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Chegada do novo ano traz esperanças para 82% das pessoas, mostra pesquisa

Foto: Daniel RAMALHO/AFP

O ano de 2021, que se encerrou ontem, vai entrar para a memória de muitos como um período que não deixou saudades. Motivos há de sobra: a inflação voltou aos dois dígitos depois de cinco anos; a renda média dos brasileiros chegou ao menor nível da década, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; o desemprego, também segundo o IBGE, até caiu na medição de outubro, mas afeta aproximadamente 13 milhões de cidadãos; e, para piorar, a fome alcançou mais de 19 milhões de pessoas — sendo que 116 milhões de brasileiros vivem, atualmente, em situação de insegurança alimentar.


Além disso, a pandemia voltou a assustar com a cepa ômicron, que fez com que as capitais dos estados brasileiros cancelassem as festas de réveillon, assim como vários países — a Holanda, por exemplo, entrou em lockdown para a virada do ano. Mais: 2021 fechou com o governo federal mais uma vez negando as evidências de que vacinas salvam vidas e colocando dificuldades injustificáveis para a imunização de crianças entre 5 e 11 anos. Para piorar, as chuvas que devastaram várias cidades da Bahia ameaçam se estender, nas próximas horas, para estados vizinhos do Sudeste e do Centro-Oeste. Apesar disso, o presidente Jair Bolsonaro diverte-se em Santa Catarina com passeios de jet ski, jantares, visita à loja de um empresário que o apoia e manobras radicais ao volante de um carro no parque Beto Carrero.


Ufa!, são muitos fatos a reforçar a percepção negativa de 2021. OK, mas é preciso virar a página. E o que esperar deste ano que começa?


A pesquisa Global Advisor Predictions 2022, feita pelo Instituto Ipsos no Brasil e em outros 32 países, aponta que a chegada do novo ano traz esperanças para 82% dos entrevistados, que dizem crer que será melhor do que o anterior. A mesma proporção de participantes da sondagem afirma que pretende traçar resoluções e objetivos para 2022.


Fernanda Dias Medeiros, correspondente bancária de 29 anos, espera entrar no novo ano com mais esperança de ter uma jornada mais tranquila e com possibilidade de enxergar as coisas com otimismo. “Para 2022, a esperança é de um ano totalmente diferente, que seja bom em todos os aspectos da nossa vida: financeiro, amoroso, familiar e mental, principalmente”, diz, acreditando em um novo “recomeço”.


Também correspondente bancária, Amanda Rodrigues, de 20 anos, não tem tanto ressentimento assim de 2021 — “não foi ruim, foi de aprendizado”. “Espero que 2022 seja um ano muito próspero e que se possa conquistar tudo que não se conquistou no ano que passou”, acredita.


A expectativa, porém, não é positiva na visão de todos. Levantamento do Datafolha, realizado em dezembro, mostra que 20% da população acredita que a situação econômica deve piorar, e 35% acha que ficará como está.


Priscila Mariana Santos, estudante de pedagogia de 21 anos, mantém os pés no chão em relação a 2022. “É sobreviver, não? 2021 ficou marcado por epidemias, gripes e doenças. Acho que o que mais quero para 2022 é sobreviver mesmo. Espero que a gente consiga”, enfatiza.


Céu encoberto

Embora a visão de parte da população seja de otimismo e esperança, as previsões feitas por especialistas não indicam melhora significativa na situação do país, sobretudo no aspecto econômico. “De um modo geral, as estimativas para o crescimento econômico do Brasil, em 2022, são pífias. Esse otimismo da população, creio ser exagerado”, avalia o professor de Economia do Trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Giácomo Balbinotto. “Temos piora na renda disponível em função da aceleração da inflação, elevação da taxa de juros, diminuição no poder de compra do consumidor e efeitos contracionistas na indústria de transformação, na formação bruta de capital e na construção civil”, enumera.


De acordo com Balbinotto, fatores que também não contribuem para esse otimismo são a elevada taxa de desemprego — em 12,1% —, além de baixo crescimento da massa salarial. A renda média do trabalhador brasileiro está, atualmente, no menor patamar dos últimos 10 anos, em R$ 2.449.


Na avaliação do economista, 2022 será “um período de grandes dificuldades” para a empregabilidade. Balbinotto aponta que os maiores desafios serão enfrentados por pessoas com menor nível de escolaridade e especialização e por jovens que estão em busca de espaço no mercado, algo para ele “preocupante”. “Outro ponto importante é que 2022 será de grandes incertezas por ser um ano eleitoral. A polarização que se espera entre as diversas propostas do governo cria um ambiente, para o empresariado e para o investimento, bem complicado. Há também restrições à contratação de funcionários públicos em período pré-eleitoral, o que deverá reduzir os empregos no setor público”, salienta.


