As eleições presidenciais de 2022 representam uma oportunidade para o País superar o populismo que colocou a economia em uma encruzilhada. Mas o centro ainda precisa se unir e acertar sua estratégia contra a polarização. Apesar de a Justiça estar mais preparada para combater as milícias digitais, o pleito ainda será marcado por tensão.
Perspectiva 2022/ Brasil
Depois de anos de polarização política, que explodiu com o colapso dos 13 anos de governo petista, e de uma crise econômica que jogou o País na maior recessão da história (ainda não plenamente superada), o País vai às urnas este ano com a possibilidade de superar o radicalismo. Ao contrário de 2018, o eleitor agora estará mais atento à experiência dos candidatos. Haverá mais espaço para a política tradicional e menos chances para outsiders. O desenho da disputa marcada para 2 de outubro já está praticamente definido. Bolsonaro concorrerá pela direita, orientado pelo mesmo discurso extremista que o elegeu e diante do desafio de contornar o desgaste que sua própria imagem vem sofrendo, fruto de um mandato irresponsável e repleto de erros do começo ao fim. Ameaçado, o mandatário pode se tornar o primeiro candidato à reeleição a perder a cadeira. E, para que isso não ocorra, está disposto a fazer o que for preciso. Vai acelerar o uso da máquina pública para irrigar os cofres de aliados, principalmente por meio do orçamento secreto, e distribuirá benefícios eleitoreiros.
A esquerda, por outro lado, conta novamente com Lula para retomar o poder. Após ser preso por corrupção, o petista volta à cena política tendo pela frente dois adversários antigos: Moro, responsável pela sua prisão, além, é claro, do próprio capitão. Fora isso, precisará contornar o antipetismo que se agravou no País após o escândalo do Petrolão e que atingiu em cheio não só o ex-presidente, como também seu partido. No campo esquerdista, Lula só conta com a sombra de seu ex-ministro Ciro Gomes, que disputará pela quarta vez e até agora mantém sua pré-candidatura pelo PDT, mesmo sem empolgar nas pesquisas.
Por enquanto, as pesquisas ainda dão ampla vantagem para Lula, seguido de Bolsonaro, mas o cenário deve evoluir. O petista ainda não sofre a crítica dos adversários e surfa na anulação dos seus processos, que tenta ostentar como uma absolvição. Quando a disputa esquentar, a partir de abril, as campanhas vão explorar o antibolsonarismo e o antipetismo, e isso pode abrir espaço para o centro. “Vai ser uma eleição bastante acirrada, principalmente pensando que vai ser aquela em que o presidente em exercício é o que tem menos chance de se reeleger entre todas as disputas até aqui”, avalia Glauco Peres, professor de Ciência Política da USP. “Isso acontece porque não há dois candidatos óbvios favoritos para o segundo turno. Das eleições recentes, essa é aquela em que o terceiro candidato tem mais chance de ir para um segundo turno do que em todas as anteriores.
Peres considera que o fortalecimento do nome da terceira via depende também do fracasso dos programas que Bolsonaro lançar nesse período, enquanto estiver em campanha. A principal aposta do chefe do Executivo é o Auxílio Brasil. Além disso, investe em empréstimos massivos com dinheiro da CEF e terá um cronograma recheado de inaugurações pelo País. “Tirar Bolsonaro do segundo turno demanda tirar a capacidade do governo de fazer votos”, diz Peres. Assim como também pesará a péssima situação econômica do País, com alta da inflação, aumento do desemprego e perspectiva de recessão. “A economia vai mal. O governo vai ser penalizado por isso. Bolsonaro vai perder apoio, e uma terceira via teria como avançar em cima desse eleitorado. Mas só se usar a estratégia correta na campanha”, pontua Fernando Guarnieri, professor de Ciência Política da UERJ. Também pesa contra o presidente sua atuação temerária na pandemia, quando utilizou a estrutura de Estado para difundir mentiras.
Hoje, Moro leva vantagem sobre os outros pré-candidatos do centro. O ex-juiz abriu frentes de diálogo na tentativa de convencer os demais partidos de que a sua candidatura é a que mais tem chances de derrotar Lula e Bolsonaro. Já se reuniu algumas vezes com Doria, num movimento visto em Brasília como um sinal de que ambos caminharão juntos em algum momento. “Como Moro deu a largada ao se filiar ao Podemos e anunciar sua candidatura, ele acabou ocupando o espaço da terceira via. Mas, pelo que ouvi, Doria e Moro vão se juntar”, confidenciou um influente dirigente partidário. Há dúvidas se o ex-ministro da Justiça se manterá na atual posição. Para sua campanha ganhar capilaridade e ter um naco considerável do Fundo Eleitoral, Moro já tenta se unir ao União Brasil — legenda que surgiu da fusão entre DEM e o PSL. Com a junção das duas siglas, o União Brasil passou a comandar a maior fatia desse fundo. Queria ter um candidato próprio nas eleições, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, mas caminha para apoiar Moro, possivelmente indicando Luciano Bivar (presidente da legenda) para vice.
O governador de São Paulo, João Doria, deixou para esse início de ano suas primeiras viagens como candidato do PSDB. Aposta que a partir daí conseguirá maior visibilidade nacional, exibindo as realizações em São Paulo, que teve um crescimento maior do que o País na pandemia. Também conta com avanços importantes para o País, como a viabilização da vacinação nacional há um ano, o que forçou Bolsonaro a acelerar a compra de imunizantes. Por ocupar a posição de maior antagonista do presidente nos últimos anos, e ser um adversário histórico de Lula, Doria avalia que conseguirá atrair os eleitores insatisfeitos com os dois polos.

