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Pfizer e AstraZeneca demonstram menor atividade protetora contra ômicron

Foto: Myke Sena/MS

Duas das vacinas mais aplicadas contra a covid-19 — a da Pfizer e a da AstraZeneca — demonstraram menor atividade protetora contra a infecção pela variante ômicron em testes de laboratório. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de Oxford ao longo de um experimento em que expuseram o sangue de pessoas que receberam as duas doses dos imunizantes à mais recente cepa do novo coronavírus. A possibilidade de baixa eficácia dos fármacos diante da nova forma genética do Sars-CoV-2 tem sido cogitada por especialistas da área, incluindo os da Organização Mundial de Saúde (OMS), preocupados com um maior poder de disseminação do que o da cepa delta, predominante no mundo. Os resultados obtidos pelos britânicos fortalecem as suspeitas.


No estudo, publicado na plataforma de divulgação de pesquisas MedRxiv — portanto, não revisado por pares —, os especialistas usaram amostras sanguíneas de indivíduos que haviam completado o regime tradicional do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford em parceria com a empresa AstraZeneca ou o fármaco protetivo criado pelos laboratórios Pfizer e BioNTech. O material foi exposto à mais recente cepa do Sars-CoV-2, e a equipe observou uma diminuição substancial nos títulos de neutralização, um indicativo do nível de anticorpos produzidos pelo organismo para proteger o corpo contra o agente infeccioso.


Os pesquisadores explicam que os resultados indicam que a ômicron tem o potencial de causar uma nova onda de infecções mesmo em vacinados, mas ressaltam que mais pesquisas precisam ser feitas para esclarecer a questão, já que outras respostas imunes que fazem parte do sistema de defesa do corpo humano não foram avaliadas no estudo. “Esses dados são importantes, mas são apenas uma parte da imagem. Eles só examinam os anticorpos neutralizantes após a segunda dose, e não nos falam sobre a imunidade celular”, enfatiza Matthew Snape, professor de pediatria e vacinologia da universidade britânica e um dos autores do estudo, em um comunicado emitido pela instituição de ensino.


Atualmente, dizem os autores, não se pode afirmar que a nova cepa cause um aumento de infecções graves, hospitalizações ou mortes entre os imunizados. Ainda assim, o impacto da nova variante na assistência à saúde pode ser grande. “Embora não haja evidências de aumento do risco de doença aguda ou morte entre as populações vacinadas, devemos permanecer cautelosos, pois o maior número de casos ainda representará um fardo considerável para os sistemas de saúde”, alerta Snape.


O pesquisador também enfatiza a necessidade de avaliar o desempenho imune de indivíduos que receberam a dose de reforço. ‘É importante ressaltar que ainda não avaliamos o impacto de uma terceira dose, que, sabemos, aumenta significativamente as concentrações de anticorpos. É provável que isso levará a uma potência melhorada contra a ômicron”, afirma.


 


Vigilância

Independentemente dos resultados de novas investigações, a equipe chama a atenção para a importância de um monitoramento constante do novo coronavírus como medida para manter as fórmulas atualizadas. “Esses dados ajudarão aqueles que estão desenvolvendo imunizantes e também contribuirão na construção das estratégias de vacinação dos governantes, para que eles saibam qual é a melhor rota para proteger as populações”, justifica Gavin Screaton, chefe da Divisão de Ciências Médicas da Universidade de Oxford e principal autor do artigo.


Após a divulgação dos dados do estudo britânico, a OMS voltou a se posicionar quanto ao impacto da ômicron sobre a eficácia das vacinas e sobre sua capacidade de propagação. De acordo com a agência, os dados disponíveis até agora levam a acreditar que o perfil genético da nova cepa “reduz a eficácia em relação à proteção do contágio” dos imunizantes. A organização ressaltou que as evidências científicas vistas por seus especialistas são preliminares e que, até o momento, a ausência de mais informações impede afirmar se a taxa de transmissão da ômicron se deve ao fato de conseguir contornar a imunidade, porque suas características a tornarem mais transmissível ou se há uma combinação desses dois fatores.


Mais estudos

Para Thais Dias Rego, biomédica e professora do curso de biomedicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), os dados que têm surgido sobre a ômicron são relevantes, mas não suficientes para o entendimento mais substancial sobre a resposta das vacinas a essa variante. “Os anticorpos são importantes para defender o nosso organismo, mas temos uma série de outras células de defesa que ajudam nessa proteção e que ainda não foram avaliadas. Apenas uma análise mais profunda poderá nos dar um cenário mais amplo. Sem contar que a proteção a casos graves, que é o mais importante, ao que tudo indica, continua com o uso dos imunizantes”, justifica.


Segundo a especialista, também é importante considerar a resposta da terceira dose contra a nova variante. “Nós sabemos que a dose de reforço aumenta bastante a quantidade de anticorpos, e essa é uma ótima saída para prevenir uma fuga da resposta imune”, afirma. “O importante é continuar o monitoramento e passar para a população essa importante mensagem: é necessário se vacinar e tomar os reforços necessários para se proteger contra a covid-19.” Teresa Lambe, professora de vacinologia da Universidade de Oxford e também autora do artigo, reforça o alerta: “Os dados de eficácia do mundo real nos mostram que as vacinas continuam a proteger contra doenças graves com variantes anteriores preocupantes. A melhor maneira de nos proteger é apostar nessa arma.”


Fonte: Correio Braziliense


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