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Preparem o bolso: remédios devem subir 10% e planos de saúde, 15%

Foto: Júlio Lapagesse/CB/D.A Press

A jovem Isabela Ribeiro, 25, diagnosticada com síndrome de Turner, precisa fazer tratamento contínuo por conta da doença, de origem genética. Autônoma, ela conta que não consegue arcar com os pesados custos de um plano de saúde. “Os planos têm se tornado cada vez mais caros, eu não tenho condições de pagar. A não ser que eu tenha um emprego de carteira assinada que me forneça um plano de saúde”, condiciona. Para a jovem, um dos grandes benefícios de ter um convênio médico seria realizar exames com mais rapidez, já que, muitas vezes, a dinâmica da rede pública é mais demorada.


Neste começo de ano, os bancos, tradicionalmente, começam a fazer as contas e sinalizam os aumentos na área da saúde que vem por aí: pelos cálculos do Citi, os medicamentos terão alta de 10%. Já os planos de saúde, pelas projeções do BTG Pactual, devem ficar 15% mais caros. Um impacto no bolso de todos os brasileiros.


Atualmente, Isabela Ribeiro faz tratamento no Hospital de Base do Distrito Federal e busca medicamentos e atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas isso não a deixa imune dos impactos causados pela alta dos preços dos remédios. “Meu hormônio de crescimento é fornecido pelo SUS, mas os outros medicamentos que os médicos passam eu tenho que comprar. Lidar financeiramente com isso é procurar cupom, desconto, assistência do SUS em tudo que você tiver direito e tentar minimizar os custos ao máximo”, relata.


O economista e professor de Especialização em Mercado Financeiro na Universidade de Brasília (UNB) César Augusto Bergo explica que os aumentos refletem a inflação e os custos dos insumos. “No caso do medicamento, tem o aspecto da importação dos insumos, que opera em relação ao dólar. Na hora de comprar, às vezes não se encontra o genérico, e não dá pra deixar de tomar. Mas existem remédios hoje que estão totalmente fora do orçamento das famílias”, analisa.


Isabela lamenta que, dentro da realidade brasileira, não haja nada que se possa fazer para frear o aumento dos preços e desabafa: “Às vezes, gasto R$ 300 ou R$ 400 de farmácia por mês. Na maioria das vezes, utilizo cartão de crédito. Só resta minimizar os custos da forma como a gente consegue”.


Os ajustes que os brasileiros fazem para reduzir gastos também estão presentes quando se trata dos planos de saúde. Há quem opte por planos mais simples para não arcar com custos exorbitantes — e as operadoras de saúde fornecem opções. “Alguns planos usam artifícios de reduzir a cobertura, de hospitais, médicos, procedimentos para que não exista tanto aumento na mensalidade. Mas o consumidor precisa ficar atento, porque toda a cobertura à qual ele tem acesso, que assinou no contrato, não pode mudar no meio do período”, alerta o economista.


O aumento nas parcelas dos planos de saúde vai além da questão monetária: impacta a qualidade do serviço. “Contratos de saúde com cobertura genérica implicam em aumento de custo para o consumidor, porque, na prática, a cobertura reduziu. Piora a qualidade do plano”, avalia Bergo. Ele destaca que há muitas operadoras no mercado, e o plano precisa ser escolhido de acordo com a situação de cada pessoa, para que, no fim das contas, os custos com saúde não pesem tanto no orçamento e de fato atendam a realidade do consumidor.


O advogado especialista em contratos de plano de saúde Marco Mota diz que o aumento de 15% estimado para os convênios individuais pode dar um susto no primeiro momento, mas se mantêm na média dos últimos anos. “Se observarmos os anos anteriores à pandemia, de 2015 até 2019, constataremos que a média de reajuste anual foi de 11,60%. O reajuste estimado revela a volta aproximada aos percentuais anteriores, somados ao aumento de custos para tratamentos das demandas eletivas que estavam represadas”, analisa.


Tradicionalmente, reajustes nos planos individuais também costumam puxar aumento nos convênios coletivos, que são a maioria dos contratos no Brasil. No entanto, Marco diz que é difícil estipular o quanto o aumento de 15% nos planos individuais pode influenciar em um reajuste nos coletivos: “Considerando que os reajustes nos planos coletivos sempre são acima dos individuais, já que não são regulados pela ANS, é difícil prever se esse percentual também ocorrerá nesses planos coletivos”, afirma o advogado.


Peso para os idosos

Caso se concretize, um reajuste de 15% nos planos de saúde individuais pode trazer riscos para a saúde pública brasileira, especialmente para a população com a idade mais avançada, observa o advogado especialista em contratos de plano de saúde, Marco Mota. “Os reajustes anuais, sempre muito acima da inflação e dos aumentos salariais, acabam expulsando beneficiários de mais idade do sistema, pois não conseguem arcar com a mensalidade do plano e acabam migrando para o sistema público”, observa.


A respeito dos reajustes dos planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informa que o percentual máximo a ser autorizado para os planos individuais ou familiares está sendo calculado e será informado após conclusão dos cálculos e manifestação do Ministério da Economia. A Agência não estima a data para a divulgação dos percentuais de aumento.


Regras

Cada tipo de contratação, sejam os planos individuais/familiares, sejam os coletivos (empresariais e por adesão), tem regras específicas. Nos planos individuais ou familiares, por exemplo, a ANS definiu que as operadoras deveriam reduzir as mensalidades em até 8,19% entre maio de 2021 e abril de 2022. Agora, haverá aumento. A Agência salienta, ainda, que os consumidores podem solicitar à operadora a memória de cálculo e a metodologia utilizada para justificar a correão das mensalidades. As empresas têm prazo máximo de 10 dias para fornecer as informações.


Fonte: Correio Braziliense


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