SÃO PAULO — Com atuação na região central de São Paulo, área que concentra diversos problemas, entre eles a cracolândia, o padre Júlio Lancellotti é o responsável pela divulgação de atos hostis aos pobres e pela popularização do termo aporofobia nas redes sociais. Para ele, a agressividade contra os moradores de rua serve para esconder o fato de que os programas sociais não funcionam.
O sentimento de ódio ao pobre sempre existiu ou é novo?
Sempre existiu, mas aumenta na proporção em que aumenta a população de rua. Na Europa, eclodiu com o movimento dos refugiados e o termo foi cunhado pela filósofa Adela Cortina. É importante nominar um fenômeno que tem sido muito vivenciado aqui.
Prefeituras voltam atrás quando o senhor denuncia a aporofobia?
Algumas sim, outras não. O fato é que a denúncia causa incômodo e muitos fazem até nota para se explicar. Mas o grande número de casos mostra que há uma epidemia de hostilidade e de criminalização da pobreza. Os obstáculos arquitetônicos e essas campanhas são agressivas, mas no fundo elas escondem que os programas assistenciais não funcionam. Uma cidade acaba mandando os moradores de rua para outra. Não se luta contra a pobreza, se criminaliza o pobre.
Como o sr. vê campanhas contra a esmola?
Se pedir esmola fosse rentável teria muita gente vivendo disso. Essas campanhas colocam o foco nas pessoas que moram nas ruas, não no problema que fez com que ela fosse para a rua. Estamos com desemprego altíssimo, inflação de dois dígitos, inadimplência de aluguel altíssima. É um conjunto de coisas que causa o empobrecimento acelerado. O Brasil é um país com desigualdade social aguda e é preciso proteção social para solucionar esse problema.