A perspectiva coloca em xeque a esperança de Renata Souza, de 32 anos, que almeja mais vagas de trabalho em 2022. “Espero que melhore a qualidade de vida do brasiliense”, projeta. Melhorias no transporte público e nas condições de moradia também estão na lista de desejos da vendedora.


O economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que dois fatores foram fundamentais para a queda da renda média do brasileiro em 2021. “Primeiro, foi a aceleração da inflação, que começou o ano em torno de 4% e fechou acima de 10%. Isso corrói o poder de compra dos salários e leva à queda de renda”, explica.


O IBGE estima o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2021 em 10,42%, o maior desde 2015, que foi 10,71%. Oreiro aponta que a subida do preço dos itens básicos pressionaram a inflação: “É uma inflação de custos, principalmente devido à energia elétrica, aos combustíveis e aos alimentos. Por isso que, junto com o problema da estrutura de emprego, existe essa sensação de empobrecimento geral”, observa.


Outro motivo que contribuiu para diminuição no poder de compra do brasileiro, aponta o economista, foi a “mudança negativa na estrutura de emprego em 2021”. Oreiro diz que, embora o país tenha recuperado parte das vagas perdidas em 2020, esse avanço foi de má qualidade, em setores de baixa produtividade e que pagam salários modestos.


“Durante a pandemia, a gente percebeu que os segmentos que mais cresceram foram o informal e o autônomo, que têm baixa produtividade e pagam salário muito menor”, afirma.


Bolso cheio

Com todas as dificuldades atreladas à elevação das taxas de juros e da inflação, o salário fica mais escasso e ameaça complicar mais uma vez a vida dos brasileiros.


Para o analista de crédito Gustavo Dantas, 26 anos, dinheiro é prioridade no ano que se inicia “Acho que eu e a sociedade em geral precisamos de mais dinheiro em 2022. Ele não traz tudo, mas, sem dinheiro, não se faz nada. Com a inflação no nível que está, fica pior ainda”, lamenta.


Pesquisa do Datafolha mostra que 56% dos brasileiros apostam que sua situação financeira pessoal vai melhorar — maior índice desde abril, quando era de 56%. O otimismo é maior entre quem recebe até cinco salários mínimos. Segundo o levantamento, as finanças de 30% da parcela da população cuja faixa de renda está acima de 10 salários mínimos melhoraram em 2021.


Não é todo mundo que prioriza a questão financeira em 2022. É o caso de Jackson Pereira, açougueiro, 25 anos. Para ele, “dinheiro é bom e supre muitas necessidades, mas só isso não traz felicidade, alegria. O dinheiro compra a cama, mas não compra o sono”, filosofa. “Para 2022, quero dinheiro, felicidade, saúde e amigos. Hoje em dia, a gente precisa de tudo isso”, conclui.


Saúde x pandemia

Em dois anos de pandemia de covid-19, o país perdeu, até 30 de dezembro, aproximadamente 619 mil pessoas. As cenas de desespero nos hospitais ainda estão vivas na memória, assim como o corre-corre de parentes de pessoas infectadas com o novo coronavírus tentando encontrar balões de oxigênio na crise que assolou Manaus no começo de 2021. Os sepultamentos em massa, as milhares de covas abertas nos cemitérios, os velórios restritos a duas, três pessoas, as sequelas da doença — tudo isso faz muita gente querer apenas saúde para enfrentar a crise sanitária que não foi embora e, em alguns países, dá sinais de novo recrudescimento.


“Sem saúde a gente não tem nada”, ensina o militar Caio Alexandre Alves, 22 anos. Tainice Camelo, 21, concorda. Para a vendedora de trufas na Rodoviária do Plano Piloto, trabalho que encontrou para pagar a escola do filho pequeno, “se tiver mais saúde, vai ter mais dinheiro, vai ter mais emprego, vai ser melhor”. E ela amplia a lista de pedidos: “mais educação e mais dinheiro no bolso”.


A comerciante Deliane Macedo, 22, tem um desejo mais simples: que em 2022 haja mais empatia. “Queria que as pessoas fossem mais empáticas em 2022, que tivessem mais consideração um com o outro.”


Fonte: Correio Braziliense


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