterápico, grupos de ajuda mútua, atividade física e/ou até hospitalização para casos mais graves).


É verdade que o alcoolismo pode ser genético? Se sim, que tipos de precauções podem ser tomadas se existirem vários casos na família?


Não é que o alcoolismo seja genético, o alcoolismo tem características hereditárias. Mas não é porque o pai é alcoolista, que o filho também vai ser. Os filhos de alcoolistas têm uma vulnerabilidade e uma chance maior de vir a ter problemas com o uso do álcool. Eles têm um risco maior, não quer dizer que eles vão ter dependência.


Se junto com esse risco — porque tem mais enzimas que metabolizam o álcool — a pessoa tiver mais acesso ao álcool (como pessoas bebendo em casa, por exemplo), ou tiver um pouco de ansiedade, um pouco de preocupação, ou tiver em um ambiente onde todo mundo bebe, onde o lazer é beber, pronto. Aquele risco hereditário que tem fica mais evidente e pode sim trazer um maior consumo de álcool.


Como é feito o tratamento do alcoolismo? Existem diferentes métodos?


O tratamento do alcoolismo é um dos grandes desafios da medicina. Porque depois que a pessoa se torna dependente, na minha visão, ela tem uma chance de ficar boa: parar de beber, ou seja, total abstinência. O problema é que vivemos em um mundo completamente alcoólico.


Usar álcool não é ser alcoolista. O alcoolista é aquela pessoa que bebe mais do que o necessário e que por conta desse uso excessivo do álcool, acaba tendo prejuízo, ou para ele ou para quem vive junto com ele.


Então como a gente vai falar para essa pessoa que nega ter a doença, que ela não deve beber mais? Esse é o desafio. A chance de ficar bom é não beber nada!


As pessoas alcoólatras podem desenvolver doenças físicas?


O álcool afeta o corpo humano como se fosse um spray: pega todo o corpo.


No fígado, pode dar um quadro de hepatite alcoólica, depois cirrose alcoólica. No pâncreas, pode dar um quadro chamado de pancreatite crônica alcoólica.


Nos nervos, pode dar um quadro de neuropatia periférica — condição que afeta diretamente os nervos periféricos, responsáveis por enviar informações do cérebro e da medula espinhal para o resto do corpo, além de trazer as mensagens sensoriais ao sistema nervoso central.


No coração, pode dar um quadro de miocardiopatia alcoólica — doença do músculo cardíaco caracterizada pelo prejuízo à dilatação e contração de um ou ambos os ventrículos do órgão.


No entanto, cada pessoa é mais afetada pelo consumo de álcool em um dos órgãos. A bebida não pega todos os órgãos de uma pessoa só. É um processo grave e sério.


Quais são os melhores locais para buscar ajuda. São em centros de reabilitação, buscar ajuda de psicólogos, apoio familiar…?


Existem opções de apoio e tratamentos gratuitos no Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial — Álcool e Drogas (CAPS-AD), ambulatórios de hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos (A.A.).


Fonte: Correio Braziliense


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