Lorraine Souza Piedade morreu na terça-feira (15) na zona rural de Acrelândia, no interior do estado. Mãe, que tem mais duas filhas de 4 e dois anos, está abalada e foi encaminhada a um psicólogo.
Desde a morte da pequena Lorraine Souza Piedade, de apenas um mês de vida, a família tenta lidar com o sentimento de perda, julgamento e culpa. A menina, que completaria 2 meses no dia 17 de fevereiro, morreu no último dia 15 enquanto era amamentada pela mãe.
Uma tragédia que deixou todos em choque, segundo a família. A Polícia Civil abriu uma investigação sobre o caso após ser acionada pelos médicos do hospital da cidade. O delegado Dione dos Anjos Lucas disse que o procedimento é normal, já que se trata de uma morte que não foi natural, mas a Polícia Civil diz que os indícios apontam que foi um acidente.
O g1 conseguiu falar com a tia da bebê, Adriana Piedade. Os pais da criança estão muito abalados e preferiram não falar sobre o caso, isso porque eles temem pela segurança, já que surgiram boatos de que a menina teria sido agredida.
O casal tem ainda mais duas filhas, uma de 4 e outra de dois anos, Lorraine era a caçula. A família conta que a mãe da bebê, Fabiana Lima Souza, acordou junto com o marido, por volta das 4h para amamentar a menina.
Como os dois moram no Ramal do Pelé, na zona rural da cidade, o pai da bebê, Paixão Piedade, saiu logo cedo para tirar leite no curral. De lá, ele ouviu os gritos de socorro da mulher, dizendo que algo havia acontecido com a menina.
Exaustão materna
Até então, nem ela sabia o que podia ter acontecido. Imediatamente, os dois foram até o hospital da cidade.
“Minha cunhada me disse que ela colocou a bebê para mamar e pegou no sono. Ela disse que tinha dado uma geral na casa um dia antes e estava bem cansada, mas disse que a neném estava mamando. Meu irmão disse que levantou e a mulher estava dando de mamar para a menina”, conta a tia.
Fabiana é dona de casa e, além da bebê, ainda cuida de mais duas crianças. Além disso, é dona de casa e tinha acabado de sair do resguardo, ou seja, uma carga física e mental pesada.
Adriana então passou a acompanhar toda a saga dos pais. Foi ela quem foi até o Instituto Médico Legal (IML), em Rio Branco. No atestado de óbito da menina, consta que a causa da morte foi asfixia e broncoaspiração, que é a entrada de substâncias estranhas, tais como alimentos e saliva, na via respiratória.
O que bate com a versão da mãe. Segundo Adriana, o legista contou que a neném, por estar sendo amamentada, tentou golfar, mas, como a mãe estava dormindo e não viu, acabou sufocando.
“Como a mãe dela estava dormindo, não percebeu o que estava acontecendo, deu tipo um refluxo nela. No IML, o legista contou que abriram a barriga da neném e que os pulmões e as narinas estavam com muito leite. Foi uma tragédia, uma fatalidade, que poderia ter acontecido com qualquer família”, lamenta a tia.
Cansada, mãe dormiu enquanto amamentava a filha — Foto: Arquivo/Polícia Civil
Investigações
O delegado Dione dos Anjos Lucas, em entrevista ao g1, já havia confirmado que abriu procedimento para investigar as causas da morte da criança. Segundo ele, os médicos do hospital que atenderam a criança, teriam apontado possíveis agressões – mas, isso não foi confirmado.
Tanto o depoimento da mãe, como os indícios coletado até o momento, apontam que o que realmente aconteceu foi uma acidente – causado pela exaustão materna.
Mesmo assim, o delegado explica que as investigações só devem ser encerradas após 10 dias – que é o prazo que deve sair o laudo pericial.
Ele destaca ainda que esse procedimento é feito em qualquer situação de morte violenta. “As pessoas precisam entender que morte violenta é qualquer uma que não seja de forma natural, por isso precisamos investigar”, destaca.
Como a cidade é pequena, os boatos se espalharam rapidamente, gerando um verdadeiro linchamento virtual contra os pais da bebê que, além da perda da menina, temem pela segurança, já que receberam diversas ameaças de morte.
A tia conta que os dois foram orientados pela própria polícia a ficarem mais reclusos nesse período. É importante destacar que, segundo a Polícia Civil, não há indícios de dolo e o caso deve ser tratado realmente como acidente.
“A neném não estava com hematomas pelo corpo, não tinha ossos quebrados, ela estava perfeita. Se fosse o caso de agressão ou algo assim ela estaria machucada e o próprio médico legista confirmou que não tinha nada disso”, diz.
O pai da menina chegou a ser ameaçado em grupos de WhatsApp, com pessoas, inclusive, pedindo a cabeça dele. O delegado confirmou as ameaças e disse que tem se preocupado com a segurança dos dois.
“Foi uma humilhação muito grande para eles que já estavam sofrendo. Além de perder a filha, ainda serem julgados por pessoas que não sabem o que de fato aconteceu.”
Mãe vai ser acompanhada por psicólogos
Abalada, Fabiana não dorme desde que tudo aconteceu. Ela também não consegue comer e entrou em um quadro preocupante. Ela é acompanhada pela Assistência Social do município, que, além de pagar todos os gastos do funeral, agora também vai encaminhar a dona de casa para uma rede de acompanhamento psicológico.
Regiane Teixeira, secretária de Assistência Social, disse que assinou, nesta sexta-feira (18), o encaminhamento da mãe para um Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
“Essa história abalou muito a gente como ser humano, gestora e família e a gente tem dado todo esse acompanhamento. A mãe está muito abalada, a rede social tem acusado ela e isso é um ponto negativo. Ela ainda tem duas meninas e não está conseguindo reagir, então precisa desse apoio, desse acolhimento porque está muito abalada psicologicamente, além da perda da filha, está passando por um verdadeiro linchamento, julgamento da sociedade,” conclui.
Fonte: G1ACRE