“Eu tenho muito desejo de conhecer meus filhos, saber onde eles estão e compartilhar esta alegria”, diz a agricultura Maria Ciraira Dias da Silva, de 55 anos, que tenta rever os filhos que ela entregou para adoção há 33 anos no distrito de Miritituba, no município de Itaituba, no sudoeste do Pará. Por inúmeros obstáculos financeiros à época, ela conta que não viu outra opção senão doar dois dos três filhos em 1989.
A agricultora é natural do Pará, mas mora em Roraima há 25 anos. Atualmente, ela vive no município de Rorainópolis, ao Sul do estado, distante cerca de 260 Km de distância da capital Boa Vista. Ela não vê os filhos desde que os entregou para duas pessoas diferentes.
À época, as crianças se chamavam Juvenilson, que era um bebê de três meses e Fabrícia, com cerca de um ano. Atualmente, eles devem ter 33 e 34 anos, respectivamente. As duas crianças não tinham sido registradas e foram entregues sem certidão de nascimento.
A agricultora disse que a menina ficou com uma mulher chamada de Aletira e o menino foi adotado por um homem conhecido como Dionísio Lobão.
“No tempo que eu dei eles, o pai [das crianças] me abandonou lá na cidade de Itaituba, no interior. Fiquei grávida do Juvenilson e quando eu ganhei [deu à luz o bebê], ele não voltou. Fiquei na casa de um e de outro com os meus dois filhos e foi aí que eu cheguei a conclusão de dar eles para a doação, porque eu estava sofrendo muito com eles e era a casa dos outros, né?”, relembra a mãe.
Ainda em Itaituba, dona Cira como é conhecida, começou a trabalhar na região de garimpo, local onde ela conheceu o atual esposo. Além dois dois filhos que procura, ela também já tinha uma outra filha, a Patrícia, hoje com 35 anos. Antes de se arriscar no garimpo, ela deu os dois mais novos e deixou a filha mais velha com uma amiga.
“Eu dei eles, deixei a Patrícia com uma amiga minha e fui trabalhar no garimpo. Foi no garimpo que eu encontrei o meu esposo, que é com quem eu convivo hoje”, contou.
Após sair do garimpo no Pará, a mulher ainda tentou encontrar os dois filhos mais novos, mas não localizou as pessoas para quem ela tinha doado e perdeu o contato de vez com os crianças. Tempo depois, ela se mudou para Roraima a procura de trabalho.
“Eu não conhecia ele [o homem para quem entregou o filho], só a mulher. Eu já tinha visto ela, sabe? Sabia que ela morava lá, mas não tinha contato com ela. Quem me indicou ela foi essa minha amiga que ficou tomando conta da Patrícia”, relembra sobre a entrega dos filhos.
Durante uma viagem de barco, alguns anos depois de deixar o Pará, Cira encontrou uma morada de Miritituba que informou a ela que os pais adotivos das crianças haviam retornado para o distrito.
A moradora, no entanto, não tinha o contato das famílias e a mãe não sabia de que forma poderia encontra os dois filhos. À época, Maria Ciraira também não tinha condições financeiras de voltar ao distrito.
“Ela não conseguiu o contato, ninguém tinha o contato, ninguém nunca conseguiu o contato. Nenhum conhecido que pudesse dar alguma informação”, contou Patrícia, a filha mais velha de Cira.
Características dos filhos
Dona Cira conta que quando pequena, a filha Fabrícia tinha a pele morena, com os cabelos ondulados e negros. Já o menino tinha a pele mais clara e tinha cabelos castanhos. A mãe não consegue descrever o menino muito bem, pois Juvenilson ainda era um bebê na época.
Agora, mais de três décadas depois, ela disse que seu maior desejo é reencontrar os dois filhos, e que caso morra antes disso, não “descansará de forma feliz”.
“Quero encontrar meus filhos para que eu possa conhecer cada um deles, para ver como eles estão. É muito importante para mim conhecer eles, porque eu dei meus filhos, mas não foi por vaidade e nem por acaso. Eu dei eles porque foi preciso, para não ver eles passando fome junto comigo, para ver eles terem uma vida melhor, porque comigo, naquele momento que eu estava, eles não iam ter essa vida”, diz.
“Então, eu me sujeitei a doar eles. Eu sou feliz porque eu tenho a minha filha Patrícia, só que a minha felicidade não é completa. Se eu descer ao túmulo sem conhecer meus filhos, sem ver eles pra conversar, para explicar o porquê eu dei eles pra adoção, eu não vou descer ao túmulo feliz”, frisou.
Agricultora mora em Roraima há 25 anos. — Foto: Arquivo pessoal
Com luta e persistência, a mulher quer entender como foi a criação dos filhos e contar a eles os motivos que a levaram a fazer a doação informal.
“Eu amo todos eles e por eu não ter o conhecimento de como eles cresceram, como eles vivem, o meu desejo é de tê-los no meu abraço, cada um deles, para que eu possa matar esse desejo e ter essa felicidade completa na minha vida. Eu tenho muito desejo de conhecer meus filhos, de saber onde eles estão e compartilhar esta alegria de um dia a gente poder se encontrar, para gente se conhecer”, completou a agricultora.
Maria Ciraira continua pela procura dos filhos, mas não tem nenhum documento ou foto deles à época em que foram doados. Quem tiver informações sobre Juvenilson e Fabrícia, adotadas em 1989, no distrito de Miritituba, no Pará, pode entrar em contato com a família pelo telefone (95) 98407-3785.
Fonte: G1 RR