PERSPECTIVA 2022
O Brasil vai enfrentar um ano conturbado, mas decisivo para superar o radicalismo
As eleições presidenciais de 2022 representam uma oportunidade para o País superar o populismo que colocou a economia em uma encruzilhada. Mas o centro ainda precisa se unir e acertar sua estratégia contra a polarização. Apesar de a Justiça estar mais preparada para combater as milícias digitais, o pleito ainda será marcado por tensão

PULSO DAS RUAS Manifestantes em Brasília, em 2019: pleito deste ano ainda será marcado pelo radicalismo (Crédito: Andressa Anholet)
Marcos Strecker e Ricardo Chapola
07/01/22 – 09h30

VITRINE João Doria usará suas realizações, como o metrô, como credencial (Crédito:Governo de SP)
Perspectiva 2022/ Brasil
Depois de anos de polarização política, que explodiu com o colapso dos 13 anos de governo petista, e de uma crise econômica que jogou o País na maior recessão da história (ainda não plenamente superada), o País vai às urnas este ano com a possibilidade de superar o radicalismo. Ao contrário de 2018, o eleitor agora estará mais atento à experiência dos candidatos. Haverá mais espaço para a política tradicional e menos chances para outsiders. O desenho da disputa marcada para 2 de outubro já está praticamente definido. Bolsonaro concorrerá pela direita, orientado pelo mesmo discurso extremista que o elegeu e diante do desafio de contornar o desgaste que sua própria imagem vem sofrendo, fruto de um mandato irresponsável e repleto de erros do começo ao fim. Ameaçado, o mandatário pode se tornar o primeiro candidato à reeleição a perder a cadeira. E, para que isso não ocorra, está disposto a fazer o que for preciso. Vai acelerar o uso da máquina pública para irrigar os cofres de aliados, principalmente por meio do orçamento secreto, e distribuirá benefícios eleitoreiros.
A esquerda, por outro lado, conta novamente com Lula para retomar o poder. Após ser preso por corrupção, o petista volta à cena política tendo pela frente dois adversários antigos: Moro, responsável pela sua prisão, além, é claro, do próprio capitão. Fora isso, precisará contornar o antipetismo que se agravou no País após o escândalo do Petrolão e que atingiu em cheio não só o ex-presidente, como também seu partido. No campo esquerdista, Lula só conta com a sombra de seu ex-ministro Ciro Gomes, que disputará pela quarta vez e até agora mantém sua pré-candidatura pelo PDT, mesmo sem empolgar nas pesquisas.
Por enquanto, as pesquisas ainda dão ampla vantagem para Lula, seguido de Bolsonaro, mas o cenário deve evoluir. O petista ainda não sofre a crítica dos adversários e surfa na anulação dos seus processos, que tenta ostentar como uma absolvição. Quando a disputa esquentar, a partir de abril, as campanhas vão explorar o antibolsonarismo e o antipetismo, e isso pode abrir espaço para o centro. “Vai ser uma eleição bastante acirrada, principalmente pensando que vai ser aquela em que o presidente em exercício é o que tem menos chance de se reeleger entre todas as disputas até aqui”, avalia Glauco Peres, professor de Ciência Política da USP. “Isso acontece porque não há dois candidatos óbvios favoritos para o segundo turno. Das eleições recentes, essa é aquela em que o terceiro candidato tem mais chance de ir para um segundo turno do que em todas as anteriores.”

POPULISMO O presidente Jair Bolsonaro posa com populares em Esteio (RS) (Crédito:Alan Santos/PR)
Peres considera que o fortalecimento do nome da terceira via depende também do fracasso dos programas que Bolsonaro lançar nesse período, enquanto estiver em campanha. A principal aposta do chefe do Executivo é o Auxílio Brasil. Além disso, investe em empréstimos massivos com dinheiro da CEF e terá um cronograma recheado de inaugurações pelo País. “Tirar Bolsonaro do segundo turno demanda tirar a capacidade do governo de fazer votos”, diz Peres. Assim como também pesará a péssima situação econômica do País, com alta da inflação, aumento do desemprego e perspectiva de recessão.