O pastor Sérgio Amaral Brito sendo preso por suspeita de estupro de vulnerável e posse sexual mediante fraude.
Após ouvir cinco vítimas que contam ter sido abusadas pelo pastor Sérgio Amaral Brito, de 59 anos, o delegado Ângelo Lages, da 66ª DP (Piabetá), afirma que mais duas, uma menina de 12 anos e outra de 35, apareceram na delegacia no sábado, dia 18, acusando o suspeito do crime. O depoimento delas foi agendado para esta segunda-feira, dia 20. Sérgio, que dava atendimento como psicanalista, sexólogo e terapeuta em um consultório de Piabetá, em Magé, na Baixada Fluminense, e é investigado por estupro de vulnerável e posse sexual mediante fraude, teve a prisão decretada e foi detido na quinta-feira.
— Ele foi transferido para Benfica e permanecerá preso por 30 dias. Vamos ouvir as novas vítimas tendo esse prazo de um mês para concluir o inquérito. De acordo com o depoimento de uma das vítimas, ele pedia para ela fechar os olhos, parecia até as histórias do caso João de Deus, e ele começava a despi-la e a mexer no corpo dela, valendo-se de sua credibilidade pelo fato de ser pastor e de já ter feito outros atendimentos. Essa vítima disse que os abusos foram se intensificando e ela começou a estranhar, até que abriu os olhos e o viu apenas de cueca. Isso ficou, então, caracterizado como violação sexual mediante fraude, porque ele se utilizou dessa estratégia ardilosa — explica o delegado Ângelo Lages.
Relembre o caso
Cinco mulheres denunciaram à Polícia Civil o pastor Sérgio Amaral Brito, revelando que o religioso oferecia um abraço terapêutico para esfregar seu corpo nelas durante os atendimentos em seu consultório. Segundo elas, o homem dizia que suas técnicas teriam sido aprendidas no exterior. Uma das vítimas contou que o suspeito pediu a seus pais que orassem por ele, para que não cometesse mais esses atos durante o procedimento.
De acordo com declarações colhidas pelos investigadores da 66ª DP (Piabetá), Sérgio chegava a pedir que as vítimas afirmassem em sua presença que eram “gostosas”. Ele dizia que isso ajudaria as pacientes a melhorar a autoestima.
No processo terapêutico do investigado, as mulheres deveriam levar fotos de roupas íntimas ou uma lingerie para ser vestida e exibida a ele, no próprio consultório. Foi o que aconteceu com uma comerciante, vítima do religioso durante uma consulta em 2013, aos 27 anos.
Ela prestou depoimento anteontem e concordou em falar sobre o caso, sem ser identificada. A mulher contou ter procurado a polícia depois de saber da existência de outras vítimas. Ela e mais quatro mulheres, que também teriam sido abusadas pelo pastor, criaram um grupo de WhatsApp com a intenção de incentivar que outras jovens também façam denúncias sobre abusos sexuais cometidos por ele.
— Há três semanas, uma amiga me contou que a irmã foi abusada por ele (pelo pastor) no consultório. Me toquei de que havia acontecido a mesma coisa comigo e resolvi procurar a polícia — diz a vítima, lembrando: — Eu estava com problemas de depressão e procurei um psiquiatra na época. Naquela ocasião, ele me pediu para procurar um psicanalista. Acabei indo ao consultório do Sérgio, que ficava no mesmo prédio da clínica que eu frequentava. Estava muito fragilizada e cheguei lá chorando muito. Ele demonstrou ser muito afetuoso neste primeiro atendimento. Na terceira consulta, disse que me daria um abraço terapêutico e se esfregou na altura dos meus seios. Depois, esfregou o corpo todo. Estranhei muito aquilo.
A vítima contou ainda que Sérgio, depois, pediu fotos em que ela aparecia seminua:
— Ele pediu para que eu levasse para ele fotos minhas de calcinha e sutiã. Disse que, se eu preferisse, poderia levar uma lingerie na próxima consulta e mostrar em meu corpo. Eu respondi que não faria aquilo, e ele me chamou de rebelde. Fui embora dali. Depois, procurei outro terapeuta, contei o que havia acontecido e perguntei se aquilo era normal. Ele disse que nunca havia visto nada igual. Eu me senti suja e impotente diante de tudo o que aconteceu. Eu e outras quatro meninas que foram abusadas criamos um grupo nas redes sociais para receber denúncias de outros abusos. É uma forma de ajudar.
De acordo com a polícia, as cinco vítimas já ouvidas têm um perfil semelhante. Todas são morenas, de cabelos longos, e relataram ter sido abusadas quando tinham entre 16 e 27 anos.
Uma das vítimas relatou aos pais ter sido hipnotizada e abusada por Sérgio. Eles chegaram a se reunir com o religioso, que teria justificado o ato como sendo uma nova técnica de tratamento que ele havia trazido do exterior. Na mesma ocasião, o suspeito teria solicitado que os responsáveis da paciente o acompanhassem em uma oração para que ele não voltasse a fazer tal procedimento.